Nunca foi tão caro abastecer no Brasil. Depois de uma semana sem reajustes no preço da gasolina, a Petrobras anunciou nesta quarta-feira (12) um aumento de 1,02% no preço do combustível comercializado em suas refinarias. Isso signfica que a partir de amanhã (13), o litro da gasolina passará a custar R$ 2,2294, dois centavos a mais do que os R$ 2,2069 cobrados desde 5 de setembro .
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Dessa forma, no mês, o litro do combustível já subiu nove centavos, ou seja, 4,3% a mais do que custava no fim de agosto (R$ 2,1375) e bateu um novo recorde: nunca o preço da gasolina vendido nas refinarias foi tão caro.
Grande parte desse aumento se deve à nova política de preços da Petrobras
implementada na gestão do ex-presidente da companhia, Pedro Parente, em 3 de julho do ano passado, quando a petrolífera estatal decidiu passar a repassar as oscilações do preço da commoditie
no mercado externo para o mercado nacional.
Dessa vez, porém, a Petrobras decidiu não alterar o preço do diesel. No fim de agosto, a estatal já tinha anunciado alta média de 13,03% no litro de combustível vendido nas refinarias do País. Isso após três meses de preços congelados, depois que a Agência Nacional do Petróleo, do Gás Natural e dos Biocombustíveis (ANP) determinou os novos preços de comercialização do diesel dentro da política de subvenção ao combustível criada para dar fim à greve dos caminhoneiros.
A partir disso, a Petrobras definiu que o preço atual será mantida, pelo menos, até 29 de setembro.
Desde o início da nova metodologia, o preço da gasolina nas refinarias acumula alta de 69,62% e, o do diesel, valorização de 69,46%, o que vem desagradando muitos setores que dependem do transporte para realizar suas operações e os consumidores finais de maneira geral.
Isso porque, apesar do reajuste não ser feito direto na bomba de combustível, os donos de postos estão repassando o reajuste para os motoristas. Dessa forma, o preço médio do diesel e da gasolina, segundo a própria ANP, também subiu na semana passada.
Enquanto o diesel subiu 3,4%, indo de R$ 3,373 para R$ 3,489, o preço da gasolina teve alta de 1,8% apenas no recorte de sete dias da primeira semana de setembro e subiu de R$ 4,446 para R$ 4,525. Lembrando sempre que esses são valores médios para todo o País e que as variações são grande de região para região. Em São Paulo, por exemplo, já era possível ver postos comercializando combustível por mais de R$ 5 o litro.
Na tentativa de amenizar as críticas, a Petrobras anunciou uma flexibilização na sua política de preços que permitirá aumentar os intervalos de reajustes no preço da gasolina e do diesel nas refinarias em até 15 dias. Isso será feito a partir de um mecanismo de proteção financeira (conhecido como hedge) que dará a opção de mudar a frequência dos reajustes diários no mercado interno.
Repasse no preço da gasolina gera lucro recorde
Mas se a nova política de preços da Petrobras está sendo alvo de críticas por conta dos constantes reajustes repassados aos consumidores, ela também está sendo extremamente positiva para a própria empresa.
"Influenciado principalmente pelo aumento das cotações internacioanis do petróleo", disse seu presidente Ivan Monteiro, "associado à depreciação do real em relação ao dólar", a Petrobras anunciou um lucro recorde de R$ 10,07 bilhões no segundo trimestre de 2018.
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Esse resultado, além de ser o melhor obtido num trimestre desde 2011, também representa um crescimento de 45% em relação ao primeiro trimestre do ano, quando o lucro da estatal já tinha sido de outros R$ 6,96 bilhões.
Além disso, a empresa também comunicou que conseguiu reduzir o endividamento líquido em 13% quando comparado com o cenário de 2017, indo para US$ 73,66 bilhões, o menor desde 2012, graças à geração operacional e a entrada de caixa de US$ 5 bilhões com os desinvestimentos no semestre.
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Com isso, o novo valor devido pela Petrobras passou a corresponder a 3,23 vezes o lucro de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitida ajustado) – no fim de 2017, a proporção era de 3,67 e a meta da estatal é chegar em 2,5 – dessa forma a empresa também anunciou que iria antecipar pagamento de R$ 652 milhões aos seus acionistas.
