Ajuda na reta final da desinflação
Luiza Eiterer
Ajuda na reta final da desinflação


Os últimos dados do IPCA-15, a chamada prévia da inflação oficial, jogaram um balde de água fria na expectativa daqueles que apostavam em uma aceleração da queda das taxas de juros no Brasil nos próximos meses. O que se fala agora é sobre uma redução do ritmo de cortes, ainda que alguns analistas resistam a rever não apenas o ritmo, mas a extensão do ciclo de cortes.


Como tenho argumentado  nesta coluna e nas minhas redes sociais , acho cada vez menos provável que tenhamos uma inflação abaixo de 4% neste ano, o que tem implicações na política monetária e em diversas decisões dos agentes. Sabemos, inclusive, que a  expectativa dos consumidores tem se mantido acima das projeções medianas coletadas pelo Banco Central semanalmente.

O que poderia ser feito nessa reta final da convergência da inflação para a meta?

Investidas monetárias parecem contraproducentes. Mas há evidências de que a política fiscal poderia ajudar. No trabalho para discussão intitulado “Can Fiscal Consolidation Announcements Help Anchor Inflation Expectations?” , Antonio David, Samuel Pienknagura e Juan Yepez utilizam uma base de dados sobre anúncios de consolidações fiscais para verificar se há efeito nas expectativas de inflação. Eles encontram que as expectativas de médio prazo (e não as de curto prazo) são impactadas. Obviamente, o efeito depende de outras características, como, por exemplo, a força do arcabouço monetário e o encadeamento da política monetária e a política fiscal.

Dada a  importância da sustentabilidade fiscal e a trajetória das contas públicas, seria muito bem-vindo um conjunto de anúncios que, de maneira socialmente responsável, mostrasse o reforço do compromisso do governo com a dinâmica fiscal. Além de outros efeitos benéficos na nossa economia, o Banco Central poderia ter a ajuda necessária na reta final da sua luta no processo de desinflação da economia brasileira pós-pandemia, já que parte da resistência da inflação pode vir do comportamento das expectativas, cuja ancoragem, de acordo com os resultados dos autores, está associada fortemente associada à política fiscal. Será que vem uma ajuda nessa reta final?

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