Motoristas e entregadores de aplicativos realizam paralisação geral nesta terça-feira (29). Mobilizações estão previstas para acontecer no Rio de Janeiro (RJ), Volta Redonda (RJ), São Paulo (SP), Santos (SP), Belo Horizonte (MG), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA), Recife (PE), Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR). A greve mira as grandes plataformas de transporte e delivery, como Uber, 99, iFood e Rappi.
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Entre as reivindicações dos trabalhadores estão, segundo lideranças do movimento:
- Fixar a porcentagem que a Uber recebe por corrida em 20%;
- Corrida mínima no valor de R$ 10;
- Reajustar o valor do km rodado para todas as categorias: Uber X (R$ 2), Comfort (R$ 2,40) e Black (R$ 3,20);
- Pagamento do tempo em corrida a R$ 0,20 o minuto;
- Pagar o deslocamento até o passageiro;
- Mostrar o local de destino com informações mais específicas;
- Contato direto com o suporte por telefone;
- Bolsões em aeroportos, inclusive em áreas de embarque e desembarque;
- Volta do multiplicador antigo da Uber;
- Melhorar os incentivos para motoristas com melhor pontuação;
- Câmeras em todos os carros de motoristas mulheres;
- Fim do preço fixo;
- Detalhamento de valores de todas as categorias de corridas.
Em São Paulo, o encontro será na sede da Uber, no Parque Industrial Tomas Edson, na Zona Oeste da cidade. No Rio de Janeiro, os profissionais se concentrarão no Aeroporto Santos Dumont, e de lá, seguem para o escritório da empresa de transporte, na Avenida Presidente Vargas, principal via de acesso ao Centro da capital fluminense.
"A gente já passou essa informação para todos os estados, que é para não ligar o aplicativo", afirma o presidente do Sindicato dos Prestadores de Serviços Por Meio de Apps e Software para Dispositivos Eletrônicos do Rio de Janeiro e Região Metropolitana (SindMobi), Luiz Corrêa.
Os profissionais também pedem reajuste nos repasses das tarifas e protestam contra os sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis. No último dia 11, a Petrobras elevou em 18,7% o litro da gasolina, e em 24,9% o litro do diesel. Na ocasião, a estatal também subiu em 16% o preço do GLP (gás liquefeito de petróleo).
No Rio, os motoristas já tinham que lidar com a alta de até 11% do GNV, gás usado para abastecer veículos. Os preços foram reajustados pela Naturgy em fevereiro após autorização da Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa). O aumento previsto anteriormente era de 50%, mas foi barrado pela Justiça.
"As empresas aumentaram as corridas para os passageiros e diminuíram os ganhos dos motoristas. Por conta dos aumentos sucessivos dos combustíveis, esse trabalho está ficando inviável para esses profissionais. Então, o que a gente quer é que as empresas realmente tragam um reajuste que venha ajudar esse profissional na ponta, porque se isso não acontecer, o serviço vai entrar em colapso", comenta Corrêa.
Outro líder da paralisação, o secretário-geral da Associação de Profissionais por Aplicativo (APP), Livio de Andrade Luna da Silva, pede que os trabalhadores que não participarem dos atos contribuam com a causa deixando de trabalhar nesta terça.
"Queria convidar todo mundo, seja motorista ou entregador, a não abrir o aplicativo, a não trabalhar hoje. Quem não quiser manifestar com a gente, fique em casa, com a família, tire o dia para descansar, mas não trabalhe. Usuários de aplicativos podem ajudar também não pedindo comida, não pedindo transporte, não pedindo entrega por moto, por carro, o que seja, e dessa forma, ajudar a desmobilizar os aplicativos", diz.
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Neste mês, uma pesquisa vinculada à Universidade de Oxford, da Inglaterra, revelou que motoristas e entregadores de apps no Brasil recebem menos do que um salário mínimo, R$ 1.212, por mês ou R$ 5,50 por hora.
Apagão dos apps
A partir desta sexta (1º), entregadores de aplicativos também devem parar. Desde julho do ano passado, a categoria articula o movimento "Apagão dos Apps", que ganhou uma nova data neste mês.
Além de pedir por uma taxa mínima de R$ 10 e protestar contra o aumento dos combustíveis, eles também se queixam da "precarização do trabalho" e querem boicote às plataformas de delivery, como iFood e Rappi.
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Pelas redes sociais, os manifestantes apelam por apoio dos usuários, também pedindo que não peçam comida ou transporte na data. Quem quiser ajudar, pode ainda usar a #ApagaoDosApps nas redes sociais.
A insatisfação tomou forma após um fórum realizado pelo iFood com 23 representantes dos entregadores em 14 cidades do país, entre os dias 13 e 15 de dezembro de 2021. Na ocasião, a empresa assinou uma carta-compromisso, na qual prometia atender algumas demandas da categoria.
O idealizador do Apagão dos Apps, Paulo Roberto da Silva Lima, o "Galo", do Movimento Entregadores Antifascistas, de São Paulo (SP), diz não ter sido convidado ao evento. Mas afirma que o iFood não cumpriu suas promessas.
"Aí surgiu a ideia de fazer essa manifestação no dia 1º de abril [dia da mentira], colocando o iFood como o 'pai da mentira'. E acabou que ela se estendeu também para os dias 2 e 3, mas a ideia original era ser o dia 1º", conta.
O que dizem as empresas
Questionado pela reportagem, o iFood diz que respeita o direito de manifestação e que mantém diálogo aberto com os entregadores para buscar melhorias.
Segundo a companhia, entre os resultados dessa troca, está o reajuste de 50% do valor mínimo por quilômetro rodado (R$1 para R$ 1,50) e da taxa mínima (R$ 5,31 para R$6).
A Rappi também diz respeitar a manifestação pacífica e que, de junho de 2021 a fevereiro de 2022, aumentou em 40% as tarifas repassadas aos entregadores independentes.
Já a Uber afirma, em nota, que lançou uma iniciativa global para ajudar a mitigar os custos dos motoristas com a mais recente alta dos combustíveis, provocada pela instabilidade no mercado internacional diante da guerra na Ucrânia.
Também informa que estão sendo realizadas ações especiais de desconto de 20% no abastecimento de gasolina, por meio de uma parceria com a rede Ipiranga e o app Abastece Aí. Acrescenta ainda que os preços das corridas intermediadas pela plataforma foi reajustado temporariamente em 6,5%.
Vale lembrar que o Uber Eats, serviço de delivery de comida da Uber, encerrou as operações no Brasil no início deste mês.
Por fim, a 99 afirma ter lançado, no último dia 23, uma iniciativa que adiciona R$ 0,10 por quilômetro rodado pago aos motoristas para cada R$ 1 de aumento do combustível.
Quanto aos entregadores, a 99Food "reconhece e respeita o direito de livre manifestação e está sempre aberta ao diálogo, mantendo seu compromisso em construir novas soluções para os entregadores parceiros. Estamos atentos e monitorando os cenários, trabalhando para garantir a demanda e, assim, mais oportunidades de ganhos."