Os reflexos da crise econômica e as incertezas sobre o segundo turno das eleições, marcado para o próximo dia 28, acabaram impactando o humor do consumidor brasileiro. De agosto para setembro, o Indicador de Confiança do Consumidor ficou estável, passando de 42,4 para 41,9 pontos. Os dados foram divulgados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) nesta sexta-feira (19).
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O índice é composto por dois componentes: o Subindicador de Percepção do Cenário Atual, que chegou a 29,6 pontos em setembro, e o Subindicador de Expectativas, que alcançou 54,2 pontos. A escala do indicador varia de zero a 100; quanto maior o número, mais confiante está o consumidor brasileiro no período analisado.
De acordo com o levantamento, 82% dos entrevistados avaliam de forma negativa as condições atuais da economia, percentual que pouco se alterou em relação a setembro do ano passado, quando estava em 81%. O desempenho é regular ou positivo para 14% e 2%, respectivamente, dos brasileiros que participaram do estudo.
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Para aqueles que avaliam o cenário econômico como ruim, as principais justificativas apontadas foram o desemprego elevado, lembrado por 68% dos entrevistados, o aumento dos preços (61%), mesmo com a inflação controlada, as altas taxas de juros (38%) e a desvalorização do real frente ao dólar (29%).
Desemprego
Além das eleições, outra variável que esclarece a má avaliação do momento atual é o desemprego: quase metade (47%) dos consumidores afirma que, entre as pessoas que vivem em sua casa, há pelo menos uma desempregada. Outros 34% dos que estão trabalhando têm um receio alto ou médio de ser demitido.
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Ainda segundo o levantamento, o que mais tem incomodado os brasileiros quanto às finanças é o custo de vida, citado por 51% dos entrevistados, seguido pelo desemprego (19%). Questionados sobre onde mais sentem o aumento dos preços, as contas de água e luz (89%) lideraram as menções. Nos supermercados e nos combustíveis, os percentuais foram de 87% e 86%, nesta ordem.
Para a economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti, a economia brasileira está se recuperando de forma gradual e o consumidor brasileiro ainda sente os reflexos da crise, por isso tem ficado mais cauteloso diante do processo eleitoral em curso. “Toda eleição traz incertezas, ainda mais em uma campanha marcada pelo imponderável como a atual", explica.
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Marcela também acredita que ainda há muitas dúvidas sobre como os candidatos à Presidência pretendem lidar com as reformas de que o país precisa, o que também pode explicar a estagnação do nível de confiança do consumidor. "Enquanto a recuperação econômica não se traduzir em queda do desemprego e crescimento real da renda, não haverá uma percepção de melhora do bem-estar", avalia.
Autoavaliação do consumidor
O levantamento da CNDL e do SPC também mostra que, quando se trata de responder sobre as próprias finanças, o número de consumidores insatisfeitos é menor do que quando se avalia a economia do Brasil como um todo. De acordo com a sondagem, 43% dos brasileiros enxergam sua situação atual como ruim ou péssima. Outros 45% a consideram regular e um percentual menor, de 11%, acredita que suas finanças vão bem.
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O custo de vida
elevado e o desemprego, mais uma vez, são as principais razões para que as pessoas considerem sua vida financeira ruim, e foram apontados por 57% e 34% dos entrevistados, respectivamente. Os participantes do estudo também mencionaram a queda da renda familiar (25%), imprevistos (13%) e a perda de controle financeiro (11%).
Perspectivas
O levantamento também procurou saber o que os brasileiros esperam do futuro da economia, considerando os próximos seis meses. Nesse caso, o estudo descobriu que 33% estão declaradamente pessimistas. Quando essa avaliação se restringe à vida financeira, no entanto, o volume de pessimistas cai para 10%. Os otimistas com a economia e com as finanças pessoais representam 19% e 55% da amostra, nesta ordem.
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Para justificar a percepção predominantemente pessimista com os próximos seis meses da economia, período que também engloba os primeiros meses do novo presidente, a corrupção e o desemprego se destacam como as principais causas do pessimismo, ambos citados por 48% dos entrevistados.
Já entre a parcela majoritária que manifesta otimismo com a própria vida financeira, a maior parte (32%) não sabe explicar as razões: apenas diz esperar que coisas boas devem acontecer. Além destes, 28% acreditam que irão conseguir um novo emprego e 22% alegam fazer uma boa gestão da vida financeira, o que proporciona mais tranquilidade com o futuro.
Metodologia
Segundo a CNDL e o SPC, foram entrevistados 800 consumidores a respeito de quatro questões principais: a avaliação dos entrevistados sobre o momento atual da economia; a avaliação sobre a própria vida financeira; a percepção sobre o futuro da economia; e a percepção sobre o futuro da própria vida financeira.
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O Indicador de Confiança do Consumidor e suas aberturas mostram que há confiança quando estiverem acima do nível neutro de 50 pontos. Quando o índice estiver abaixo de 50, como o registrado em setembro (41,9 pontos), indica falta de confiança do consumidor .