O atual presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo
, subiu no telhado. Ele, o gato e a avó do gaiato, já sabem: seu destino já está traçado, vão cair do telhado.
Eu não vou ficar chateado. No que me diz respeito, ele apequenou a Vale . Não estou falando de resultados contábeis. Mas em valor econômico, a difícil equação em lucro para o acionista, valor para o planeta e sustentabilidade do seu negócio. Na minha visão, a Vale não faz pelo planeta nem metade do que desfaz dele. E o risco das barragens, em estado crítico, põe a empresa em risco de sobrevivência.
A empresa deveria ter assumido seu papel frente aos dois desastres ambientais que cometeu, diretamente ou por delegação. Mas não o fez. Os maiores desastres ambientais do Brasil, os rompimentos das barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019) ainda hoje são como feridas abertas, sem que a empresa faça qualquer esforço verdadeiro para resolver a situação.
Em Mariana, foi criada a Fundação Renova. Pensei que o nome tivesse alguma ligação com a Rerun Novarun, encíclica do papa Leão XIII acerca dos direitos dos trabalhadores. Mas é exatamente o oposto: Renovação aqui é destruição e desconsideração do passado. É o esquecimento. O Intercept trata do assunto com profusão de detalhes: Justiça no Brasil trata muito bem a Vale pela destruição em MG ( intercept.com.br )
O que tenho visto é que a empresa e seus acionistas estão unidos no proposito de dar um “cala boca” na população local. Inclusive, com o apoio velado dos fundos de pensão das estatais. A solidariedade entre trabalhadores "ricos”, que tem plano de Previdência Privada e os "pobres”, que tem direito ao lixo tóxico da enxurrada, me surpreende. Lembro da cena final de “A revolução dos bichos”, onde os homens e o porcos estão reunidos na sala de jantar e, pela janela, o cavalo não consegue distingui-los.
O motivo alegado para trocar o presidente da Vale foi a aproximação do Clã bolso/rolo. E com a vitória de Lula, teve sua permissão de trafegar em Brasília suspensa. Para ele, significa que o cartão de visitas do advogado lobista "pau para qualquer obra” vai para o lixo.
Esse, sem dúvida, é um bom motivo, mas não é o motivo. A Previ tem se mostrado insatisfeita com a direção da empresa, esse é o motivo.
Mas o que o principal executivo da maior empresa do Brasil, com valor de R$ 448 bilhões, teria de interesse com aquele cujo nome não deve ser pronunciado?
A rádio mar de lama, malvada como sempre, sugere conexões com a apuração das responsabilidades (não seria desapuração ?) pelos rompimentos das barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019) . Na verdade, só não houve prescrição por intervenção da ministra Rosa Weber. Quatro dias antes do prazo fatal, foram indiciadas 16 pessoas por homicídio qualificado de 270 pessoas, entre outros crimes. A Vale e a consultoria alemã Tüv Süd, que assinou laudo de estabilidade da barragem, também são julgadas. As duas empresas podem ser punidas com diferentes sanções.
Os advogados das vítimas têm várias projeções para as indenizações, que podem chegar a 200 bilhões de reais. A rádio também garante que Bartolomeo contratou a FSB para reverter a imagem negativa que ele deixou. Dirigida pelo competente aplicado Chiquinho Brandao, é talvez a maior agência de comunicação do País. Grande Chiquinho, me desculpe, desta vez torço pelo seu fracasso.
E o cenário não está bom para a Vale . Levantamento da Agência Nacional de Mineração, a respeito dos riscos de ruptura de barragens, indicam que existem 36 barragens em risco, sendo 29 da Vale. A agência chegou a sugerir evacuações. Qualquer acidente que ocorra o levará a gastar uma pequena parte dos 55 milhões de reais que ganhou este ano a título de salários, em advogados. Opa, meu estagiário me lembra que a Vale tem um seguro caríssimo, que cobre despesa com advogados de seus dirigentes. Então tá.
Acho que teria saído mais barato recuperar a segurança das barragens do que os custos de uma nova ruptura. Como toda grande empresa, a Vale se acha absoluta, acha que nunca erra. Essa arrogância corporativa faz com que erre feio. Aqui, falei muito de vítimas humanas, mas o desastre ambiental, por si só, deveria ter levado a diretoria da Vale, que permitiu isso, a cadeia.
Costumo lembrar da Telefónica, da Espanha, (atual Vivo), que ao chegar ao Brasil para assumir a Telesp, demitiu os técnicos mais velhos (e experientes) da antiga Telesp. Só após essa reengenharia é que perceberam que não havia diagramas atualizados das caixas de conexão. Foi preciso testar cada um dos ramais, um a um. A Avenida Paulista ficou uma semana com os telefones fixos cortados. A pressão da opinião pública fez o presidente da empresa ter de rever toda sua estratégia de instalação no Brasil. O episódio é narrado no livro de Mario Rosa: “A Era do Escândalo".
O nome cogitado para a vaga é o ex-ministro Guido Mantega, que tem uma longa ficha de serviços prestados ao Brasil e ao PT. Quando já não estava no governo foi alvo da insanidade lava jatista, que vem sendo derrotada ponto a ponto. Guido retomou as aulas na FGV e pode se orgulhar disso, ter voltado a mesma vida que tinha antes de ter passado pelo governo.
Também tem sido sugerido o nome de Cafarelli, ex-presidente do BB. Ele tem boas relações pessoais com várias figuras de proa do governo. Mas circula uma avaliação de sua gestão com severas críticas as suas decisões. Feita para um investidor inglês, mostra que a busca de lucro se deu pela redução dos ativos. O fato de ter sido presidente do BB na gestão de Temer é um sério obstáculo. O presidente costuma chamar as pessoas que foram do seu governo para o governo Temer & associados por nomes impublicáveis.
O presidente Lula decidirá em breve quem o governo apoiará. Gostaria de pedir a ele que não troque somente a pessoa, mas os valores da empresa e restitua a dignidade aos trabalhadores “sem fundo de pensão” de Mariana e Brumadinho.