Quem caminha pelo de São Paulo já se habituou a ver a fila de pessoas que sempre se
forma diante no número 21 da praça Padre Manoel da Nóbrega.

fila de trabalhadores
Ricardo Galuppo/Arquivo pessoal
Fila na Praça Padre Manoel da Nóbrega, região central da cidade de São Paulo

São trabalhadores que estão ali para protocolar junto a um certo Sindeepres uma carta em que negam autorização para o desconto de 2% sobre seus vencimentos. Trata-se de uma dessas aberrações que só existem em países atrasados.

Em qualquer país sério, a associação ao sindicato é uma escolha pessoal do trabalhador. Se ele não for sindicalizado, não precisa contribuir com um centavo para qualquer associação de classe. No Brasil não é assim.

Mesmo depois da revogação da cláusula da CLT que tungava um dia do salário dos trabalhadores, mesmo os não sindicalizados, para garantir a boa vida aos sindicalistas que diziam zelar pelos interesses da categoria, o que não falta é entidade picareta encontrando um jeito de tirar dinheiro de suas bases.

O nome completo do Sindeepres já dá uma pista de quem são as vítimas de sua esperteza. Trata-se do Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros, Colocação e Administração de Mão de Obra, Trabalho Temporário, Leitura de Medidores e Entrega de Avisos do Estado de São Paulo.

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São, como se percebe, atividades pouco valorizadas e procuradas por pessoas que, sem emprego regular, buscam um trabalho temporário para conseguir dinheiro para pagar as contas.

Nesta época do ano, em que a proximidade do Natal faz subir o número de contratações temporárias, a instituição faz a farra! Muita gente só fica sabendo do desconto no momento em que recebe o primeiro pagamento e, então, descobre que precisa entregar a tal carta.

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Indício de má-fé

A história desse desconto mostra como as decisões lesivas a quem trabalha são tomadas no Brasil.

Numa “assembleia” convocada sabe-se lá como, o tal sindicato aprovou a inclusão na “convenção coletiva” da categoria a cláusula que lhe dá o direito de fazer o desconto automático em folha. Esses 2% podem parecer uma ninharia. Quem conseguiu um emprego de R$ 1.500 terá um desconto de R$ 30.

Esse, talvez, seja o principal indício da má-fé do Sindeepres: por se tratar de um valor
aparentemente baixo, os bravos e combativos sindicalistas talvez tenham imaginado que
as pessoas não se dariam ao trabalho de reclamar e deixariam por isso mesmo.

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Não é o que se vê pelo tamanho das filas que, faça chuva ou faça sol, se formam diante da sede

do sindicato. Não é, como se sabe, um caso isolado. De acordo com os dados da Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia, existem no Brasil nada menos do que 11.257 sindicatos de trabalhadores.

Pelo lado dos empresários são 5.174. Se forem incluídas as associações de funcionários públicos, as federações e confederações, as centrais sindicais e outras entidades abrigadas na
legislação, o número supera 17 mil entidades .

Numa conta rápida, percebe-se que a quantidade de presidentes de sindicatos, no Brasil, supera em mais de três vezes o número de prefeitos . Em tempo: o Brasil, que tem 5570 municípios.

Se colar, colou

deputados vincentinho e delegado waldir
Arquivo
Políticos como Vicente Paulo da Silva (Vincentinho) e Delegado Waldir iniciaram suas carreiras políticas no movimento sindical

Algumas dessas entidades, tanto pelo lado dos trabalhadores quanto pelo dos patrões , são sérias e cumprem o papel que lhes cabe na garantia do equilíbrio da relação entre patrões e empregados. Goste-se ou não deles, um número considerável de políticos brasileiros devem suas eleições à militância sindical.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado paulista Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, e o senador pela Bahia Jacques Wagner, todos do PT, são egressos do movimento sindical.

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Os deputados Paulinho da Força (Solidariedade), Delegado Waldir (PSL) e Roberto de Lucena

(Podemos), também. Se foram eleitos foi porque conseguiram se apoiar na  representação que conseguiram junto a suas categorias e fazer dela o trampolim que lhes garantiu os mandatos que conquistaram.

O mais comum, no entanto, é que os líderes dessas entidades tenham uma projeção pública proporcional à importância de seus sindicatos . Muitos deles, na prática, não têm razão de existir e servem apenas para lucrar às custas do suor alheio.

Atenção: isso não acontece apenas com os sindicatos de trabalhadores. O lado patronal também está repleto de casos estranhos. Experimente, por exemplo, abrir uma pessoa jurídica — que, em muitos casos, foi a solução encontrada por milhares de pessoas para se manter em atividade em meio à crise que o país atravessa.

Basta o registro ser feito na Junta Comercial para o novo empresário passar a receber boletos e mais boletos, emitidos por sindicatos e associações patronais que, a rigor, são tão inúteis quanto certas entidades de trabalhadores.

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A maioria dessas cobranças não passam de tentativas de passar a perna nos novatos que estreiam na vida empresarial. Ou, em outras palavras, de um golpe que funciona na base do “se colar, colou”.

Sem fiscalização

Por qualquer ângulo que se observe, o número de sindicatos no Brasil é exagerado. Levantamentos feitos por quem estuda o assunto mostram a distância quilométrica que separa o Brasil dos outros países nesse quesito.

No Reino Unido inteiro, são 168 entidades. Na Dinamarca, 164. Mesmo em países tão problemáticos quanto o Brasil, como é o caso da Argentina, onde o numero não chega a 100, a quantidade é infinitamente menor. Toda a estrutura sindical somada tem um peso assustador nas contas do país.

Uma decisão aprovada durante o governo do ex-presidente Lula transformou as assembleias das categorias na única instância de fiscalização e de aprovação das contas dos sindicatos de trabalhadores.

Mesmo quando as entidades eram alimentadas por  dinheiro público , por meio do Imposto Sindical, podiam gastar o dinheiro como bem entendessem e ninguém tinha o direito de reclamar. Não se trata de qualquer implicância contra o sindicalismo.

Trata-se apenas de chamar atenção para o absurdo dessa situação e mostrar que, no Brasil, não é apenas o Estado que precisa ser reformado .

Muitas instituições que hoje fazem parte da vida nacional, como é o caso desses sindicatos picaretas que proliferaram nos últimos anos, além de não contribuir para resolver problemas, ajuda a torna-los ainda mais graves.

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A propósito, se número de sindicatos fosse solução para alguma coisa, o Brasil não teria

mergulhado numa crise nas dimensões que enfrenta — com pessoas desempregadas por
toda parte e empresas quebrando uma atrás da outra.

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