
A Diretoria Executiva dos Correios apresentou nesta segunda-feira (29), em Brasília, as medidas prioritárias do Plano de Reestruturação 2025–2027, elaborado para conter a crise financeira da estatal e evitar que o prejuízo acumulado chegue a R$ 26 bilhões em 2026, caso nenhuma ação corretiva seja adotada.
Durante entrevista coletiva, o presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, afirmou que a empresa enfrenta um ciclo contínuo de perdas, agravado por defasagem tecnológica, rigidez das despesas e insuficiência de caixa, fatores que impactam diretamente a qualidade do serviço prestado à população.“Existe uma insuficiência de caixa que faz o pagamento atrasar, diminui a qualidade do serviço, afeta o cliente e retroalimenta esse prejuízo. Se nenhuma ação for tomada para quebrar esse ciclo, o saldo negativo fica potencializado”, disse.Segundo Rondon, cerca de 90% das despesas dos Correios são fixas, o que dificulta ajustes rápidos diante da queda de receitas e do aumento da concorrência no setor de logística. Ele reconheceu ainda uma defasagem tecnológica histórica, resultado de investimentos abaixo do necessário ao longo dos últimos anos, além da necessidade de revisão da cultura organizacional da empresa.
“A concorrência e a nova realidade do mercado são desafios globais. Outros países também enfrentam dificuldades com seus sistemas postais. Os Estados Unidos registraram prejuízo de cerca de U$ 9 bilhões (R$ 44,6 bilhões na cotação atual). Mas não adianta olhar apenas para fora; precisamos olhar para dentro também”, afirmou.Três fases e governança própria

O plano de reestruturação será executado em três fases. A primeira é voltada à estabilização do caixa e reorganização financeira; a segunda, à revisão estrutural e operacional; e a terceira, ao crescimento e à modernização do modelo de negócios, com foco em sustentabilidade de médio e longo prazo.
Rondon destacou que o plano contará com uma governança própria, com acompanhamento permanente nos níveis estratégico, executivo e tático. Também serão estabelecidas metas internas para os funcionários, que passam a valer já a partir de 1º de janeiro.“O primeiro ponto do plano de retomada são ações que vão permear todas as fases. É preparar a companhia para um novo rito, dentro de um novo modelo de negócio”, disse.PDV, unidades e projeção de economia
Entre as medidas anunciadas está a reabertura de um Programa de Demissão Voluntária (PDV), que pode resultar no desligamento de até 15 mil empregados, sendo 10 mil em 2026 e cinco mil em 2027. O plano também prevê o fechamento de cerca de 1.000 unidades em todo o país, venda de imóveis ociosos e revisão de benefícios.
Segundo a diretoria, o conjunto das ações pode gerar uma redução de despesas de até R$ 5 bilhões até 2028, com impacto mais relevante a partir da segunda fase do plano.
Crédito de R$ 12 bilhões e posição sobre privatização
Os Correios formalizaram um empréstimo de R$ 12 bilhões com cinco instituições financeiras — Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander — com garantia do Tesouro Nacional. O contrato tem prazo de 15 anos, com três anos de carência, e prevê liberação de R$ 10 bilhões ainda em 2025 e R$ 2 bilhões até janeiro de 2026.
Rondon afirmou que o crédito é essencial para dar fôlego financeiro à empresa e viabilizar a execução do plano. Ele também ressaltou que não há, no momento, discussão sobre privatização, mas sim sobre parcerias e arranjos com o setor privado para ampliar eficiência e competitividade.Greve e impasse trabalhista
O anúncio ocorre em meio à greve nacional dos trabalhadores, iniciada em segunda-feira (16), após rejeição da proposta de acordo coletivo. As negociações mediadas pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) não avançaram, e o julgamento do dissídio coletivo está marcado para terça-feira (30).
A empresa afirma que a revisão de benefícios e da estrutura de pessoal é indispensável para a sobrevivência financeira da estatal, enquanto os sindicatos alegam perda de direitos.