Sete startups brasileiras estão movimentando o mercado de venture capital (capital empreendedor) no país, mirando soluções para reduzir custos dos serviços de saúde, mitigar impactos das mudanças climáticas e manutenção da segurança alimentar. Entre os objetivos das companhias, estão desde a cura do câncer , até a redução da emissão de gases de efeito estufa e utilização de agrotóxicos na produção agrícola.
As empresas estão sob o guarda-chuva da Vesper Ventures, uma aceleradora que investe e auxilia no crescimento de startups de biotecnologia com foco em saúde e agronomia. As sete startups do portifólio da Vesper são:
- Aptah, startup de biotecnologia focada em novas terapias de RNA, inicialmente voltadas para longevidade, câncer e doenças neurodegenerativas;
- Cellertz , biotech que desenvolve uma plataforma de desenho in-silico das próximas gerações de terapias celulares contra o câncer e outras doenças usando inteligência artificial;
- Reddot , startup de biotecnologia focada em diagnósticos moleculares de última geração;
- Futr Bio , empresa de biotecnologia especializada no desenvolvimento de vacinas de mRNA de próxima geração para prevenir e curar doenças como infecções e câncer;
- Vyro , biotech que cria tratamentos de saúde revolucionários baseados na utilização do ZIKA vírus modificado por engenharia genética;
- Symbiomics , biotech que isola microrganismos de nova geração para uso em soluções sustentáveis em diversas culturas;
- e a InEdita Bio , uma plataforma inovadora de edição de genoma para o desenvolvimento de plantas não transgênicas resistentes a pragas e pestes.
Agrotóxico zero
Paulo Arruda, professor do departamento de genética da Unicamp, membro da ABC — Academia Brasileira de Ciência e CEO da Inedita Bio, hoje é movido pelo desejo de fomentar uma agricultura sustentável no Brasil, com potencial de reduzir a quantidade de pesticidas utilizados nas lavouras. Com foco na mudança no genoma da plantação, o que representa uma revolução no mercado, pois, ao contrário dos transgênicos, não insere genes estranhos ao da própria planta.
Uma das atuações da empresa, por exemplo, é o silenciamento do gene onde podem surgir potenciais pragas e fungos. Com a utilização desta tecnologia, reduz-se o custo da plantação de qualquer cultura, ao mesmo tempo em que diminui a emissão de gases de efeito estufa.
“A gente quer trazer pro mundo uma forma de controlar o que vai ser o grande desafio das próximas gerações, que é produzir alimentos controlando a proliferação de pragas”, afirma, finalizando: “Nossa equipe, não sabendo que era impossível, foi lá, e fez”.
Microrganismos ‘do bem’
“Um dos maiores desafios da humanidade será como alimentar as 10 bilhões de pessoas que teremos em breve”, diz Rafael Souza, cofundador e CEO da Symbiomics, empresa que estuda a utilização de microorganismos para impulsionar a produção de maneria mais sustentável.
Ele explica que a agricultura atualmente utiliza-se da técnica da intensificação, ou seja, se falta água, coloca-se mais, se tem praga, aplica-se mais agrotóxico, e assim por diante. No entanto, a longo prazo, essa soluções são ineficientes. Por exemplo, ele cita um organismo capaz de produzir nitrogênio, fundamental para a plantação, reduzindo tanto o custo na compra de ureia, quanto a emissão de gases de efeito estufa.
“Ao invés de intensificar, eu posso substituir. Mas substituir pelo quê? Por esses microorganismos que têm atividade semelhante aos desses insumos necessários para a produção. Existem 400 produtos registrados, mas somente 30 microrganismos diferentes sendo usados. Ainda há muito mercado a ser explorado”, afirma.
Tempo é dinheiro
Por ano, ocorrem 420 mil mortes por ano por infecção alimentar. Muitos desses casos se devem à demora na investigação de um animal doente. Nesse meio tempo, mora um mercado de até US$ 9 bilhões de dólares, segundo a reseach and markets.
É nisso que foca a Reddot Bio, que estuda métodos de diagnosticar doenças mais rapidamente. Atualmente, trabalha em um reagente que reduz em até 2,3 vezes o tempo de diagnóstico, quando comparado com o RT-PCR, e 500 vezes mais rápido que o teste de antígeno.
A empresa espera atuar também em humanos, mas, por enquanto, atua na detecção de salmonela, que causa 1,35 milhões de infecções por ano e tem como principal causa a ingestão de carne de aves.
“Imagina se o teste de HPV demorasse cinco minutos? Isso revolucionaria a ciência, e é nisso que estamos trabalhando, disse Gabriel Bottos, membro de conselho da Vesper.
A Reddot já recebeu investimentos por meio da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e é considerada uma das joias da coroa do portifólio da Vesper.
Negócio de bilhões
A Vesper apoia projetos de biotecnologia transformadores e disruptivos, proporcionando acesso a capitais provenientes de fundos de investimento próprios e de terceiros, sejam nacionais ou internacionais.
“O Brasil tem potencial para desbancar qualquer startup de ciência no mundo. Mas o nosso ecossistema ainda está começando. De 3 mil projetos, selecionamos apenas sete, é o ‘crème de la crème’ da inovação em saúde no país. Mesmo assim, os primeiros investidores ainda têm medo de entrar, e quando ele vê o case de sucesso, já vai ser o segundo, o terceiro…”, diz GabrielBottos, socio-fundador e membro de conselho da Vesper Ventures.
Bottos afirma que o mercado de biontechs, startups do setor de biotecnologia, é diferente dos demais. “Atualmente, há diversas moléculas desenvolvidas por empresas nos Estados Unidos e Europa que atingiram receita, em apenas um ano, de dezenas de bilhões de dólares. Esse é o potencial que as startups do portfólio da Vesper possuem”.
Julio Moura Neto, sócio-fundador e membro de conselho da Vesper Ventures, diz que “o sucesso dos investimentos depende de uma sociedade bem sucedida”. Demonstrando preocupação com a manutenção da democracia, riscos provenientes do aquecimento global e elevação do custo da saúde, o executivo ressalta seu entusiasmo em investir no ramo.
Por exemplo, o custo estimado do câncer de 2020 a 2050 será de US$ 25 trilhões, segundo National Institutes of Health. Já o do alzheimer pode ser de US$ 17 trilhões até 2050.
“Essas empresas criaram uma constelação única. Temos cientistas, professores, empresários, investidores, pesquisadores, e isso é extraordinário. Assim você faz escolhas de investimentos com propósito, com valores, com impacto. E a biotecnologia promove isso, melhoria de impacto positivo no mundo”, declarou durante apresentação no encontro anual da Vesper, em Florianópolis.
O repórter Luís Felipe Granado compareceu ao primeiro dia do evento Vesper Annual Meeting 2023 a convite da empresa. Na segunda-feira (25), foram apresentadas as startups com foco em agrotecnologia.