Dados apurados pelo Indicador de Reserva Financeira da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) confirmaram a hipótese que muitos já faziam: o brasileiro está com muitas dificuldade para conseguir economizar dinheiro.
Leia também: Caixa antecipa lucros do FGTS para 90 milhões de trabalhadores
Mais especificamente, o Indicador revelou que apenas 18% dos brasileiros conseguiram economizar dinheiro no mês de julho. Em média, o valor guardado por essa pequena parcela foi de R$ 520. Já a maioria (73%) terminou o mês sem nenhuma reserva e a principal justificativa é a renda muito baixa, que inviabiliza sobras para guardar dinheiro (44%).
Entre outros motivos apontados, 17% alegam imprevistos, 15% dizem não possuírem renda no momento — provavelmente por estarem desempregados — e 14% reconhecem que há falta de controle ou disciplina sobre os próprios gastos.
De acordo com o levantamento, o número de poupadores é maior nas classes A e B, chegando a 39%. Já nas classes C, D e E, esse percentual cai para 13%. A diferença retrata o cenário de que a renda impacta aqueles que disseram não ter condições de poupar. Mas chama a atenção o fato de que mesmo nos extratos mais elevados de renda o volume de poupadores no mês de junho não alcançou nem a metade.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, os dados mostram que não é só nas classes de menor renda que a cultura de poupar é um problema.
“Quanto menor a renda, maior é a proporção de recursos destinada a gastos básicos, dificultando a formação de reserva. Mas a questão passa por adquirir hábitos de dispor de uma reserva mínima, que possa crescer com o tempo e com o reforço dos juros. Sem reserva financeira, quando os imprevistos acontecem o consumidor acaba sendo empurrado para linhas de crédito que são muito caras, como empréstimos e cheque especial, por exemplo”, analisa, a economista que acredita que parte do problema é uma questão de educação financeira .
Para quê economizar dinheiro?
Diante desse cenário, a pesquisa também foi investigar mais a fundo os motivos que levam o brasileiro a tentar ou não economizar dinheiro.
A sondagem revelou que 35% dos brasileiros costumam poupar habitualmente, sendo que 28% afirmam guardar o que sobra do orçamento e 7% estipulam um valor a ser poupado. Já 55% dizem não ter o hábito de poupar.
Entre os brasileiros que têm o hábito de poupar, o principal objetivo apontado é cobrir imprevistos que possam surgir (53%). Outro destino para o dinheiro guardado é garantir um futuro melhor à família (37%), enquanto há quem faça uma reserva no caso de desemprego (28%). Além dessas finalidades, 17% disseram juntar para a aposentadoria, 16% para arcar com a educação dos filhos, 15% para viagens e 15% para a reforma da casa.
Você viu?
Leia também: Gastos de brasileiros no exterior caem 7,87% em julho em relação a 2017
Quando perguntados onde guardam o dinheiro economizado, a velha e conhecida Poupança continuou liderando as aplicações, citada por 64% dos que poupam habitualmente. Enquanto guardar dinheiro em casa é a segunda opção, mencionada por 25% dos brasileiros. Em terceiro lugar, aparece a Conta Corrente (15%); em quarto, os Fundos de Investimentos (9%); em quinto, a Previdência Privada (7%); e por último, os CDBs (7%).
A Poupança ainda é a modalidade de investimento mais conhecida pelos brasileiros: 92% já ouviram falar. Em seguida vêm os títulos de capitalização (57%), os planos de previdência privada (53%), as ações em bolsas de valores (42%), os fundos de investimentos (34%), o Tesouro Direto (25%) e os CDBs (25%).
“A poupança acaba sendo um método fácil, de baixo risco e isento de taxas. Por permitir o resgate do dinheiro a qualquer momento, torna-se uma opção atrativa. Além de muitas desconhecem outras alternativas oferecidas pelo mercado”, avalia a economista.
Para os entrevistados que fazem escolhas mais conservadoras de investimento, as principais razões: facilidade para sacar os recursos (34%), além da percepção de que têm pouco dinheiro para investir em outras modalidades (26%), conhecimento insuficiente sobre as alternativas disponíveis (21%), hábito de usar modalidades tradicionais (20%) e medo de perder dinheiro (17%).
Além de não economizar dinheiro, brasileiro precisou usar as reservas
A sondagem ainda mostra que 38% dos poupadores precisaram sacar alguma parte dos seus recursos em julho. Os imprevistos foram a principal razão para o saque, citado por 13%. Outros 8% sacaram porque os ganhos não haviam sido suficientes, 8% para quitar dívidas pendentes e 5% por estarem sem emprego.
A conjuntura econômica, com o alto índice desemprego e a queda do poder de compra, seguem prejudicando o orçamento das famílias. Na contramão da poupança, o que se vê é um grande contingente de consumidores negativados. Tanto que a própria CNDL/SPC divulgou recentemente que o número de inadimplentes cresceu 4,31% em julho ante o mesmo período do ano passado. Ao todo, o país fechou o mês passado com 63,4 milhões de negativados - marca que representa 41% de toda a população adulta.
Entre os boletos atrasados, o crescimento mais expressivo foi o das contas de serviços básicos, como água e luz, cuja alta registrada em julho é de 7,66% em relação a 2017. As dívidas bancárias dos inadimplentes , que incluem o cartão de crédito, o cheque especial, os empréstimos, os financiamentos e os seguros aparecem logo em seguida, com variação de 6,90% no período.
Leia também: Boletos vencidos entre R$ 400 e R$ 799 já podem ser pagos em qualquer banco
“Mas nem tudo se deve à crise. Há um percentual importante de consumidores que não poupam e admitem não fazer por descontrole ou indisciplina. A negligência do controle financeiro também é uma realidade. Mudar essa realidade é um desafio que requer a superação do desemprego e a disseminação da educação financeira, para que consumidor possa não só economizar dinheiro , mas tomar melhores decisões na hora de investir”, orienta o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
*Com informações da CNDL/SPC Brasil