SPTrans: orgulho e vergonha
Elisa Rodrigues/SPTrans
SPTrans: orgulho e vergonha


Um sistema de transporte público que permita aos cidadãos irem de casa ao trabalho e retornarem, num tempo e preço aceitáveis e previsíveis, é um dos sonhos dos brasileiros.

Em São Paulo, o sistema de transporte público tem uma gestão, ou falta dela, que envolve a prefeitura da cidade (ônibus), o governo do Estado (metrô e ferrovias) e as prefeituras da Região Metropolitana (ônibus de outras cidades). E há os ônibus intermunicipais, que são uma confusão particular.

Se a gestão é impossível, imagine se houver uma só cobrança? Fazer isso todos os dias é a principal tarefa da SPTrans. O nome da mágica é: Bilhete Único (BU).

As mudanças no sistema de pagamento do transporte público em São Paulo, com a introdução do Bilhete Único, visavam a simplificação e rapidez para os usuários. Hoje, é transtorno e aborrecimento para o povo.

O BU é um velho conhecido dos paulistas, que desde a década de 70 debatem um sistema similar a “carte orange” francesa. Com o tempo, a discussão ganhou consistência, deixando o formato do cartão como o eixo de construção da proposta e colocando a complexidade da rede (terminais em ônibus, estações e trens) como eixo central desse desenvolvimento.

Em 1996, a SPTrans definiu o modelo usado em Seul, Coreia do Sul, como o mais adequado, pela agilidade do pagamento (tecnologia Payless , cartão por aproximação), o que não resolveu os problemas e também não funcionou na época.

Somente em 2004 o bilhete único é lançado pela prefeita Marta Suplicy. Desde então, ele passou por vários ajustes de operação.


Hoje, são cerca de nove milhões de cartões validados, aceitos em ônibus de SP e intermunicipais, metrô, trens na Grande São Paulo, com tarifas que vão de 4,40 a 24 reais, em prazos que vão de três a 24 horas. A sua complexidade exige um curso para compreender (exagero meu, não muito). Mereceria elogios, se não fossem as falhas grotescas, que são recorrentes e revelam o descaso com os usuários.

Na virada do ano, tivemos o reajuste da tarifa do metrô e trens, que passou de R$ 4,40 para R$ 5,00. Os valores comprados até 31/12 deveriam ser corrigidos, de modo a preservar o poder de compra.

Mas é claro que houve falhas em alguns milhares de cartões. E os lesados são tratados como se fossem responsáveis.

A SPTrans passa a exigir que o usuário mande um e-mail (que a maioria raramente usa), ou que vá a um posto da empresa (são, aproximadamente, 27). Na lista de documentos, fornecida a cada reclamante, temos até o extrato bancário, num flagrante quebra de sigilo bancário. A regra é conhecida por todos: a empresa errou, sabe que errou e você é que tem que provar o malfeito, inclusive com detalhes.

A "suspeita" divulgada ao pé do ouvido pelos funcionários da empresa é que os problemas são causados pelos cartões emitidos pela bandeira TOP, vendidos fora de São Paulo. Não há qualquer base técnica para essa denúncia. Mas o conhecido expediente de acusar de crime quem te desagrada, pois o controle sobre o sistema é garantia de perpetuação de uma casta funcionários na empresa.

A bandeira TOP é uma invenção do governador Dória, que permitiu a entrada de empresas privadas, sem licitação, no BU. O fato de estar sob fogo cerrado não a torna inocente no caso de sua contratação, mas não a torna culpada no caso das falhas.

A forma como a SPTrans lida com essas falhas, ocultando-as, e a ausência de fiscalização efetiva do órgão regulador permitem a perpetuação desse estado degenerado em que as coisas estão.

É urgente que o Estado assuma sua função e, com o Ministério Público, tome em suas mãos uma ampla reforma da estrutura do transporte público.

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