Apoiadores adoram as falas do presidente, investidores não.
Reprodução: iG Minas Gerais
Apoiadores adoram as falas do presidente, investidores não.

Ontem (9) o mercado financeiro mostrou que acompanha a política com atenção. Um dia depois das ameaças golpistas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, a Bolsa de Valores brasileira, a B3, despencou 3,75% refletindo o que vem sendo chamado de “custo Bolsonaro”.

Depois do recuo na "declaração à nação", escrita pelo ex-presidente Michel Temer, o mercado disparou na esperança que a crise entre os Poderes fosse coisa do passado. Nesta sexta-feira (10), o presidente justificou ter enviado a carta para "evitar disparada" do câmbio

Nos investimentos, segurança e previsibilidade são cruciais, em caso contrário, o que se observa é uma volatilidade acima do esperado. “Quando o governo deixa de priorizar Covid, crise hídrica, inflação, desemprego e crescimento sustentável e começa a atacar a democracia, o que reina é a incerteza”, avalia o economista André Braz, da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Segundo o economista, esse sentimento afasta investidores e consequentemente provoca desvalorização do câmbio, o que intensifica as pressões inflacionárias, já que as commodities são influenciadas pelo preço de mercado internacional. 

Em julho, investidores estrangeiros retiraram R$ 35,27 bilhões da bolsa, fluxo inesperado para o período. Puxado pelo preço dos combustíveis e da eletricidade, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país, teve o pior agosto em 21 anos  e acumula alta de 9,68% em 12 meses. 

Braz enxerga o futuro incerto para o ambiente de negócios nacional, para ele, o Sete de Setembro foi mais uma bravata que parece ter sido superada pelo mercado, mas não descarta a possibilidade de um novo arroubo autoritário piorar novamente o clima com investidores. 

“Bolsonaro utilizou o feriado para fazer campanha política, dando aos seus apoiadores aquilo que eles gostam: o tom de quem manda sou eu. Os apoiadores adoraram, mas isso, se ele não tivesse corrigido pela carta à nação, poderia minar a governabilidade do país”, disse.

“Agora é esperar o saldo daquele Sete de Setembro. Parece que depois da carta, dólar e bolsa voltaram ao normal. Vamos observar…”, completou.

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Agenda econômica 

Com o Congresso de olho na crise dos Poderes, as futuras privatizações, como a dos Correiros, por exemplo, ficam em segundo plano. As desestatizações que já passaram pela Câmara, como a da Eletrobras, esbarram em outro problema: o Senado. 

Temendo ataques de manifestantes convocados pelo presidente acampados na Praça dos Três Poderes, em Brasília, o Senado suspendeu os trabalhos nesta semana, atrasando ainda mais a agenda de privatizações e, principalmente, a votação da reforma do Imposto de Renda. 

Como se não bastasse, projetos que precisam de diálogo com a oposição, como a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios e a reforma administrativa ficam mais distantes, já que novos partidos de expressão no Congresso anunciaram oposição ao presidente após o 7 de setembro. 

Bolsa Família

O presidente do Supremo Tribunal (STF), Luiz Fux, reagiu às ameaças feitas pelo presidente Jair Bolsonaro dizendo que a Corte não toleraria ameaças e poderia enquadrá-lo em crime de responsabilidade caso não cumprisse decisão da Justiça. 

Por trás do atrito está a discussão do aumento do Bolsa Família, já que Fux também é presidente do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), responsável direto pela negociação dos precatórios, vista como única saída para o aumento do Bolsa Família. 

Para 2022, por exemplo, o limite a ser pago seria R$ 39,9 bilhões, de um total de R$ 89,1 bilhões previstos para o ano.

Nos bastidores, comenta-se que não há clima para negociação entre Bolsonaro e o Judiciário para encontrar uma saída para o impasse, com isso, o aumento prometido de 50% no programa que passaria a se chamar Auxílio Brasil pode ser menor, ou mesmo nem acontecer. 


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