A história que você vai ler agora termina com um cara fazendo o que sempre sonhou, tendo certa liberdade financeira e sendo dono da própria trajetória profissional. Mas se você estivesse lá no começo dela, vendo tudo de perto, te garanto que jamais apostaria nesse desfecho.
Até porque lá atrás a única bagagem profissional que esse mesmo cara, na época com 17 anos, tinha…era um apelido.
“O chato que liga todo dia”.
Nessa época pré-histórica em que as redações de TV ainda dependiam de telefones fixos (acredite) tinha um em especial, numa pequena afiliada do SBT em Campinas, que tocava insistentemente em algum momento da tarde, sempre com o mesmo pedido.
- “Olá! Tudo bem? Posso falar com o André Camarão?”
O Camarão, que depois eu passaria a chamar simplesmente de André, era o diretor de jornalismo que todos os dias esse menino insistente procurava. E do outro lado da linha, você já deve ter concluído, estava este colunista que vos escreve. Só que numa versão mais cabeluda, 16 anos mais nova e...
vinte vezes mais ansiosa.
Daí o apelido, que passou a ser reproduzido em tom de zueira pelos jornalistas que trabalhavam lá e que, naquela época, brincavam de fazer rodízio com as minhas ligações.
- “E aí, gente, quem atendeu o chato hoje?”
Na mesma proporção da chatice, o que eu também tinha era uma baita cara de pau. Uma habilidade de não me abalar com o resultado daqueles papos rápidos e quase sempre iguais em resultado, que eu já esperava.
- “Ô, Teo. Por enquanto sem mudanças por aqui, cara. Mas vai ligando que a gente conversa”. “Vai ligando que a gente conversa”.
Se você pensar bem nessa frase, ela pode tranquilamente ter duas interpretações na cabeça de quem ouve:
1. Ou é papo furado de alguém que quer te enrolar simplesmente porque não acredita que você vai continuar insistindo.
2. Ou então é um jeito de dizer, nas entrelinhas, que um belo dia o seu esforço pode acabar provando que vale a pena te contratar!
Todos os dias eu pegava o telefone e fazia uma escolha: acreditar na segunda opção.
E acreditava tanto que, depois de um tempo, eu já nem tinha mais aquele sentimento de frustração ao final de cada tentativa frustrada. Eu simplesmente coloquei na minha programação mental que ligar – todos os dias – pra redação do SBT Campinas e pedir uma oportunidade de estágio era a minha melhor chance de começar a carreira de repórter com a qual eu sonhava.
Então era isso que eu fazia. Sem pressa, sem ajuda, mas sempre com esperança. Até que um dia a frase que eu ouvi do outro lado da linha mudou.
- “Teo, vem aqui pra gente conversar”.
Não seria só uma conversa. Era o início do meu estágio mais esperado e de uma carreira que, todo esse tempo depois, já teve milhões de saltos, quedas e transformações. Mas que em uma coisa jamais mudou:
Eu nunca deixei de ser “o chato que liga todo dia”. Porque aprendi que, na vida profissional, sempre vão existir pessoas como o meu primeiro chefe.
Aquelas da opção 2, lembra? Que vão olhar para sua insistência e energia como os principais motivos pra te dar a chance que você tá procurando.
Então termine de ler esta coluna e vá correndo praticar a sua dose diária de chatice!
Lembre-se que, no outro lado da linha, sempre pode ter alguém dizendo: “se esse chato continuar insistindo assim... vai acabar me convencendo”.