Além de Fabio Schvartsman, o conselho administrativo da Vale também vai afastar outros três diretores da companhia
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Além de Fabio Schvartsman, o conselho administrativo da Vale também vai afastar outros três diretores da companhia

A Vale afirmou, neste sábado (2), que seu conselho administrativo decidiu acatar o pedido de afastamento do presidente Fabio Schvartsman e outros três diretores encaminhado pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal após a tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais. As informações foram publicadas pela revista Veja e pelo blog do Valdo Cruz, do G1

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O afastamento imediato foi recomendado pelas autoridades que trabalham na força-tarefa que investiga o rompimento da barragem da Vale na cidade mineira. Os órgãos públicos deram dez dias para que a mineradora analisasse o pedido. Fontes ligadas à empresa, porém, confirmaram o desligamento de Schvartsman e dos diretores já neste sábado.

As autoridades também pediram que o funcionários da mineradora não compartilhem nenhuma informação profissional com aqueles que estão de saída. Além do presidente, integram este grupo o diretor-executivo de ferrosos e carvão, Gerd Peter Poppinga; o diretor de planejamento, Lúcio Flávio Gallon Cavalli; e o diretor de operações do corredor sudeste, Silmar Magalhães Silva.

Em nota à imprensa, a Vale disse que coopera com os responsáveis pela investigação da tragédia, fornecendo tudo que lhe é solicitado e colocando seus funcionários à disposição para prestar depoimentos. O objetivo, segundo a mineradora, é "auxiliar no esclarecimento das causas do lamentável rompimento da barragem [da Mina Córrego] do Feijão".

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Segundo as últimas informações, 186 pessoas morreram e 122 continuam desaparecidas após a tragédia em Brumadinho . O rompimento da barragem no dia 25 de janeiro também afetou gravemente o ecossistema da região: de acordo com um estudo da Fundação SOS Mata Atlântica divulgado na última quarta-feira (27), o rio Paraopeba está morto. A análise feita pela entidade não encontrou nenhum sinal de vida ao longo de mais de 30 km do rio.

Sobre Fabio Schvartsman

Fabio Schvartsman assumiu a presidência da Vale em 22 de maio de 2017 e ficaria à frente da mineradora até 2020
Divulgação/Vale
Fabio Schvartsman assumiu a presidência da Vale em 22 de maio de 2017 e ficaria à frente da mineradora até 2020

Graduado e pós-graduado em engenharia de produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Fabio Schvartsman foi diretor financeiro da Ultrapar, chefiou a Duratex e presidiu a Klabin antes de se tornar presidente da Vale. O executivo assumiu o cargo em 22 de maio de 2017 e ficaria à frente da mineradora até 2020.

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Em carta ao conselho administrativo da Vale , Schvartsman disse acatar o pedido de afastamento temporário das funções "em benefício da continuidade das operações da companhia e do apoio às vítimas e a suas famílias". Veja a íntegra:

"Tenho em mãos a Recomendação nº 11/2019, dirigida a esse Conselho pelo Ministério Público Federal em conjunto com o Ministério Público do Estado de Minas Gerais e em atuação coordenada com a Polícia Federal e a Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, da qual consta recomendação do imediato afastamento de certos diretores e empregados da Vale, incluindo o meu próprio.

Como é do pleno conhecimento desse Conselho, desde os dramáticos eventos de 25 de janeiro, venho dedicando todos os minutos de meus dias e noites, no limite máximo de minhas forças, às frentes de reação da companhia àqueles eventos, determinadas por esse Conselho e por mim mesmo, em conjunto com os demais membros da Diretoria, com absoluta priorização do atendimento às vítimas e às suas famílias, à apuração direta e à cooperação com a apuração dos fatos e à preservação das atividades da Vale, cruciais para o Estado de Minas Gerais e para o Brasil.

Como esse Conselho de Administração também não desconhece, foram desde logo adotadas pela Diretoria, sob meu comando, todas as medidas necessárias à preservação da integridade da informação disponível, para que a apuração independente dos fatos, pelas autoridades e pelo Comitê imediatamente criado por esse Conselho por proposta da Diretoria, possa ser realizada com a maior brevidade e profundidade.

Desde o momento em que ocorreu a tragédia que se abateu sobre as vítimas, suas famílias e sobre esta companhia estratégica para os interesses do país, fiz questão de atender pessoalmente a todas as demandas, da imprensa e das autoridades, sem intermediação de quem quer que fosse, de maneira a transmitir diretamente às vítimas, a suas famílias, à opinião pública, aos acionistas e a todos interlocutores da Vale, o nosso compromisso com a atuação mais adequada e de alto nível possível da companhia, no momento mais grave de sua história.

Estou absolutamente convicto de que minha atuação pessoal e a dos demais membros de nossa Diretoria, cujo afastamento é agora solicitado, foi absolutamente adequada, correta e, principalmente, fiel aos nossos valores inegociáveis de proteção à segurança das operações da companhia, e às diretrizes nesse sentido emanadas desse Conselho. Assim como estou absolutamente convicto de que a continuidade de nossa atuação continuaria a ser a maneira mais eficaz de a Vale obter e promover os melhores resultados em sua reação à tragédia. Entretanto, há momentos em nossas vidas em que é preciso sacrificar as convicções pessoais em benefício de um bem maior. E este é um desses momentos, pois minha presença no comando da Vale passou a ser percebida como inconveniente por autoridades que seguirão interagindo diuturnamente com a companhia"

É muito difícil para mim, após décadas de atuação como executivo de algumas das maiores empresas do Brasil, e tendo colhido o reconhecimento de minha dedicação e apoio aos milhares de colegas, colaboradores, acionistas e demais constituintes com quem ombreei ao longo de todos aqueles anos na tarefa de gerar empregos, riqueza, tributos e governança de primeiro nível, retirar-me da linha de frente, ainda que temporariamente, quando o desafio mais agudo se apresenta. Mas essa frustação daquilo que percebo como meu dever de dedicação integral às vítimas, a suas famílias, a todos os colaboradores da Vale e ao país, é irrelevante quando comparada à dor que se espalha entre milhares de pessoas neste momento e deve ceder diante do valor maior de preservação dos interesses da nação que a Vale representa.

Por tudo isso, ainda que com a absoluta convicção da retidão de minha conduta e do dever cumprido até aqui, e certo de que a percepção dos fatos que levou à recomendação de afastamento não corresponde absolutamente à sua realidade, tomei a decisão, nesta hora, em benefício da continuidade das operações da companhia e do apoio às vítimas e a suas famílias, de solicitar a esse Conselho, respeitosamente, que aceite o pedido de meu afastamento temporário das funções de diretor presidente da Vale."

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