O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na semana passada a sua primeira estimativa para o PIB brasileiro de 2023. O crescimento da produção foi de 2,9% no acumulado do ano, frente ao mesmo período no ano anterior. Ao considerarmos que em 2022 esse número foi de 3%, temos dois anos consecutivos com taxas maiores do que muita gente imaginava para o desempenho para a economia brasileira. Temos, portanto, que celebrar o resultado, certo? Tenho minhas dúvidas.
Os dados de 2023 corroboram com a análise que fiz anteriormente sobre o comportamento do investimento no Brasil. Além disso, a reversão dos choques de oferta (que antes atrapalhavam a produção) ajuda a compreender como a agropecuária deu um “empurrãozinho” no PIB do ano passado. Mas, considerando a série encadeada do índice de volume trimestral com ajuste sazonal do PIB, podemos perceber que, em média, o Brasil cresceu 1,84% ao ano entre 2019-2023. Não parece grande coisa. Até porque não é. É mais ou menos a nossa “velocidade de cruzeiro”, já que temos uma dificuldade enorme de crescer, sistematicamente, a taxas maiores do que 2% ao ano durante vários períodos.
Para entender, eu proponho uma analogia: na pandemia, nós tomamos um tombo. Foi feio. Com mais ou menos dificuldade, nós levantamos. Se considerarmos do chão à posição em pé, a mudança foi grande. Mas crescer depois de tomar um tombo é mais fácil, porque é “só” levantar. Agora, nós precisamos voltar a andar com as próprias pernas. E é aí que mora o problema. A nossa musculatura foi construída após décadas de descaso com as questões estruturais de longo prazo. Não fomos à academia nem fizemos uma dieta adequada ao longo do tempo. Resultado, agora que passou a Covid, não estamos prontos para correr. No máximo, caminhar. E nessa velocidade, o aumento do padrão de vida demora muito para chegar. Enquanto não mudarmos o nosso comportamento e as nossas escolhas, só nos restará esperar. Só espero que não esperemos sentados.