Primeiro grande desafio do governo Bolsonaro junto ao Congresso, a reforma da Previdência foi enviada aos parlamentares no dia 20 de fevereiro de 2019. De lá, foi aprovada, com atrasos, na Comissão de Cidadania e Justiça e, agora, enfrenta as 40 sessões da Comissão Especial. Com o discurso de não aceitar troca de favores por votos, o presidente sabe que, mesmo que urgente, a reforma só vai andar depois de muita negociação.
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Os personagens à frente da reforma da Previdência na Câmara são muitos, além de Rodrigo Maia. O presidente da Casa é uma espécie de líder do Centrão e responsável pelo rito da PEC quando ela chegar ao plenário. Há, porém, negociações anteriores nas comissões e poder de convencimento para que o texto de Paulo Guedes não sofra muitas mudanças e se torne uma "reforminha" , como o próprio ministro teme.
Bolsonaro aposta em seus líderes para convencer os demais deputados e conseguir a aprovação da reforma . O objetivo é sancionar o projeto ainda no primeiro semestre. Nomes como J oice Hasselmann , Major Vítor Hugo, Samuel Moreira e Rogério Marinho viraram peças cruciais para que o governo obtenha êxito.
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Jair Bolsonaro: Ainda na campanha presidencial, o militar já falava de reforma da Previdência. Lançando Paulo Guedes como o seu "posto Ipiranga para a economia", o então candidato disse que apoiaria a proposta que viesse de seu futuro ministro, garantindo que atenderia a vontade dos brasileiros, mas também dos empresários.
Ao assumir a presidência, Bolsonaro prometeu não fazer "toma lá da cá" com o Congresso para aprovar suas emendas e, com isso, passou um recado que não agradou muitos deputados, incluindo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Com os atrasos para que a reforma avançasse na Comissão de Cidadania e Justiça (CCJ) da Câmara, Bolsonaro voltou a fazer reuniões com Maia ao lado de sua equipe econômica. Com o objetivo de convencer novos parlamentares a votarem pela nova Previdência, o presidente anunciou Joice Hasselmann (PSL-SP) como líder do governo no Congresso.
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Paulo Guedes: O atual ministro da Economia do Brasil é o grande responsável pelo texto da reforma da Previdência. Com aval total de Bolsonaro na área econômica, ele já afirmou diversas vezes que s em a reforma da Previdência, o Brasil vai quebrar .
O desejo do ministro de que a reforma seja aprovada é imperiosa: ele ameaça deixar o cargo caso a reforma da Previdência não seja aprovada ou se torne uma "reforminha", com diversas mudanças no texto.
Participante da formulação da reforma previdenciária chilena na década de 1970, Guedes defende a capitalização, a idade mínima de trabalho e o tempo mínimo de contribuição como cruciais para que o déficit previdenciário brasileiro diminua. No cálculo do Ministério da Economia, em dez anos, o Brasil vai conseguir economizar R$ 1,4 trilhão. Para tanto, a nova Previdência precisa ser aprovada como chegou ao Congresso.
O ministro passou por sabatinas na Câmara dos Deputados e na CCJ e precisou responder perguntas de parlamentares da oposição. Se tornou histórico o seu bate-boca com o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), que o chamou de "Tigrão" e "Tchutchuca".
Rogério Marinho: Ex-deputado federal pelo PSDB, o economista aceitou o convite de Paulo Guedes para comandar a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, se tornando um dos nomes fortes da reforma. Por ser um ex-parlamentar, Marinho foi a aposta do governo de aproximar o Ministério da Economia ao Congresso.
Rogério Marinho foi o relator da reforma trabalhista de Michel Temer, que, apesar de críticas, foi aprovada com facilidade pelo Congresso. Pela experiência, o hoje secretário mantém proximidade com os relatores da reforma da Previdência na Câmara (Delegado Marcelo Freitas e Samuel Moreira).
É da responsabilidade de Marinho atender os congressistas quando Paulo Guedes é convidado a prestar esclarecimentos e não comparece. Neste caso, o governo envia o secretário para debater com os deputados.
Joice Hasselmann: Segunda deputada federal com mais votos na história do Brasil - atrás de Eduardo Bolsonaro - Joice Hasselmann virou uma aliada de Jair Bolsonaro no Congresso e passou a ser vista como a parlamentar capaz de conversar tanto com deputados, como com senadores.
Ao virar líder do governo no Congresso, Joice se aproximou de empresários e participou de eventos do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), criação do governador de São Paulo, João Doria.
Bolsonaro colocou Joice como líder em um momento que a oposição travava a votação da reforma da Previdência na CCJ da Câmara. Sem tanta força política, o líder do governo na Câmara, Major Vítor Hugo, ganhou uma aliada e juntos, os dois têm a missão de atrair novos deputados a favores das mudanças previdenciárias.
