Com 13,4 milhões de pessoas desempregadas , economia em ritmo lento e previsões de melhoria não muito animadoras (de acordo com o último Boletim Focus, do Banco Central, a economia brasileira deve crescer apenas 1,49% neste ano , número que vem caindo semanalmente), o mercado de trabalho brasileiro vem tentando se reinventar.
As empresas e profissões precisam acompanhar, além das evoluções tecnológicas, todos os possíveis entraves que um período econômico difícil pode trazer, como o acúmulo de funções, a extinção de cargos e a escassez de oportunidades.
Por isso, é muito comum que os profissionais escutem que precisam se reinventar. Mas como fazer isso? Uma alternativa que vem ganhando espaço dentro das empresas e a atenção dos trabalhadores é a transição de carreiras dentro de uma mesma companhia.
"A transformação cada vez mais forte e mais rápida das empresas está exigindo que o profissional seja mais flexível", explica Irene Azevedoh, diretora de Transição de Carreira e Gestão da Mudança para América Latina da Consultoria Lee Hecht Harrison (LHH).
Ela afirma que as inovações tecnológicas vêm fazendo com que as essas empresas tenham cada vez mais competidores inesperados e, para vencer essa rapidez das mudanças, a melhor saída é ter pessoas flexíveis e com boa capacidade de adaptação. "Se eu tenho, dentro da minha organização, pessoas que tenham comportamentos que sejam ajustáveis e compatíveis com essas mudanças, melhor impossível", diz.
Vantagens para a empresa
Ter funcionários adaptáveis às mudanças é muito importante para a empresa tanto pelo âmbito prático como econômico. Na prática, ter um empregado que seja multitarefa e consiga cumprir diversas funções facilita o processo de transformação dessas companhias.
"São pessoas que já conhecem a cultura da empresa, estão alinhadas com os valores e diretrizes e com o modo de trabalhar. Assim, são muito mais confiáveis para fazer a mudança", afirma Azevedoh.
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A especialista garante que dificilmente uma empresa vai preferir contratar um funcionário novo e fazer um período de aprendizado e adaptação com ele do que "reciclar" um trabalhador que ela já conhece e confia. "É disperdício de tempo e de energia", ressalta.
"E enquanto você está ensinando esse novo funcionário, as outras empresas que competem com você estão passando na frente", completa. Além disso, trocar um funcionário por outro também gera gastos com demissão.
E o que uma empresa deve fazer para tornar seus funcionários flexíveis?
"A organização precisa ter, cada vez mais, acesso a essas pessoas. Conhecer os funcionários de perto é fundamental, já que, assim, você consegue distinguir quem é mais adaptável, quem tem mais eficiência para mudança, e assim possa se valer desses talentos", diz Azevedoh, ressaltando que conhecer o quadro de funcionários nunca foi tão importante dentro da relação empregado-patrão.
Mas e para o trabalhador, qual a vantagem?
Segundo a diretora da LHH, mudar de carreira dentro da própria empresa tem muitas vantagens para o trabalhador. Além de mostrar que é uma pessoa flexível, esse funcionário multiplica as chances de, quem sabe, aumentar sua remuneração e de descobrir uma nova profissão que possa satisfazê-lo de melhor forma.
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“Primeiro você precisa investigar todas as possibilidades dentro da empresa que trabalha, inclusive funções das quais desconhece. Depois, pontue as competências exigidas, pois é essencial analisar os prós e contras da área/cargo que almeja para não declinar na sua decisão posteriormente e prejudicar, assim, a sua imagem profissional”, diz a consultora.
E como eu faço para me tornar flexível?
O primeiro passo já está dado: estar dentro da empresa já é um facilitador muito grande para trocar de função . Afinal, os chefes já te conhecerem é uma vantagem. "É muito mais fácil, você estando em um lugar que já entenda suas competências, você fazer essa mudança. É a forma mais segura e rápida de conseguir", explica Azevedoh.
Depois, é importante refletir sobre onde está e aonde quer chegar através de perguntas, como: “quais desafios estou apto a enfrentar?”; “quais habilidades preciso desenvolver para assumir esse cargo?; “onde eu quero chegar?”, entre outras.
"Quando quero mudar de carreira, observo minhas habilidades e comportamentos que possam fazer sentido nessa mudança", diz a especialista. "A pessoa tem que estar constantemente olhando as suas competências e qual o rumo que a organização está tomando, para que ela possa direcionar seus esforços (ou seja, se capacitar, aprender coisas novas) e investir constantemente."
Se sua personalidade for pouco compatível com mudanças e você tiver um perfil mais "quadrado", é preciso, segundo a consultora, "começar rapidamente um processo de coaching, pra alterar esses comportamentos, e desenvolver esse aspecto de adaptabilidade". Tudo porque vai se tornar cada vez mais difícil permanecer em um ambiente de volatilidade sem essas características.
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"Hoje todos têm que estar muito atentos de que essa tomada de risco, aprendizado constante, adaptabilidade são comportamentos fundamentais pra você conseguir sobreviver no futuro. É preciso que as pessoas que não tem essas habilidades de adaptação comecem a trabalhar para desenvolver isso", indica a diretora.