Saldo de vagas de emprego formais criadas no ano já ultrapassa 500 mil e deve aumentar daqui até o final do ano, ainda que apenas
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Saldo de vagas de emprego formais criadas no ano já ultrapassa 500 mil e deve aumentar daqui até o final do ano, ainda que apenas

O Ministério do Trabalho confirmou nesta sexta-feira (21) que o Brasil gerou saldo positivo de 110.431 vagas de emprego com carteira assinada no mês de agosto. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram registradas 1,242 milhão de demissões, mas 1,353 milhão de contratações, o que representa o melhor resultado para o mês nos últimos cinco anos.

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O resultado de agosto, somado às outras 47.319  vagas de emprego formais criadas no mês de julho devem aliviar um pouco o índice divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que informou que o Brasil encerrou o primeiro semestre do ano com  12,9 milhões de desempregados , o que corresponde a 12,3% da População em Idade Ativa (PIA) do País.

Dessa forma, segundo o próprio governo, o Brasil acumula um saldo positivo de 568,5 mil empregos formais com carteira assinada criados apenas no ano de 2018 e um saldo positivo de 357 mil postos de trabalho na série histórica desde setembro do ano passado. Uma boa notícia sobretudo para os grupos mais afetados pelo desemprego : mulheres, jovens, negros e pessoas com baixa escolaridade.

Isso porque enquanto a taxa de desemprego média é de 12,4%, no recorte por gênero, entre as mulheres esse índice sobe para 14,2% e entre os homens cai para 11%, demonstrando que elas têm mais dificuldade de encontrar emprego e se manter empregadas do que eles no Brasil.

Evidência ainda mais alarmante ocorre no recorte por faixa etária. Como já dito, enquanto o índice médio de desemprego é de 12,4%, entre os jovens de 18 a 24 anos esse índice salta para 26,6%. Juntos, apenas esse grupo reúne 4,1 milhões de pessoas ou 32% do total de 12,9 milhões de desempregados registrados pelo IBGE no último levantamento realizado no final do primeiro semestre.

Enquanto isso, parece que a cor da pele ainda é um fator decisivo para decidir quem está empregado e quem não está no mercado de trabalho. Ainda segundo a análise do IBGE é possível afirmar que a população autodeclarada preta e parda sofre mais com o desemprego do que a população branca.

Isso porque o percentual de pretos desempregados é de 15%, o de pardos é de 14,4% e o de brancos é de apenas 9,9%, a única faixa que fica abaixo da média de 12,4%. Em dados gerais, os pardos representam 52,3% dos desempregados, enquanto os brancos são 35% e os pretos 11,8%.

A título de comparação, o IBGE resolveu comparar o segundo trimestre de 2018 com o primeiro trimestre de 2012 quando os índices de desemprego começaram a subir na sequência histórica.

Dessa forma, o instituto observou que, há seis anos, quando o contingente de desempregados no País era de 7,6 milhões de pessoas, os pardos representavam 48,9% dessa população, os brancos 40,2% e os pretos 10,2%. Ou seja, apenas os brancos tiveram redução no percentual de desemprego, o que indica que dos 5,3 milhões de novos desempregados registrados no período, a ampla maioria é de pretos ou pardos.

Para começar a melhorar esse desempenho, esse é o segundo mês consecutivo que o País registra saldo positivo de geração de empregos, já que em junho as demissões superaram as contratações por pouco: 661 vagas. Com os dados, o nível de estoque do emprego formal aumentou para 38,4 milhões, número superior aos 38,0 milhões de agosto de 2017, mas abaixo do apresentado no mesmo período nos anos anteriores, desde 2012, o último ano antes da crise econômica.

Entre 2010 e 2014, o Brasil apresentou desempenho positivo nos dados do Caged , apresentando grandes quedas em 2015 e 2016. Em 2017 o saldo também foi negativo, mas menor, com 123 mil postos de trabalho fechados. Já em 2018, como dito antes, por enquanto o saldo positivo é de 568,5 mil empregos formais e a expectativa é de que aumente já que o final do ano sempre representa um aumento das vagas de emprego, ainda que temporárias.

Na prática, os dados divulgados pelo Ministério do Trabalho confirmaram o que o presidente Michel Temer havia publicado na véspera, numa mensagem do Twitter em que informava que o País tinha gerado mais de 100 mil vagas formais de trabalho no mês passado.

Vagas de emprego aumentaram em praticamente todos os setores

Setor de serviço foi responsável por mais de 50% das geração de novas vagas de emprego, mas subsetor da construção civil também apresentou ótimo resultado
Antonio Cruz/Agência Brasil
Setor de serviço foi responsável por mais de 50% das geração de novas vagas de emprego, mas subsetor da construção civil também apresentou ótimo resultado

Além dos números, a boa notícia em relação a geração de empregos se dá pela demonstração de uma tendência de recuperação em sete dos oitos setores da economia analisados. Com exceção da agropecuária, o único em que houve mais demissões do que contratações, todos os demais apresentaram saldo positivo, o que mostra um crescimento sólido e não ocasional.

