Imagine que, durante o transporte, a porta de uma geladeira novinha seja amassada ou que o sofá seja maior do que se imaginava e os produtos sejam devolvidos às lojas online. Reparados ou em perfeito estado, mesmo que sem uso, eles não podem voltar às embalagens e serem vendidos como novos. Essa realidade cotidiana de grandes e-commerces que atuam no Brasil deu origem a um nicho de mercado, com lojas de produtos “fora da caixa” ou “salvados”.
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Novos, reparados ou com avarias estéticas, artigos com esse histórico são revendidos e os descontos chegam a 80% do valor original. A oferta de ' produtos fora da caixa
' acaba sendo vasta, uma vez que a lei garante um período de desistência de compra, sem justificativa, de até sete dias para aquisições realizadas fora de lojas físicas – e muitos acabam fazendo uso desse direito.
No caso da confeiteira Patrícia Viana Pereira, 26, a compra fora da caixa foi a opção na hora de renovar a cozinha. Ela optou por um empreendimento do gênero no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo. Calcula que na aquisição de fogão, geladeira e utensílios, economizou cerca de 30% do que investiria em lojas tradicionais.
“Soube da existência desses negócios por um vídeo de uma blogueira que ensinava como se dar bem. Fiz como ela: fiquei olhando os preços online e pechinchando”, afirma, recomendando que novos clientes se mantenham abertos a concessões. “Não comprei da marca ou modelo que queria e nem tudo vale a pena, mas a diferença que consegui foi de mais ou menos R$ 500”, afirma.
No empreendimento em que Patrícia esteve, o Armazém7, há um pouco de tudo. Um magic trackpad da Apple, que vale cerca de R$ 800 no mercado tradicional, era oferecido por R$ 549, enquanto uma caixa bluetooth da Sony, SRS-XB20, de R$ 449, podia ser adquirida por R$ 299. Não há um catálogo exato dos produtos disponíveis, nem uma arrumação padrão do que é exposto em grandes galpões (no maior estilo caos organizado) – as ofertas dependem diretamente das oportunidades de aquisição de lotes das grandes redes de e-commerce nacionais. Cada grupo de produtos pode representar investimentos que vão de R$ 50 mil a cifras milionárias.
“A loja surgiu organicamente, depois que passamos a adquirir lotes de leilões. Hoje, trabalhamos com o open box, quando o produto está perfeito, mas com danos na embalagem; saldo, quando há defeitos estéticos, mas não funcionais; e com sucata, quando há defeitos de funcionamento que consertamos e, assim, revendemos”, explica Flávio Ferrer, um dos sócios da loja, em atuação há 17 anos e atualmente com até 15 mil pedidos faturados mensalmente.
Na concorrente de mesmo gênero (que, na Mooca, divide até a mesma rua de atuação), OpenBox2 Outlet, o investimento é pesado em produtos para a casa e escritórios carregados de estética, com variedade de estofados, cadeiras e penduricalhos diversos. “A ideia é comercializar móveis e acessórios com design e qualidade, com pronta-entrega e a preços acessíveis, com até 80% de desconto. Trabalhamos com peças com pequenas avarias, e também novas, sem avaria alguma”, diz o diretor geral da rede que já conta com nove lojas em São Paulo.
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Produtos podem ter diferença, direitos do consumidor, não
Fundamentalmente, todos os direitos do consumidor são mantidos na compra de 'salvados' ou reembalados . A diferença básica é que, se houver algum defeito, ainda que estético, o empreendimento tem a obrigação de informá-lo claramente ao cliente. A informação é do professor associado do departamento de direito civil da Universidade de São Paulo (USP), Antônio Carlos Morato.
Nesse cenário, compras desse tipo de artigo pela internet têm garantido o direito ao arrependimento no caso de venda online, pelo mesmo prazo de sete dias, mas não em casos de aquisição presencial, já que a pessoa tem a oportunidade de tirar suas dúvidas e verificar o produto pessoalmente. Em ambos os casos, incide a garantia legal de pleno funcionamento por um período mínimo de 90 dias.
