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Pedro Parente pediu demissão da presidência da Petrobras na manhã desta sexta-feira (1), após críticas à política de preços da estatal durante a greve dos caminhoneiros
Marcos Corrêa/PR - 21.12.17
Pedro Parente pediu demissão da presidência da Petrobras na manhã desta sexta-feira (1), após críticas à política de preços da estatal durante a greve dos caminhoneiros

O presidente da Petrobras , Pedro Parente , pediu demissão na manhã desta sexta-feira (1º) ao presidente da República, Michel Temer , em reunião no Palácio do Planalto. A decisão ocorre após os 11 dias de greve dos caminhoneiros que tinha entre as principais pautas a mudança na política de preços dos combustíveis que a estatal implementou durante a gestão de Parente.

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Logo depois do agora ex-presidente entregar a carta de demissão a Temer, a Petrobras enviou um comunicado ao mercado onde informa que o Conselho de Administração da empresa irá "indicar um CEO interino ao longo do dia de hoje" que deverá ocupar a posição até que o governo federal indique um novo nome definitivo para a função e que "não haverá qualquer outra alteração na composição dos demais membros da diretoria executiva."

Os motivos de Parente

Sobre os motivos que levaram Parente a pedir demissão do cargo que ocupava há exatos dois anos, especula-se que eventuais interferências do governo na política da estatal foram decisivas.

Ficou claro que minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir com as alternativas que o governo tem pela frente", Pedro Parente, ex-presidente da Petrobras

Dessa forma, o mercado está interpretando que a demissão de Parente é um sinal de que a o presidente Michel Temer deverá indicar para o seu cargo alguém com um perfil que defenda uma flexibilização maior da política de preços da Petrobras, algo que Parente negou durante toda a greve dos caminhoneiros e seguir defendendo até mesmo no seu pedido de demissão, quando disse que "poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País."

Na mesma carta, Parente também admite que tem "refletido muito sobre tudo o que aconteceu" durante a greve e afirma que, para ele, "está claro que novas discussões serão necessárias".

Sendo assim, o agora ex-presidente da Petrobras revela que "diante desse quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir com as alternativas que o governo tem pela frente."Pouco depois, Parente reforça: "Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas."

Os impactos na Petrobras

Ações da Petrobras acumularam forte queda ao longo do dia em que Pedro Parente anunciou sua demissão do cargo de presidente da companhia
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Ações da Petrobras acumularam forte queda ao longo do dia em que Pedro Parente anunciou sua demissão do cargo de presidente da companhia

Justamente por ser um defensor ferrendo da independência da empresa e ter assumido o cargo com a missão de reerguer a empresa depois de passar por uma fase de forte controle governamental durante o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff que desagradava bastante o mercado, a demissão de Parente "em caráter irrevogável e irretratável" já está provocando novas turbulências na companhia.

Apesar da indicação de Temer ter que passar pela aprovação do Conselho da companhia, as especulações sobre os rumos da Petrobras derrubaram as ações da estatal na Bolsa de Valores de São Paulo. Às 11h20 de hoje (1º), imediatamente após o comunicado ao mercado ser divulgado, as ações da Petrobras já apresentavam grande queda e empurravam o Índice da Bovespa, no geral, para baixo.

Para tentar conter o impacto no Ibovespa, a Bolsa interrompeu as negociações diretas das ações da Petrobras após seus papéis desvalorizarem mais de 10% e usou um recurso emergencial ao decretar uma leilão dessas ações por mais de uma hora, o que na prática congela o valor das ações da companhia, contém um efeito manada e tenta reverter a tendência de forte queda.

Ainda assim, após a retomada das transações normais, o valor da companhia seguiu caindo e, por volta de 12h30, tanto as ações ordinárias da companhia quanto a das ações prioritárias apresentavam queda de mais de 18%. Dessa forma, o Índice da Bovespa também sofreu queda e novos leilões não foram descartados. Se às 11h20 o Ibovespa marcava 77.963 pontos, às 12h30 já estava em 75.964.

Curiosamente, porém, enquanto a Petrobras apresentava a maior queda nas ações do mercado, a Brasil Foods (BRF), empresa onde Pedro Parente foi eleito recentemente presidente do Conselho Adminsitrativo e deverá passar a ocupar um alto cargo executivo marcavam a maior alta da Bovespa, cerca de 8%.

Veja a íntegra do Fato Relevante enviado pela Petrobras ao mercado

" Rio de Janeiro, 1º de junho de 2018 – Petróleo Brasileiro S.A – A Petrobras informa que o senhor Pedro Parente pediu demissão do cargo de presidente da empresa na manhã de hoje. A nomeação de um CEO interino será examinada pelo Conselho de Administração da Petrobras ao longo do dia de hoje. A composição dos demais membros da diretoria executiva da companhia não sofrerá qualquer alteração.

Fatos considerados relevantes serão prontamente comunicados ao mercado."

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Veja a íntegra da Carta de Demissão de Pedro Parente

"Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser presidente da Petrobras, conversamos longamente sobre a minha visão de como poderia trabalhar para recuperar a empresa, que passava por graves dificuldades, sem aportes de capital do Tesouro, que na ocasião se mencionava ser indispensável e da ordem de dezenas de bilhões de reais. Vossa Excelência concordou inteiramente com a minha visão e me concedeu a autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.

Durante o período em que fui presidente da empresa, contei com o pleno apoio de seu Conselho. A trajetória da Petrobras nesse período foi acompanhada de perto pela imprensa, pela opinião pública, e por seus investidores e acionistas. Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito além da política de preços.

Faço um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a dizer que o que prometi, foi entregue, graças ao trabalho abnegado de um time de executivos, gerentes e o apoio de uma grande parte da força de trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido apoio de seu Conselho.

A Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso país.

E isso tudo sem qualquer aporte de capital do Tesouro Nacional, conforme nossa conversa inicial. Me parece, assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas.

A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento. Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País.

Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão de subvenção ao consumidor de diesel.

Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, Sr. Presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.

Sendo assim, por meio desta carta, apresento meu pedido de demissão do cargo de Presidente da Petrobras, em caráter irrevogável e irretratável. Coloco-me à disposição para fazer a transição pelo período necessário para aquele que vier a me substituir.

Vossa Excelência tem sido impecável na visão de gestão profissional da Petrobras. Permita-me, Sr. Presidente, registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que foi nesse período gerida sem qualquer interferência política — Vossa Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras.

A poucos brasileiros foi dada a honra de presidir a Petrobras. Tenho plena consciência disso e sou muito grato a que, por um período de dois anos, essa honra única me tenha sido conferida por Vossa Excelência.

Quero finalmente registrar o meu agradecimento ao Conselho de Administração, meus colegas da Diretoria Executiva, minha equipe de apoio direto, os demais gestores da empresa e toda força de trabalho que fazem a Petrobras ser a grande empresa que é, orgulho de todos os brasileiros.

Respeitosamente,

Pedro Parente"

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