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O maior número de novas vagas, no entanto, foi registrado no setor de serviços que puxou a fila das altas gerando sozinho 66.256 novos empregos com carteira assinada ou 58,2% do total de 113.780 novos empregos gerados em agosto. Confira a lista completa:

  • Serviços: + 66.256
  • Comércio: + 17.859
  • Indústria de transformação: + 15.764
  • Construção civil: + 11.800
  • Serviços industriais de utilidade pública: +1.240
  • Extrativa mineral: +467
  • Administração pública: + 394
  • Agropecuária: - 3.349

Já os principais subsetores que tiveram saldo positivo foram o de ensino, serviços médicos e odontológicos, alojamento e alimentação, administração de imóveis, transportes e comunicações.

Proporcionalmente, a maior alta foi na construção. Com 11 mil novos empregos formais, o setor cresceu 0,57% em comparação com julho, apresentando bons resultados em obras de edifícios e instalações industriais especialmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Já o setor de comércio foi impulsionado tanto pelas vendas no mercado varejista quanto no atacadista. A indústria de transformação registrou alta de emprego nos ramos alimentício, de bebida, químico, mecânico, madeireiro, dentre outros. Por outro lado, foram apresentadas quedas no número de admissões da indústria de borracha e fumo, na de vestuário e têxtil.

De qualquer forma, a geração de emprego deve confirmar uma reversão da tendência de queda registrada no mês de julho tanto no comércio quando no setor de serviços isso porque enquanto as  vendas do comércio varejista recuaram 0,5% na passagem de junho para julho deste ano e registraram a terceira queda mensal consecutiva no indicador, o volume de serviços prestados em julho também caiu 2,2% em relação ao mês anterior, após recuar 3,4% em maio e avançar 4,8% no mês de junho, na série com ajusta sazonal.

No recorte por estados, por sua vez, segundo o Ministério do Trabalho, 22 unidades da Federação tiveram saldo positivo de vagas em agosto. Os cinco estados com desempenho negativo foram Acre, Sergipe, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Maranhão.

A primeira colocada em geração de emprego, no entanto, foi a Paraíba, com a abertura de mais de 7 mil empregos, crescimento de 1,85% em relação ao mês anterior. Em seguida vêm, proporcionalmente, os estados de Alagoas, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Pará e Amapá. Com os dados, a região Nordeste apresentou um crescimento percentual superior às demais regiões do País.

A geração de empregos no Nordeste é importante porque pode ajudar a  reduzir o número de desalentados que se concentram, seis em cada dez, nessa região. Com a retomada, mais pessoas que estavam desestimuladas a procurar emprego podem retomar as buscas, o que pode até aumentar o índice de desemprego no curto prazo já que eles não são incluídos na conta quando desistem de procurar emprego, mas significa, de qualquer forma, uma boa notícia para o País já que mais gente está sendo reincluída na força de trabalho ainda que potencial.

Trabalho intermitente vs. trabalho fixo

Vagas de emprego intermitentes e temporários representaram apenas uma fração do total de vagas geradas no mês de agosto
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Vagas de emprego intermitentes e temporários representaram apenas uma fração do total de vagas geradas no mês de agosto

O Ministério do Trabalho também investigou a "qualidade" das vagas de emprego geradas no mês de agosto e divulgou os dados relativos ao trabalho intermitente, aquele que ocorre esporadicamente, em dias alternados ou só por algumas horas, e no qual o trabalhador é remunerado pelo período trabalhado numa forma mais flexível, porém, mais precária de trabalho.

Segundo o levantamento, houve 5.987 admissões e 1.991 desligamentos na modalidade de trabalho intermitente no mês passado. Com isso, houve um saldo positivo de 3.996 empregos no período correspondente, portanto, a apenas uma parcela de 3,5% do saldo total de empregos gerados no período.

Também no mês passado, houve aumento de 3.165 vagas de trabalho parcial, saldo resultado de 7.374 admissões e 4.209 desligamentos. Essa modalidade é aquela em que o trabalhador é contratado por um período determinado de tempo, já com previsão de quando terá seu vínculo encerrado. Esse saldo, por sua vez, também representa apenas 2,8% do total.

A má notícia, no entanto, fica por conta do salário pago por essas novas vagas geradas. Se o valor médio do salário dos trabalhadores admitidos no mês de agosto subiu R$ 5,26 em relação a julho e chegou a R$ 1.541,53, por outro lado, houve uma perda real (descontada a inflação) de R$ 1,50 em relação ao salário médio pago no mês de agosto de 2018, uma informação mais relevante para analisar a curva histórica.

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Já a diferença entre o salário médio de quem foi demitido e de que assumiu uma das novas vagas de emprego geradas em agosto foi de R$ 159,27 para baixo. Isso porque enquanto quem foi demitido em agosto tinha um salário médio de R$ 1.700,80, o salário médio de quem foi contratado foi de R$ 1.541,53, o que pode representar um problema para a Previdência Social já que está sendo necessário pagar os direitos sociais de quem foi demitido com um salário maior, enquanto se arrecada com quem está trabalhando por um salário menor.

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