Não vejo a gastronomia como algo que possa ser feito por máquinas
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Não vejo a gastronomia como algo que possa ser feito por máquinas


Estamos vivendo a “Era da Informação” , onde podemos saber qualquer coisa, sobre qualquer assunto, a qualquer tempo e sob qualquer forma. Isso não é pouco, é "buscar” em toda a rede mundial de computadores (a WWW) aqueles que têm a informação que desejamos e hierarquizar essas "páginas".


Quando os “buscadores” surgiram, nos primórdios da Internet, eram bem-rudimentares. Limitavam-se a procurar as páginas com os termos exatos digitados. Rapidamente, “aprenderam” a pesquisar a partir de partes de palavras. E a evolução nessa atividade básica, de identificar as páginas que tratam dos temas que estamos buscando, continuou sua evolução. Hoje, 30 anos depois, (Altavista 1994) é possível falar, usar um trecho de música ou uma imagem para realizar uma busca.

Esse desenvolvimento se deu de forma não linear. Começou num “PC 386” no final dos anos 80 e, hoje, está presente nas principais plataformas e sistemas operacionais: os smartphones, unidades com enorme capacidade de processamento de dados.

Mas o que isso trouxe de melhoria ao usuário? No ano de 2001, digitalizar uma foto era trabalho de uma hora. Filmes e vídeos eram gravados em fitas. Processar um minuto de imagem demorava horas ou até dias, com um equipamento específico ao tratamento de imagens.

Hoje, com o processamento de imagens, pode ser feito em segundos, em qualquer celular, permitindo quase qualquer coisa, inclusive falsificar imagens de pessoas reais fazendo coisas que nunca fizeram. Aquelas cenas da última campanha presidencial, com milhares de motoqueiros seguindo “aquele – cujo – nome - não deve –ser –pronunciado" são um bom exemplo.

Esse enorme esforço tem um objetivo, que persegue os seres humanos desde o início de suas sociedades: livrar o ser humano do trabalho. Todo esforço humano em tecnologia tem como objetivo fazer mais coisas com o menor emprego de mão de obra. E a  Inteligência Artificial parece que estendeu os limites e possibilidades para um novo patamar. Vários procedimentos não dependerão de trabalho humano.

Isso afeta as escolhas das profissões dos jovens. Advogados? As melhores petições, pareceres e sentenças são feitos por IA. Médicos e cirurgiões? A IA é capaz de diagnósticos baseados em exames clínicos muito mais acurados, assim como robôs dirigidos por IA são muito mais precisos que humanos. Câncer na próstata, no seio ou nódulos na tireoide já são operadas por IA hoje.

Chegamos naquela fase da história onde Marx diz que quem quiser caçar vai caçar, quem quiser pescar, pesca. O tal do comunismo? Não! A posse coletiva dos meios de produção não está avançando no mundo. A não ser que se entenda as empresas S.A. como posse coletiva, o que é forçar a barra. Então Marx acertou ao especular sobre uma sociedade sem trabalho, errando em todo o resto.

Podemos ter a certeza de que o futuro será bem diferente daquilo que conhecemos hoje, e impossível saber igual ao que ele será.

Depois desta longa digressão, vem a pergunta: "Quais profissões estarão em alta em 2040?". "Quais as profissões possíveis para os nossos filhos?"

Consultei a CNI, eles publicaram uma pesquisa que apontou 20 profissões do futuro:

• Analista de qualidade;

• Analistas de segurança da informação;

• Analistas e cientistas de dados;

• Assistente de cuidados pessoais;

• Engenheiro de computação em nuvem;

• Engenheiro de energia;

• Engenheiros robóticos;

• Especialista de marketing digital;

• Especialista em Inteligência Artificial;

• Especialista em sustentabilidade;

• Especialista em transcrição médica;

• Especialistas em transformação digital;

• Gerente de DevOps;

• Gerente de produto digital;

• Growth hacker;

• Operadores de equipamentos agrícolas;

• Preparador de equipes médicas;

• Product Owner;

• Tec Recruter;

• Treinador atlético.

Li a lista e não me empolguei com nenhuma delas. Pensei no meu filho e no mundo que ele viverá. Perguntei a ele qual a profissão ele imagina seguir. João me surpreendeu: "Chefe de cozinha". Fiquei feliz com isso. Sou economista e, também, escritor. Mas amo a gastronomia e sou um chefe de cuisine tardio.

Numa outra realidade eu seria um chef profissional. Fiquei pensando nos "skills” de um bom chef. O principal é a capacidade de perceber as sutilezas. Não vejo a gastronomia como algo que possa ser feito por máquinas. João não tem nenhum problema em usar a tecnologia a que tem acesso. A questão é que ele prefere manipular os alimentos. Pelo menos sua escolha hoje é essa. Num mundo onde a certeza de que as tecnologias, sempre tão novas, modelam um futuro incerto, é perturbadora.

Minha reflexão me leva a seguinte questão: "Quem são as pessoas que, vivendo na "Era da Informação", optam por trabalhar com as mãos?" .

Decidi investigar como estão vivendo algumas pessoas que optaram por carreiras onde o “Trabalho Humano” é necessário e fundamental. O resultado dessas investigações será alvo de publicações nas próximas semanas.

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