O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta sexta-feira (9) que seu ministro da Fazenda será o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad
. O nome vinha sendo especulado há semanas e conta com rejeição por parte do mercado financeiro.
"Eu tomei a decisão de escolher o companheiro Fernando Haddad como ministro da Fazenda, e ele tem a incumbência de ter uns dias para montar sua equipe e já começar a apresentar resultado antes da gente tomar posse", disse Lula.
Lula também prometeu realizar "quantas conversas forem necessárias" para aprovar a PEC de Transição na Câmara dos Deputados. O texto permite gastos acima do teto para pagar o Bolsa Família de R$ 600 e corrigir o Orçamento enviado pelo atual governo.
Segundo o presidente eleito, o julgamento do Orçamento Secreto, no Supremo Tribunal Federal (STF), não deve atrasar a votação da PEC na Casa. "Emenda é importante, o que não precisa é ser secreta", ressaltou.
Desconfiança do mercado
O ex-ministro da Educação passou a compor o grupo de transição na área de economia e a representar Lula em encontros com empresários e com o atual ministro da Economia, Paulo Guedes . No dia em que se reuniu com banqueiros a pedido de Lula, o Ibovespa registrou queda de 2,73% e o dólar saltou de 1,85%, evidenciando receio do setor financeiro com o nome.
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Lula deve tentar reequilibrar a balança com anúncios previstos para as próximas semanas com nomes mais simpáticos ao setor financeiro no Ministério do Planejamento e na presidência do Banco Central .
Para a pasta do Planejamento, Lula disse que o perfil do ministro será técnico q "afinado com o Ministério da Fazenda". Ele disse também que "já poderia ter indicado hoje", mas a impresa "ficaria sem matéria".
Atualmente Guedes ocupa o "superministério" da Economia, que aglutinou, em 2019, as pastas de Fazenda e Planejamento, que devem ser novamente separadas no próximo governo. Além disso, Lula também pretende recriar a pasta de Indústria e Comércio.
Articulador político
Durante a campanha, Lula prometeu colocar um político no cargo, em detrimento de um nome técnico. Para Bruno Monsanto, sócio e assessor de investimentos na RJ Investimentos, Haddad cumpre bem os dois papéis.
"Haddad entra mais como articulador político do que como técnico formulador no campo econômico. Não por falta de capacidade intelectual. Com um vasto currículo acadêmico, Haddad é mestre em economia pela USP. Ele vai agir como um facilitador para implementação de uma pauta macro já desenhada", comenta.
Segundo o especialista, a desconfiança do mercado se baseia na ausência de apresentação de qualquer plano econômico, enquanto o governo eleito foca seus esforços na aprovação da PEC de Transição.
"A PEC de Transição é política e não econômica, assim como a nomeação de Haddad. O Governo já contrata na largada um grande espaço fiscal, ou licença para gastar. O compromisso com o social é importante, mas vira demagogia se vier junto com irresponsabilidade fiscal. A conta chega em forma de inflação, juro neutro mais alto, volta a um modelo de subsídios, e aumento de impostos vindo a reboque."
Monsanto espera que Lula e Haddad não negligenciem as sinalizações do mercado financeiro, a começar pelo crescente risco de um rebaixamento por agências de rating. Caso contrário, a economia real pode começar a sentir os efeitos negativos dessa irresponsabilidade na forma de desemprego, investimentos e inflação.
Rejeição
Não é só o mercado que reprova Haddad. O nome tem rejeição de 49% da população, segundo pesquisa da Genial/Quaest , enquanto é aprovado por 36%.
A pesquisa revelou ainda que, dentro do eleitorado do PT, Haddad tem apoio de 60%, ante rejeição de 26%. A aprovação também é elevada dentro da parcela da população que ganha até dois salários mínimos e que moram no Nordeste: 46% e 42%, respectivamente.
Entre os eleitores com renda superior a cinco salários mínimos, o petista tem 59% de rejeição e 28% de aprovação. Outros 13% não responderam quando perguntados.
Já entre os que votaram no presidente Jair Bolsonaro (PL), a rejeição dispara a 80%, enquanto 12% apoiam e 8% não sabem responder.
Outros ministros
Além de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda, Lula também indicou José Múcio Monteiro para o Ministério da Defesa, Flávio Dino para o Ministério da Justiça e Segurança Pública e de Rui Costa para a Casa Civil. Para chefiar o Itamaraty (Relações Exteriores), foi escolhido o embaixador Mauro Vieira.