Auditores da Receita Federal decidem hoje se entrarão em greve
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Auditores da Receita Federal decidem hoje se entrarão em greve

O presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), Kleber Cabral, convocou para esta quinta-feira (23) assembleias que podem decidir por uma greve geral. A reação começou ontem quando  500 servidores deixaram seus cargos após a aprovação do Orçamento de 2022, que cortou verbas do órgão, enquanto concedeu reajuste salarial para policiais federais.

Os auditores acreditam que os recursos para pagar o aumento dos salários dos agentes de segurança saíram justamente do orçamento da Receita. Segundo eles, o montante inicial destinado ao órgão era de R$ 2,189 bilhões, mas caiu para R$ 1,063 bilhão — 51,4%, ou R$ 1,126 bilhão a menos. O valor reservado para o pagamento dos policiais federais é de R$ 1,74 bilhão.

A insatisfação também se dá porque a categoria aguardava pelo reajuste do chamado bônus de eficiência, congelado há cinco anos. "A Receita Federal não merece e não pode ser humilhada mais uma vez. Somente uma reação em uníssono da Casa pode mostrar ao mundo político a nossa força e o nosso poder de indignação", diz a Sindifisco em um comunicado.

Uma eventual greve dos auditores da Receita Federal pode atrapalhar o funcionamento de portos e aeroportos do país — onde o órgão faz o controle aduaneiro — às vésperas das festas de fim de ano.

Servidores da Receita Federal não são os únicos insatisfeitos

Uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo revelou que, enquanto lutava pelo aumento dos salários dos agentes, o presidente Jair Bolsonaro (PL) ignorou aproximadamente 1 milhão de servidores ativos, aposentados e pensionistas com pagamentos congelados há cinco anos. Vale destacar que os policiais consistuem a base eleitoral de Bolsonaro, que deve concorrer à reeleição no ano que vem.

Funcionários do Banco Central já pediram uma reunião de emergência com o presidente, Roberto Campos Neto, segundo informou o presidente do sindicato da categoria, Fabio Faiad, ao jornal Valor Econômico.  Eles querem questionar porque não houve por parte dele o mesmo empenho da chefia da Polícia Federal para aumentar os salários.

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Outras servidores, como os do Tesouro Nacional e da Controladoria-Geral da União (CGU) também deverão se mobilizar a partir da segunda quinzena de janeiro, afirmou o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, ao Valor . O mesmo foi dito pelo presidente da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio Ronaldo da Silva.

O aumento salarial para os policiais federais vai contra o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes. Apesar de  ter confirmado o reajuste anteriormente e pedido R$ 2,8 bilhões ao Congresso Nacional para isso,  Guedes depois se mostrou publicamente contrário à ideia.

"Se todos tiverem esses aumentos, é uma desonra com as futuras gerações. Que aí nós vamos (ver): a inflação vai voltar, nós vamos mergulhar no passado. Nós vamos nos endividar em bola de neve de novo. Juros vão subir, a inflação não terá tido uma alta temporária, será uma alta permanente", disse Guedes, na última sexta-feira (17), sem citar nominalmente os agentes.

O ministro da Economia, inclusive,  teria alertado o presidente Jair Bolsonaro de que uma reação de outras categorias de servidores seria inevitável. Bolsonaro, no entanto, ignorou o alerta e  decidiu ligar pessoalmente para o relator do Orçamento de 2022, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), insistindo na ideia. Leal  cedeu à pressão do presidente, mas incluiu na proposta um valor menor do que o pedido pelo governo, R$ 1,9 bilhão.

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