Morato afirma também que esse tipo de transação em nada afeta o direito do consumidor à assistência técnica. “Em princípio, ela estará condicionada ao prazo legal ou ao contratual (que será estabelecido pelo fornecedor e pode ser de 6 meses, 1 ano, 4 anos, etc). É claro que, se ele afirmar não ser responsável pelo produto fora dos defeitos já informados e que não oferece assistência técnica, violará o que estabeleceu o Código de Defesa do Consumidor”, esclarece, acrescentando uma regra de ouro para começar comprando certo – verificar a reputação de cada loja em fóruns online a exemplo de Proteste, ReclameAqui etc.
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5 dicas para se dar bem com reembalados
A pedido da reportagem, o chefe de gabinete do Procon-SP, Guilherme Farid, apontou as dicas que são consideradas essenciais para quem deseja investir em salvados e reembalados. Ele lembra que, no caso da compra ter sido feita por telefone ou pela internet, prevalece o direito do consumidor ao arrependimento, com frete coberto pelo vendedor (reclamação mais comum registrada nesse tipo de transação).
- Pesquise antes de ir à loja – Cabe ao consumidor pesquisar quanto vale cada item a ser comprado, inclusive seu preço de mercado no caso de uso ou avarias. O direito ao arrependimento não contempla casos em que o cliente se sente injustiçado por ter pago demais ao, por exemplo, ver outras ofertas após a aquisição.
- Pergunte tudo o que for possível – É direito do cliente ter todas as informações sobre o produto, de forma clara e adequada, incluindo quaisquer avarias. Não pode haver surpresa decorrente de um “estado diverso” do que foi discutido e acordado. “A Justiça sempre parte da ideia de que o consumidor é a parte vulnerável, logo, mais passível de ser enganada”, explica Farid.
- Nota fiscal é essencial – Ela é a garantia da legitimidade da transação, indicando não apenas que ela foi feita dentro da lei, como regulando o início da contagem da garantia assegurada por lei, pelo prazo de 90 dias após a compra.
- Vício de funcionamento é coberto por garantia – Avarias estéticas ou de naturezas diversas, devidamente informadas, não podem ser reclamadas após a compra. No entanto, vícios de funcionamento, que comprometem o uso, sim. Dentro do prazo da garantia legal mais a garantia da loja, o consumidor pode levar o produto para ter o problema resolvido dentro de um prazo de 30 dias. A partir do 31º, deve lhe ser oferecidas as opções de restituição do dinheiro ou troca por produto equivalente.
- Comprar de terceiros não te garante direitos – O código do consumidor visa proteger a relação entre lojas (pessoa jurídica) e consumidores (pessoa física). Transações de produtos fora da caixa, novos ou usados, realizadas entre pessoas físicas não são passíveis de arbitração à luz do direito do consumidor ou de reclamações junto ao Procon.
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Onde encontrar lojas open boxes e de salvados:
Armazém 7
Rua Natal, 571, Mooca, Telefone: 2084-4073.
Comercial Smart
Rua Galatea, 1538 - Carandiru – SP. Fone: (11) 2218-2586
Av. Guilherme Cotching, 1997 - Vila Maria - São Paulo. Fone: (11) 3774-3682
Av. Joaquina Ramalho, 513 - Vila Guilherme – São Paulo. Fone: (11) 3562-4007
R. Dr. Deodato Wertheimer, 1693 - Centro - Mogi das Cruzes. Fone: (11) 2378-1008
Rua Chico Pontes, 600 - Vila Guilherme – SP. Fone: (11) 2909-0199
MBV Salvados
Av. Silvestre Pires de Freitas, 959, Jardim Paraíso, Guarulhos, SP (11) 2358-2315
OpenBox2 Outlet
Fone: (11)3641-9988
Loja Chácara Klabin - Av. Dr. Ricardo Jafet, 2976
Loja Interlagos– Av. Interlagos, 3655
Loja Vila Leopoldina - Rua Baumann, 1149
Loja Vila Leopoldina Objetos - Rua Baumann, 1297
Loja Moóca - Rua Natal, 571
Loja Tamboré / Alphaville - Av. Aruanã, 1100
Loja Santana - Rua Voluntários da Pátria, 820
Loja Freguesia do Ó - Av. Inajar de Souza, 51
SouBarato
Rua Sacadura Cabral, 102 - Rio de Janeiro, RJ. www.soubarato.com.br
Super Preço Oportunidades e Salvados
Rua Doutor João Ribeiro, 600, Penha da França. Telefone: 2225-2706.
Praça Angelo Conti, 13, Vila Sabrina – Telefone: 2309-2527.