Na busca de aproximação com o Centrão, a líder do governo no Congresso admite que o texto poderá passar por mudanças, desde que não seja desfigurado. Joice Hasselmann prega que o governo Bolsonaro vai precisar desses votos não apenas para a reforma da Previdência, mas em outras emendas futuras e, por isso, precisa de uma boa relação.
Major Vítor Hugo: Ex-servidor de consultoria legislativa, ganhou a confiança de Jair Bolsonaro quando o hoje presidente era parlamentar. Eleito deputado, se tornou líder do governo na Câmara.
Em seu primeiro mandato, o filiado ao PSL enfrenta dificuldades para convencer deputados do Centrão a votarem com o governo. Depois de sofrer duas derrotas na Câmara, Bolsonaro decidiu colocar Joice Hasselmann como líder do governo no Congresso e atuar junto com Vítor Hugo.
Recentemente, Major Vítor Hugo discutiu com Rodrigo Maia, que teria dito que excluiria o líder de suas relações. O motivo seria a defesa das manifestações do dia 26 que colocavam o presidente da Câmara como um dos inimigos de Bolsonaro.
Delegado Waldir: Líder do PSL na Câmara, o deputado tem a missão de unir a bancada de situação junto com os líderes de governo. Também está nas mãos de Delegado Waldir sugerir os votos do PSL (maior bancada da Câmara) nas pautas apresentadas pelos parlamentares.
Com o corte de relações entre Major Vítor Hugo e Rodrigo Maia, caberá ao líder do PSL manter as conversas com o presidente da Câmara na busca de acelerar as votações da reforma da Previdência.
Rodrigo Maia: No terceiro mandato como presidente da Câmara, Rodrigo Maia é decisivo para a aprovação da reforma da Previdência. É ele quem pauta as discussões e votações no plenário quando a reforma passar pelas comissões. Além disso, o parlamentar do DEM é considerado o grande líder do Centrão, ala crucial para que o governo consiga a aprovação do texto.
É papel de Rodrigo Maia também receber os líderes partidários, de governo e de oposição. Desta forma, ele consegue ter noção de quantos votos o governo precisa conquistar para que a reforma seja aprovada.
Felipe Francischini: Filiado ao PSL, mesmo partido de Bolsonaro, Felipe Francischini é presidente da Comissão de Cidadania e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, por onde a reforma da Previdência passou no primeiro momento. Foi papel dele controlar os ataques da oposição a Paulo Guedes na ida do ministro à sabatina, bem como acelerar a votação da proposta.
Delegado Marcelo Freitas:
Foi o relator da reforma da Previdência na CCJ. Instruído pelos líderes de governo e pelo líder do PSL, seu partido, Marcelo Freitas apresentou seu relatório da reforma sem qualquer mudança nas propostas de Paulo Guedes e em menos de uma semana.
Marcelo Ramos: Deputado do PR e integrante do Centrão, preside a Comissão Especial da Reforma da Previdência na Câmara. Assim como Francischini, tem poder de decisão sobre o número de sessões necessárias para discutir a reforma. Também parte de Marcelo Ramos a percepção de quando o texto tem votos suficientes para ser aprovado. A indicação de Samuel Moreira (PSDB-SP) como relator foi dele.
Samuel Moreira: Ex-secretário da Casa Civil de Geraldo Alckmin em São Paulo, o deputado do PSDB tem boa relação com o secretário especial da Previdência, Rogério Marinho. Escolhido relator da reforma da Previdência na Comissão Especial, é visto pelo governo como moderado. Joice Hasselmann mantém conversas com ele tentando impedir que todas as exigências do Centrão diminua o texto inicial do governo.
Deputados federais: Ao sair da Comissão Especial, a reforma da Previdência é levada para votação no plenário da câmara. É nesta fase que o governo mais vai precisar de uma boa relação com Rodrigo Maia, para acelerar o rito da proposta junto aos deputados. As discussões no plenário envolvem discussões entre situação e oposição, propostas de mudanças por cada bancada, bem como possíveis novas convocações para que Paulo Guedes apresente a reforma na Câmara.
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Bancada de apoio ao governo Bolsonaro: Além do PSL, partidos como o Podemos e o Novo se comprometeram a votar com o governo na reforma da Previdência, mesmo declarando não fazerem parte da base aliada.
Centrão:
Bloco em torno de Rodrigo Maia tem 13 partidos. São aproximadamente 207 deputados, o que significa poder de decisão nas votações da Câmara.
Oposição: Mais do que PT e PSOL, o governo Bolsonaro lida com uma oposição que engloba cerca de 13 partidos. Atual líder da oposição, o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) já deu declarações de que os deputados da bancada não vão aceitar a reforma da Previdência da maneira como está.
Parlamentares do PT, PSOL e PCdoB deram mostras que devem votar contra o texto de Paulo Guedes e o PDT (de Ciro Gomes) enviou um novo projeto para o relator da Comissão Especial, Samuel Moreira, propondo mudanças na Previdência de maneira menos radical.