Governo tem pressionado BC, mas queda dos juros não aconteceu
Lula Marques/ Agência Brasil - 27/04/2023
Governo tem pressionado BC, mas queda dos juros não aconteceu

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (3) manter a Selic em 13,75% ao ano, patamar em que se encontra desde agosto do ano passado. Apesar da pressão do governo federal para a redução dos juros, o resultado já era esperado pelo mercado.

O órgão se reuniu nestas terça-feira e quarta-feira, como acontece a cada mês e meio. A Selic é definida para perseguir a meta da inflação: se a inflação está alta, os juros sobem para tentar fazer com que ela caia. Para 2023, a meta a ser perseguida é de inflação a 3,25% ao ano, taxa que é considerada cumprida se ficar dentro de uma margem de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos, ou seja, entre 1,75% ao ano e 4,75% ao ano.

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"O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos", aponta o comunicado.

"No balanço de riscos, a autoridade monetária ainda não vê espaço necessário que permita a flexibilização da política monetária, mesmo que a inflação corrente tenha apresentado um comportamento melhor. Os modelos utilizados pela autoridade monetária seguem indicando que a dinâmica de preços à frente volte a apresentar alta em trajetória superior à meta perseguida pelo BC", avalia Marianna Costa, economista-chefe do TC.

Mudanças ainda não são fortes o suficiente

Especialistas ouvidos pelo portal iG afirmam que a manutenção da Selic se dá, sobretudo, por conta da "desancoragem das expectativas de inflação em relação à meta". Isso significa que, mesmo com a  queda da inflação , o cenário ainda não consegue alterar as expectativas de inflação em um prazo mais longo do que 12 meses.

De acordo com o boletim Focus divulgado nesta semana pelo BC, o  mercado espera que o Brasil feche o ano com inflação a 6,05% ao ano, valor que ultrapassa a meta. Essa expectativa já foi elevada cinco vezes seguidas.

"Faltam argumentos que convençam a autoridade a iniciar o ciclo de corte ou até mesmo anunciar quando este deverá iniciar", comenta Antonio van Moorsel, estrategista-chefe e sócio da Acqua Vero.

Quando o BC vai reduzir a Selic?

Ainda de acordo com o boletim Focus, o mercado espera que 2023 encerre com Selic a 12,5% ao ano. A queda, porém, só deve acontecer no próximo semestre.

"Enquanto as projeções para a inflação prospectiva estiverem distantes da meta dos respectivos anos, o BC não reduzirá a Selic", avalia Antonio, que vai contra o consenso e acredita que os juros vão permanecer em 13,75% ao ano até o final de 2023.

Já Marianna avalia que os cortes devem ser iniciados na reunião de setembro - antes disso, o Copom ainda se reúne em junho e agosto, mas deve manter o patamar atual.

"O balanço de riscos deve começar a apresentar algum espaço para o início do corte de juros mais para meados do terceiro trimestre, quando pode ser viável observarmos inversão na trajetória das expectativas de inflação, permitindo assim o início deste ciclo de baixa", analisa a especialista.

Na próxima terça-feira (9), o Copom divulga a ata da reunião desta semana, documento que pode trazer pistas dos próximos passos do BC no que diz respeito aos juros.

Pressão do governo

A decisão do Copom desta quarta-feira ignora a pressão do governo por uma queda na taxa de juros, que desacelera a economia brasileira por estar em patamar elevado.

Depois que apresentou o  arcabouço fiscal , a ala econômica do governo esperava que a medida desse segurança para que o BC iniciasse um corte na Selic, o que não aconteceu.

Na última semana, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que o BC não tem mais "desculpas" para não reduzir a taxa básica de juros . "Está tudo caminhando para aprovar [o arcabouço fiscal] em maio na Câmara e, no mais tardar, na primeira semana de junho no Senado. Aprovado, qual vai ser a desculpa do Copom para não baixar [os juros], ainda que 0,25 ponto percentual? Cada condição que o BC coloca e a gente vai resolvendo, eles vão colocando outras. E agora vai colocar o quê?", afirmou a ministra.

Nesta terça-feira (2), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o cenário atual já permite uma redução dos juros . Questionado sobre se o Copom poderia fazer isto nesta semana, Haddad disse: "Que dá, dá, né?".

Na última semana, os dois ministros e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que vem sendo bastante criticado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), participaram de uma audiência no Senado Federal para debaterem sobre a taxa de juros.

No encontro, Campos Neto defendeu que o BC realiza um trabalho técnico para decidir sobre a Selic. "A inflação de curto prazo tem caído, mas muito lentamente", disse ele. Tebet rebateu o presidente do BC, afirmando que todas as decisões do órgão "interferem na política, especialmente os seus comunicados e suas atas".

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