O dólar comercial seguiu seu movimento de queda, fechando na casa dos R$ 4,84, e a Bolsa subiu nesta quarta-feira (23). Os ativos locais voltaram a ter um bom desempenho, mesmo em um dia mais negativo para os ativos de risco no exterior.
A moeda americana teve baixa de 1,43%, negociado a R$ 4,8438, após atingir a mínima de R$ 4,8337. É o menor nível de fechamento desde o pregão do dia 13 de março de 2020, quando a divisa terminou cotada a R$ 4,8127.
No ano, a divisa já acumula queda de 13,11% e apresenta seis pregões consecutivos de baixa.
O Ibovespa subiu 0,16%, aos 117.457 pontos. No ano, o principal índice da B3 tem alta de 12,05%.
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O estrategista chefe da Davos Investimentos, Mauro Morelli, destaca a continuidade de alta nos preços das commodities como o principal fator para o descolamento dos ativos brasileiros em relação ao exterior.
"Isso tem relação com essa realocação mundial, com os investidores buscando investimento em países, principalmente, produtores de commodities e que se beneficiam desse momento que estamos vivendo".
A elevação dos preços ajuda a favorecer tanto a nossa Bolsa quanto o dólar, pelo caráter exportador do Brasil.
Para Morelli, a volatilidade vista no exterior decorre do ambiente de incerteza gerado pela guerra.
"Temos também um momento delicado da economia americana, com o aumento dos juros e a pressão inflacionário. Vejo uma volatilidade natural do momento internacional que estamos vivendo, que é de inflação alta e juros subindo e um ambiente de guerra entre Rússia e Ucrânia e, de guerra fria, entre Rússia e o Ocidente".
Fluxo deve ajudar no curto prazo
O real vem sendo beneficiado por um conjunto de fatores desde o início do ano, como a forte entrada de fluxo estrangeiro para o nosso mercado, a elevação de preços de commodities importantes, e o diferencial de juros entre a nossa economia e as demais.
Até o pregão do dia 21 de março, o fluxo estrangeiro no segmento secundário da B3, aquele com ações já listadas, era positivo em R$ 81 bilhões.
A entrada desse montante ajuda o real, pois se há mais dólares disponíveis no nosso mercado, a oferta aumenta, e o preço diminui.
Além da forte presença de empresas ligadas a commodities em nosso mercado, o Brasil vem se apresentando como um destino mais atrativo para o aporte de recursos, na comparação relativa com mercados emergentes rivais.
Sobre o dólar, o estrategista chefe da Davos ainda enxerga espaço para o dólar cair mais no curto prazo. Mas, ele acredita que o fluxo deve diminuir no médio e longo prazo.
"Imagino que quando você tem uma luta contra a inflação, esses preços das commodities mundiais deve, de alguma maneira, se estabilizar".
Petrobras e Vale sobem
Nesta quarta-feira, os papéis de commodities voltavam a ajudar o mercado local.
As ordinárias da Petrobras (PETR3, com direito a voto) subiam 1,76%, e as preferenciais (PETR4, sem direito a voto), 2,18%, em linha com o avanço do petroleo no exterior.
As ordinárias da PetroRio (PRIO3) avançavam 2,56%, e as da 3RPetroleum (RRRP3), 2,62%.
As ordinárias da Vale (VALE3) subiam 0,48%, e as da Siderúrgica Nacional (CSNA3), 1,50%.
As preferenciais da usiminas (USIM5) tinham queda de 0,90%.
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No setor financeiro, as preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4) tinham quedas de 0,22% e 0,82%, respectivamente.
De olho nos BCs
No pregão, os investidores repercutem declarações dos presidentes dos bancos centrais do Brasil e Estados Unidos para calibrar suas expectativas para a continuidade da normalização da política monetária nos países.
Na ata divulgada ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou a sinalização de que uma nova alta de 1 ponto percentual da taxa básica de juros deve ser realizada.
A expectativa é que o ciclo de aperto esteja próximo do fim, ainda que não se tenha uma taxa final precisa. Hoje, a Selic está em 11,75% ao ano.
Durante participação em evento promovido pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que o mundo após a guerra na Ucrânia terá um período relativamente longo de menos crescimento e mais inflação.
Ele ressaltou que o conflito redesenhou as cadeias globais de valor, o que pode criar oportunidades para o Brasil.
Campos Neto avaliou que há um problema de inflação mais grave no mundo, algo que alguns países começaram a reconhecer, ressaltando que o Brasil saiu na frente nesse movimento.
"Países ainda vão precisar subir bastante os juros para atingir juros neutros", afirmou.
O presidente do BC também ressaltou que o pico da inflação acumulada em 12 meses no Brasil deve ocorrer em abril, mantendo previsão próxima à apresentada em fevereiro, quando disse que o pico ocorreria entre abril e maio.
Nos EUA, o aperto monetário só está começando. Na semana passada, o Federal Reserve, Banco Central americano elevou os juros básicos em 0,25 ponto percentual. Foi o primeiro aumento desde 2018.
Após o anúncio, o presidente da instituição, Jerome Powell, vem repetindo que medidas mais duras podem ser tomadas contra a inflação, o que inclui a elevação em mais de 0,25 ponto percentual na próxima reunião.
Os mercados ainda monitoram os desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Na ausência de perspectivas de uma resolução do conflito, os investidores aguardam o possível anúncio de novas sanções contra os russos por parte dos EUA e de seus aliados na Europa.
Barril de petroleo volta aos US$ 120
Os preços dos contratos futuros do petróleo operavam em alta, diante de preocupações com a oferta da commodity.após a interrupção nas exportações de petróleo da Rússia e do Cazaquistão através do oleoduto Caspian Pipeline Consortium.
A Rússia alertou na terça-feira para uma queda nas exportações de petróleo através do oleoduto de até 1 milhão de barris por dia (bpd), ou 1% da produção global de petróleo, por causa danos causados por tempestades.
O possível anúncio de novas sanções à Rússia ajudam a pressionar os preços da commodity.
Por volta de 15h, no horário de Brasília, o contrato para maio do petróleo tipo Brent subia 4,44%, negociado a US$ 120,61, o barril.
Já o contrato para o mesmo mês do petróleo tipo WTI avançava 4,09%, cotado a US$ 13,74, o barril.
Bolsas no exterior
As bolsas americanas operavam com baixas. Por volta de 15h05, em Brasília, o índice Dow Jones cedia 1,05% e o S&P, 0,85%. A Bolsa Nasdaq caía 1,08%.
Na Europa, as bolsas fecharam com quedas. A Bolsa de Londres caiu 0,22% e a de Frankfurt, 1,31%. Em Paris, ocorreu queda de 1,17%.
As bolsas asiáticas fecharam com altas. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, subiu 3%. Em Hong Kong, houve avanço de 1,21% e, na China, de 0,34%.