Os sucessivos aumentos dos combustíveis e a falta de ingerência sobre a política de preços da Petrobras foram dois dos motivos que levaram a um desgaste na relação entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o agora ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
O almirante foi exonerado do cargo nesta quarta-feira (11), em publicação no Diário Oficial da União.
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Em seu lugar, assume o economista Adolfo Sachsida, secretário especial do Ministério da Economia e um dos homens de confiança do ministro Paulo Guedes.
Oficialmente, assessores de Bento Albuquerque dizem que ele pediu demissão. Mas assessores do Planalto afirmam que Bolsonaro teria se irritado com o anúncio de mais um reajuste no preço do diesel pela Petrobras. Nesta semana, a estatal aumentou em 8,87% o valor do litro do combustível nas refinarias.
Com a mudança, o preço médio do diesel para as distribuidoras passou de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro. O aumento desagrada, sobretudo, caminhoneiros autônomos, uma das bases eleitorais do presidente, que tenta a reeleição neste ano.
Segundo fontes da Folha de S. Paulo, Jair Bolsonaro teria se reunido com o ministro nesta terça-feira, e Bento resistiu a qualquer proposta de intervenção na política de preços da Petrobras. Irritado, Bolsonaro demitiu ele.
A relação entre os dois já vinha esfriando há um tempo, mas ficou ainda pior em abril, quando Bento Albuquerque aceitou – a pedido do presidente – retirar o general Joaquim Silva e Luna do comando da petroleira.
O então ministro decidiu indicar o economista Adriano Pires para o cargo, mas o nome acabou barrado pela política de recrutamento da empresa. A nomeação poderia indicar conflito de interesses, já que o economista atende empresas ligadas ao ramo.
Bolsonaro responsabilizou Bento não só pela malsucedida indicação de Pires, mas também pelo adiamento da assembleia que iria definir o nome do presidente da Petrobras e que acabou mudando a composição da diretoria da companhia.
Bento Albuquerque sugeriu então o nome de José Mauro Coelho, que já fazia parte do conselho de administração da empresa e, por isso, seria mais facilmente aprovado como presidente dela.
O problema é que, logo após a nomeação, Coelho reforçou o compromisso com a política de preços da Petrobras e sinalizou que não cederia à pressão do Planalto pelo controle dos reajustes.
O primeiro ataque de Bolsonaro contra ele aconteceu já neste mês. Em sua live semanal no último dia 6, o presidente criticou o lucro recorde da Petrobras no primeiro trimestre de 2022, de R$ 44,6 bilhões.
Jair Bolsonaro disse que os elevados lucros da Petrobras são um "estupro" e que um novo reajuste nos preços dos combustíveis pode quebrar o país.
Pesquisa recente do Datafolha revelou que 68% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro tem culpa pela alta dos combustíveis. E uma do Ipesp mostrou que 83% preferem votar em um candidato mais intervencionista na Petrobras.
Bento Albuquerque também resistia a projeto de gasoduto do Centrão
O ex-ministro de Minas e Energia também resistia a um projeto bilionário que previa a construção de gasodutos pelo país. A proposta, em curso no Congresso e capitaneada principalmente por partidos do Centrão, é polêmica por beneficiar diretamente o empresário Carlos Suarez, conhecido como o 'rei do gás'.
Ele e os sócios são hoje os únicos autorizados a distribuir gás em oito estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. Suarez possui ainda autorizações para construção de redes de gasodutos. E é aí que entra o projeto em tramitação no Congresso.
A ideia do Centrão é incluir um 'jabuti' — emendas sem relação com a matéria em tramitação — para retirar R$ 100 bilhões da exploração do pré-sal que iriam para o Tesouro Nacional e direcioná-los para essas obras.
Bento Albuquerque era contra à ideia e negociava uma regra para garantir que a construção do gasoduto estaria condicionada a valores e condições de mercado e que apenas andaria com o aval do Ministério das Minas e Energia.
Essa resistência também pode ter contribuído para a saída do almirante da pasta.