O mercado financeiro está se mostrando preocupado com as negociações da reforma da Previdência e as desavenças que têm sido protagonistas da política brasileira nos últimos dias. Após terminar o dia, na tarde desta quarta-feira (27) com o maior valor registrado desde outubro do ano passado, o dólar opera hoje em forte alta.
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Às 10h30 desta quinta-feira (28), o dólar comercial sobe 0,22%, sendo vendido a R$ 3,9635. O dólar turismo, por sua vez, está cotado a R$ 4,12. Logo na abertura da sessão, no entanto, o dólar comercial chegou a R$ 4,0156, cotação máxima do dia até o momento.
Ontem (27), a moeda americana fechou em alta de 2,27%, a R$ 3,9548. Essa foi a maior cotação registrada desde 1º de outubro de 2019, quando estava sendo vendida a R$ 4,0174.
No mesmo dia, a Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo) caiu 3,57%, aos 91.903 pontos, com a menor pontuação desde janeiro. Nesta quinta-feira (28), a Bolsa de Valores está operando em alta de 1,51%, a 93.290,781 pontos.
O aumento no valor da moeda é uma resposta do mercado financeiro às declarações dadas pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes , durante uma audiência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal ; à tramitação do projeto de reforma da Previdência , que parece estar parado e às últimas tensões no cenário político. Entenda:
Declarações de Guedes e a Previdência
Ontem (27), em conversa com senadores, Guedes voltou a defender a reforma e criticou as recentes tensões que tem abalado o início da tramitação do projeto. “Se fizermos a reforma, não tem problemas. Se não fizermos, vamos condenar nossos filhos e netos. Essa bola está com o Congresso. Fique a oposição atacando a reforma da Previdência um ano só e depois tente ser eleita e não conseguir governar. Ela deveria ajudar a atacar frontalmente o problema”, afirmou o ministro.
Ele acrescentou, ainda, que poderá deixar o cargo de ministro da Economia caso sua agenda econômica não seja bem aceita. '"Se o presidente apoiar as coisas que eu acho que podem resolver o Brasil, eu estarei aqui", disse. '"gora se o presidente, ou a Câmara, ou ninguém quer aquilo, eu voltarei para onde sempre estive. Eu tenho uma vida fora daqui. Eu venho para ajudar. Se o presidente não quer, se o Congresso não quer… vocês acham que vou brigar para ficar aqui? Estou aqui para servi-los”, continuou Guedes.
No dia anterior (26), o ministro desistiu de participar de uma audiência pública na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) que discutiria os caminhos da proposta. O cancelamento teria sido uma resposta a um possível boicote da reunião promovido por partidos opostiores. A CCJ é o primeiro orgão que deverá analisar a nova Previdência .
No lugar de Guedes , a equipe da Secretaria de Previdência e Trabalho foi enviada. Apesar disso, a CCJ resolveu cancelar a audiência e votar pela convocação obrigatória do ministro em uma próxima reunião, que deve acontecer até o dia 17 de abril .
PEC do Orçamento
Na noite de terça-feira (26), a Câmara dos Deputados aprovou, em dois turnos, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Orçamento Impositivo . Com isso, o governo federal passa a ser obrigado a a liberar a verba de emendas parlamentares para ações previstas para a execução das emendas coletivas de bancada. Ou seja, na prática, a medida reduz o controle do Executivo sobre o Orçamento, engessando seus gastos e obrigando o governo a executar todos os investimentos previstos.
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Em primeiro turno, a chamada PEC do Orçamento foi aprovada por 448 a 3 votos. No segundo turno, a aprovação teve um placar de 453 a 6. Agora, a proposta segue para o Senado Federal.
Rodrigo Maia x Bolsonaro
O mercado financeiro também tem visto com maus olhos a constante "troca de farpas" entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e a família e o próprio presidente Jair Bolsonaro (PSL). Durante a discussão, que aconteceu à distância e acontece já há alguns dias, Maia chegou a ameaçar deixar a articulação da Previdência .
Ontem, o presidente da Câmara chegou a dizer que Bolsonaro estaria "brincando de presidir"
. "Abalados estão os brasileiros, que estão esperando desde 1º de janeiro que o governo comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza, capacidade de investimento do Estado brasileiro diminuindo, 60 mil homicídios e o presidente brincando de presidir o Brasil", declarou.
Depois de ver a repecussão do problema no mercado financeiro, com a forte queda da Bolsa de Valores registrada ontem (27) e a alta do dólar, Maia pediu a Bolsonaro que as críticas acabem e que ambos possam governar o País da melhor forma.
Depois de ver a repecussão do problema no mercado financeiro, com a forte queda da Bolsa de Valores registrada ontem (27) e a alta do dólar , Maia pediu a Bolsonaro que as críticas acabem e que ambos possam governar o País da melhor forma. "Pare, chega. Peço ao presidente Bolsonaro que pare de criticar e que peça ao entorno para parar de criticar. A bolsa está caindo, a expectativa dos investidores está ficando menor. Então, ninguém ganha com isso e só o Brasil perde. Chega. Está na hora de parar. Vamos cuidar do Brasil", disse.
Em resposta, Bolsonaro mandou um abraço para Maia: "Para mim, isso foi uma chuva de verão. O sol está lindo e o Brasil está acima de nós. [...] Da minha parte não tem problema nenhum. Vamos em frente. Página virada. Um abraço para o Rodrigo Maia. O Brasil está acima de tudo. Vamos em frente. Acontece. É uma chuva de verão. Outros problemas acontecerão com toda a certeza."