Na última terça-feira (21), o relator do Orçamento de 2022, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), cedeu a pressão do presidente Jair Bolsonaro (PL)
e incluiu na proposta uma reserva de R$ 1,9 bilhão para conceder um reajuste salarial a policiais federais. A ação, porém, já começou a surtir efeito em outras categorias de servidores, como os da Receita Federal, que já pediram exoneração de seus cargos, após a aprovação do projeto.
Mas Bolsonaro não poderá alegar surpresa caso isso realmente aconteça. Segundo uma reportagem do UOL, o ministro da Economia, Paulo Guedes, teria alertado o presidente mais de uma vez de que essa reação seria inevitável. Apesar de ter confirmado o reajuste anteriormente e pedido R$ 2,8 bilhões ao Congresso Nacional para isso, Guedes depois se mostrou publicamente contrário à ideia.
"Se todos tiverem esses aumentos, é uma desonra com as futuras gerações. Que aí nós vamos (ver): a inflação vai voltar, nós vamos mergulhar no passado. Nós vamos nos endividar em bola de neve de novo. Juros vão subir, a inflação não terá tido uma alta temporária, será uma alta permanente", disse Guedes, na última sexta-feira (17), sem citar nominalmente os policiais federais.
Uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo revelou que, enquanto lutava pelo aumento dos salários dos agentes, o presidente Jair Bolsonaro excluiu aproximadamente 1 milhão de servidores ativos, aposentados e pensionistas com pagamentos congelados há cinco anos. Vale destacar que os policiais consistuem a base eleitoral de Bolsonaro, que deve concorrer à reeleição no ano que vem.
Na última segunda, Paulo Guedes teria recebido avisos da Receita Federal e do Banco Central que, se realmente o governo trabalhasse para conceder aumento para apenas uma categoria, haveria resposta. Mesmo de férias, o ministro teria reforçado isso para o presidente, que resolveu ignorar o alerta e ligar pessoalmente para o relator do Orçamento de 2022 insistindo no reajuste. Hugo Leal cedeu, mas reservou um valor menor do que o pedido.