O anúncio do aumento do valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 , além de levar milhares de pessoas aos Centros de Referência e Assistência Social (Cras) dos municípios para fazer inscrição ou atualizar os dados no Cadastro Único (CadÚnico) — porta de entrada de programas assistenciais do governo federal —, pode não beneficiar todos os que aguardam o benefício.
Isso porque a fila oficial à espera do dinheiro, segundo o Ministério da Cidadania — que coordena o programa — estava em 764.798 famílias em maio, mas um levantamento realizado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) aponta um número bem maior: segundo a entidade, 2.788.368 famílias em todo o país estão na "fila da fila" . O governo federal prometeu — com a aprovação da PEC Eleitoral — ampliar o número de beneficiários em 1,65 milhão, zerando a espera pela inclusão no programa. A questão é: que número será considerado pelo governo?
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Paola Carvalho, diretora da Rede Brasileira de Renda Básica, avalia que o governo vai utilizar os números oficiais da Cidadania e vai deixar uma legião de fora do programa. Ela chama a atenção para um pleito feito pela Rede Brasileira que foi ignorado pelo governo: o cruzamento de dados dos beneficiários do auxílio emergencial e do Bolsa Família, antecessor do Auxílio Brasil, para que fosse mensurada a quantidade de pessoas em situação de vulnerabilidade social.
"Levando em conta a última relação de beneficiários do auxílio emergencial, que somou 39 milhões de pessoas, e o número atual de quem recebe a renda básica, temos pelo menos 20 milhões de supostos desassistidos. Essas pessoas poderiam ser chamadas a atualizar os dados e terem o benefício liberado, se o governo não tivesse descartado a base de dados da época do auxílio emergencial. Com isso, foi perdida a oportunidade de ter um cadastro de quem está em condição de pobreza ou pobreza extrema", diz Paola.
Filas para cadastramento e atualizada de dados
Na manhã desta quinta-feira (dia 7), o Rio Poupa Tempo de Bangu, na Zona Oeste, e os Cras de Pavuna, na Zona Norte, e São Gonçalo amanheceram com filas de pessoas interessadas em se cadastrar ou atualizar os dados do CadÚnico, como mostrou o "Bom Dia Rio", da TV Globo. As filas se repetem na manhã desta sexta-feira (dia 8).
São cidadãos que querem estar com a situação em dia para receber o Auxílio Brasil de R$ 600 até dezembro — como promete a PEC Eleitoral — e também o vale-gás, que pode passar a ser de 100% do preço médio do botijão de 13kg no país. Atualmente, o valor equivale a 50% do preço médio.
Hoje, 18,1 milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade social recebem o Auxílio Brasil e 5,69 milhões o vale-gás.
Procurado, o Ministério da Cidadania não respondeu ao EXTRA se quem atualizar dados ou se inscrever no CadÚnico agora vai receber o Auxílio Brasil imediatamente e se governo vai emitir logo novos cartões. Também não respondeu sobre a real possibilidade de garantir o benefício a mais pessoas, ampliando a cobertura na tentativa de reduzir a pobreza.
Vivendo de restos do Ceasa
O vendedor ambulante Guaracy Lopes Junior é um dos que esperam a chegada do auxílio com ansiedade. Ele mora com outras nove pessoas em uma casa na comunidade de Acari, na Zona Norte do Rio. Ex-morador de rua, ele atualmente vive com a mulher, seis crianças, a sogra e a cunhada. Ele contou ao portal G1 que foi inscrito no benefício em maio, mas ainda não recebeu nada.
Para ajudar a sustentar a família, Guaracy vende balas em sinais de Copacabana, na Zona Sul.
"É para comprar arroz e feijão mesmo", conta.
O ambulante passa os dias nos sinais de trânsito do bairro da Zona Sul, onde consegue ganhar cerca de R$ 1.200 por mês. Às vezes, a mulher o acompanha.
Pelo menos uma vez por semana, passa as manhãs na Ceasa. Para garantir que a família não passe fome, ele revira as caçambas em busca de alimentos que estão sendo descartados, mas que ainda podem ser aproveitados.
"Eles jogam muitas coisas fora, e eu separo algumas coisas boas e levo para casa", diz.
As famílias em situação de extrema pobreza, de acordo com as regras do Auxílio Brasil, são aquelas com renda mensal per capita (por pessoa) de até R$ 105. As que são consideradas em situação de pobreza são as que possuem renda familiar mensal per capita entre R$ 105 e R$ 210.
Dois postos abertos nesta sexta
Para dar conta da demanda crescente de pessoas em busca de atualização de dados ou inscrição no CadÚnico, além do atendimento cotidiano nos Centros de Referência e Assistência Social (Cras), excepcionalmente nesta sexta-feira (dia 8) a Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio (SMAS) vai atender os cidadãos da capital em dois locais diferentes, próximos de onde foram identificadas grandes filas.
O projeto itinerante Assistência em Movimento — por meio do qual equipes especializadas da SMAS já atendem dentro de comunidades vulneráveis — vai funcionar, a partir das 8h, na Vila Olímpica do Complexo do Alemão, em Ramos, e na Praça Doutor Raimundo Paz, em Bangu.
O Assistência em Movimento atenderá quem ainda não se inscreveu no CadÚnico ou que se inscreveu há mais de dois anos e precisa atualizar o cadastro.
Quem já está inscrito no CadÚnico e quer saber quando receberá o Auxílio Brasil ou o auxílio-gás deverá acessar o site meucadunico.cidadania.gov.br ou o aplicativo Meu CadÚnico disponível na Google Play (Android) e na App Store (iOS). Outra forma de fazer a consulta é acessar o aplicativo do Auxílio Brasil.