O resultado extremamente positivo, portanto, foi muito comemorado pelo mercado financeiro, mas levantou muitas críticas de outros setores da sociedade. Isso porque, o lucro recorde da companhia aconteceu justamente no mesmo trimestre em que o Brasil atravessou a greve dos caminhoneiros que paralisou o País por 11 dias e gerou prejuízos para a economia nacional como um todo, transtornos para os cidadãos e uma tremenda dor de cabeça para o governo.
A greve, vale lembrar, tinha como principal pauta a revisão da política de preços dos combustíveis que a estatal implementou durante a gestão do ex-presidente Pedro Parente que pediu demissão em 1º de junho , logo após o fim da paralização.
A estratégia pensada pelo ex-presidente para reduzir a dívida e aumentar o lucro da Petrobras como vimos, comprova-se, deu certo para a companhia, mas cobrou seu preço da sociedade e não é exagero dizer que o governo também está tendo que pagar essa conta.
Isso porque quando os caminhoneiros, um das categorias mais afetadas pela alta dos combustíveis, resolveram não arcar com a alta dos preços sozinhos e entraram em greve, o governo teve que fazer um acordo para pôr fim à paralização que custará R$ 9,58 bilhões aos cofres públicos para dar o subsídio necessário para reduzir os R$ 0,46 prometidos aos caminhoneiros no preço do litro do diesel.
Esse valor corresponde a 11,5% do volume total estimado (R$ 83,3 bilhões) de subsídios destinados a outros setores para todo o ano de 2018.
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Porém, para que fosse possível cumprir essa promessa, além de queimar R$ 6,2 bilhões de reservas de contingências previstas na Proposta de Lei Orçamentária Anual para 2018 (PLN 20/17) para esse ano e reservas de capitalização de empresas públicas de R$ 2,1 bilhões, o governo teve ainda que cortar cerca de R$ 1,2 bilhão de investimentos no Sistema Público de Saúde (SUS), na reforma agrária e no policiamento de rodovias.
Tudo isso aconteceu em meio a um ano em que, apesar de bater recorde de arrecadação de impostos , o governo teve um déficit de R$ 14,42 bilhões nas contas públicas apenas no mês de junho e prevê um déficit primário de R$ 157 bilhões para 2018 e de R$ 139 bilhões para 2019.
Em relação ao desempenho, a companhia sustenta que a tendência positiva já vinha sendo registrada em trimestres anteriores, com um lucro operacional 18% superior ao do primeiro semestre de 2017, totalizando R$ 34,5 bilhões. Fatores como menores despesas gerais e administrativas e menores gastos com ociosidade de equipamentos contribuíram para o resultado.
Tudo isso levou o próprio diretor-geral da ANP, Décio Oddone, a admitir que o setor de óleo e gás do Brasil está diante de um momento inédito em sua história. Em evento realizado nesta quarta-feira, ele afirmou que "hoje, a Petrobras não funciona como um braço do governo. Ela busca maximizar o lucro do acionista. E isso é legítimo, mas exige um acompanhamento regulatório maior", antes de completar dizendo que "isso é inédito no Brasil e demanda da agência uma responsabilidade maior".
Oddone explicou que "o novo cenário faz com que o Brasil converse mais com o mercado global", mas que isso coloca o Brasil numa "encruzilhada inquietante". O diretor-geral afirmou que "é preciso respeitar o mercado, ter transparência na formação de preços, aumentar a competitividade do mercado", mas admitiu que apesar da nova política de preços da Petrobras livrar o setor de critério políticos, ela também gera incertezas em relação ao planejamento de investimentos tanto pela Petrobras quanto pelas demais empresas do setor.
Isso porque o novo cenário desenhado por Oddone consiste na quebra do monopólio da Petrobras e o reposicionamento da estatal, que reduziu seu volume de investimentos e passou por uma onda de venda de ativos nos últimos anos, vendendo refinarias e até campos de petróleo que foram adquiridos anteriormente e agora estão sendo repassados à iniciativa privada.
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A Petrobras, no entanto, se esquiva das críticas sobre a política de reajustes do preço da gasolina e dos demais combustíveis afirmando que a companhia sustenta uma tendência positiva que já vinha sendo registrada em trimestres anteriores, com um lucro operacional 18% superior ao do primeiro semestre de 2017, totalizando R$ 34,5 bilhões. O que teria ocorrido graças a fatores como menores despesas gerais e administrativas e menores gastos com ociosidade de equipamentos que contribuíram para o resultado.
*Com informações da Agência Brasil