A COP28 acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos
Reprodução/ENGIE - 09.06.2023
A COP28 acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos


O nosso país tem 37 ministros de Estado.

Só que, enquanto você lê este texto, quinze deles –40% do total – não estão no Brasil .

É que ao invés de ocuparem seus lugares em Brasília estes homens e mulheres viajaram para um paraíso da grana e da ostentação. Um lugar em que os enormes arranha-céus só não são maiores que as fortunas dos grandes magnatas que construíram o país.

Já te aviso que é uma viagem para pouquíssimos sortudos e, ainda por cima, acompanhada por ninguém menos que o presidente Lula , que está liderando a galera nesse rolê de gente importante.

E claro: tudo pago com o seu, o meu, o nosso... suado dinheirinho!

Mas calma. Respira.

O que você está lendo NÃO é uma notícia de corrupção, escândalo político ou algo parecido. Já há algum tempo deixei de mexer com este tipo de coisa, benzadeus.

Mas sim, o que estou fazendo aqui é uma denúncia!

E contra VOCÊ, caro leitor, que chegou até esta altura do meu texto sem ter a menor ideia sobre o que estou falando. Se a carapuça serviu, não me leve a mal, mas você PRECISA se informar melhor. 

Porque a viagem pomposa que descrevi acima, com liberdade poética e toques de storytelling, é a comitiva brasileira que embarcou para a COP28 – Conferência Global das Mudanças Climáticas , que está acontecendo em Dubai, nos Emirados Árabes.

O evento mais importante do ano, sim senhor!

Ainda mais num ano como 2023, em que o aquecimento global nunca deixou tão claro o tamanho do sufoco em que a gente se enfiou.

E não venha botar panos quentes na sua falta de informação, até porque de quentes já bastam os recordes de temperatura que o mundo inteiro está registrando graças a nossa frieza... diante do tema ambiental.

Desabafo feito, vamos ao que interessa.

Aliás, nunca interessou tanto. É por isso que o Lula está levando esse punhado de gente para Dubai. Além dele próprio e do time de ministros, cerca de 2400 empresários e cientistas brasileiros se inscreveram como representantes oficiais do Brasil. Um número recorde desde que o encontro aconteceu pela primeira vez, em 1995. 

A super delegação é um recado claro ao mundo de que o atual governo brasileiro prioriza o meio ambiente , o que vem pegando muito bem para nossa imagem internacional. E também, convenhamos, um jeitinho sutil que o presidente petista achou de mandar aquele “oi, sumido” para o último chefe do executivo, Jair Bolsonaro, que nunca foi de dar muita bola para essas pautas de comunista.

Tanto que, como presidente, Bolsonaro jamais compareceu ao encontro. Lula, ao contrário, nem tinha assumido a cadeira quando fez da COP27, em novembro do ano passado, seu primeiro compromisso “oficial” como presidente eleito.

E agora, formalmente, tá louco para dar as caras e a boa notícia, que deve ser a nossa grande cartada nesta edição: o Brasil reduziu em 22% o desmatamento da Amazônia em 2023 e tá chegando com moral para ser um dos protagonistas do encontro, como fez questão de destacar Marina Silva, ministra do Meio Ambiente. “Brasil vai à COP28 para cobrar, e não para ser cobrado”, disse orgulhosa.

Detesto jogar água no drink vegetariano da nossa querida Marina, mas nem só das belezas de Amazônia e Pantanal vive nosso cenário ambiental.

O Brasil está entre os seis países que mais emitem CO2, gás principal causador do efeito estufa. O bioma Cerrado, que cobre 25% do território nacional, segue sendo desmatado em larga escala. Enquanto isso no Congresso Nacional, o Marco Temporal, proposta que ameaça as terras indígenas e, consequentemente, a proteção das florestas nativas, é defendido por muitos políticos como a melhor solução para resolver a demarcação das propriedades dos povos originários. E com grandes chances de passar a valer em breve.

Por isso que, assim como qualquer outra nação industrializada em desenvolvimento, o Brasil precisa – e muito – ser cobrado seriamente. Lula tem que voltar das arábias com mais na bagagem do que elogios, tapinhas nas costas e histórias boas para contar.

A COP28 é, para muitos, a mais importante da história. E por um motivo preocupante: as metas ambientais assinadas pelos líderes globais, como o Acordo de Paris (criado na COP21 para impedir o aquecimento global), não estão sendo cumpridas.

Por isso a expectativa é de que lideranças mundiais e ambientalistas travem duros debates, tão quentes quanto nossos últimos meses por aqui.

Para saber tudo sobre o que está rolando na COP28, segue lá o canal do  POLÍTICA NO PLURAL no Spotify , que todos os dias eu vou trazer as novidades dos debates ambientais em Dubai.

Recentemente, a ONU divulgou um relatório em que traz índices recordes de emissão de gases do efeito estufa no mundo todo, o que explica o calor e as tragédias que estamos vendo acontecer em várias partes do país.

Falei sobre isso na minha última coluna do Portal IG , mas nunca é demais lembrar. Até porque, no Brasil, é desleal competir com o noticiário “indispensável”. Afinal, como resistir ao desejo de saber tudo sobre o fim de mais um namoro do Neymar?

Eu entendo, é sempre triste ver o fim de um amor sincero.

Mas existem compromissos muito mais importantes para gente prestar atenção, compartilhar e debater. E quase todos começam – e às vezes terminam – na COP.

A diferença é que quando o planeta Terra resolver dar um pé na nossa bunda... não vai ter balada e porre que resolvam.

** Teo Taveira é jornalista, produtor de conteúdo, dono de agências de publicidade, consultor de estratégias de comunicação storytelling e professor de oratória. Foi repórter e apresentador nas principais emissoras do país até deixar a última redação para, então, mergulhar no empreendedorismo e na rotina da produção audiovisual.

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