A espera do Fed e o impacto nas empresas no Brasil
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A espera do Fed e o impacto nas empresas no Brasil


Banco Central dos Estados Unidos ( o Fed ) decidiu na quarta-feira (1º) por manter a taxa de juros básica inalterada (entre 5,25% e 5,5% ao ano). A cautela da entidade monetária é motivada pela combinação de uma  economia surpreendentemente resiliente após 11 elevações na taxa de juros e a taxa de inflação que, embora tenha cedido consideravelmente quando comparada ao pico pós-pandêmico, ainda se encontra em um patamar que gera desconforto aos integrantes do Banco Central.

Jerome Powell fez questão de deixar claro que as dúvidas estão não sobre o início do ciclo de cortes, mas se a taxa de juros é contracionista o suficiente para terminar o trabalho junto à inflação. Ou seja, se novos aumentos virão (o banco central dos norte-americanos ainda não colocou cortes no radar). Nas últimas semanas as  taxas de juros mais longas nos  EUA subiram fortemente e, caso o novo nível dos juros se mantenha, é como se o mercado financeiro tivesse dado um aperto adicional aos movimentos que o Fed já fez. Por quê? Porque, por exemplo, elas servem de referência para os custos de financiamento nas operações entre bancos e famílias e empresas. Assim, as taxas maiores dos títulos (que estão associadas ao custo de captação dos bancos) são repassadas para as taxas dos empréstimos, desestimulando o investimento em máquinas, equipamentos, imóveis e estruturas, bem como a compra de bens duráveis, dentre outros.

O que foi feito (tanto pelo Fed quanto pelo mercado) será suficiente para que a inflação caia ainda mais? Só o tempo dirá. E é justamente por isso que os diretores do colegiado decidiram parar e observar. Mas o que isso significa para as empresas no Brasil ?

A política monetária dos EUA afeta as empresas por meio de três canais: o canal do balanço, o canal financeiro da taxa de câmbio e o canal comércio internacional. Elaborei sobre esses canais aqui .

Em síntese, se as taxas de juros por lá ficarem acima do que era esperado pelo mercado financeiro, teremos uma mudança nos preços dos ativos tanto nos EUA (já vimos esses movimentos nas últimas semanas, podemos ter mais pela frente), quanto no Brasil . Uma saída de capital motivada pela busca por maior remuneração nos EUA traria pressão para a taxa de câmbio real/dólar se depreciar, o que poderia incentivar ao  Banco Central do Brasil a diminuir o tamanho do corte de juros que está em curso, impactando os custos de captação das empresas brasileiras no mercado doméstico.


Isso sem falar naquelas firmas que possuem (ou pretendiam possuir) dívidas em moeda estrangeira. Se ocorrer uma reavaliação por parte dos bancos, em um ambiente de juros maiores, essas empresas encontrariam não só uma menor disponibilidade de recursos, mas também quem conseguisse contrair um empréstimo, pagaria mais caro por isso (sem falar no aumento dos custos envolvidos na proteção das variações cambiais, que também cresceriam).

Finalmente, se (quando?) os aumentos nos juros (passados e os futuros) se materializarem e esfriarem a  economia norte-americana, algumas empresas exportadoras (justamente aquelas que poderiam ser beneficiadas pela moeda brasileira se tornar mais fraca) podem encontrar dificuldades para vender seus produtos aos compradores de outros países.

Em suma, o  Fed parou para observar a economia e as empresas brasileiras deveriam fazer o mesmo. Observar atentamente os próximos passos da entidade monetária pode fazer toda a diferença no planejamento para o próximo ano.

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