Bolsonaro também não garantiu os R$ 600 no ano que vem
Isac Nóbrega/PR - 24.02.2022
Bolsonaro também não garantiu os R$ 600 no ano que vem

O Sistema Único de Assistência Social (Suas) terá 95% da verba reduzida de 2022 para 2023. Neste ano, foram R$ 967,3 milhões na proposta original do Orçamento, já para o ano que vem serão apenas 5% do total: R$ 48,3 milhões. 

O Suas é responsável por gerenciar e coordenar os centros de assistência para os vulneráveis que pretendem dar entrada no Auxílio Brasil, bem como o Cadastro Único , porta de entrada para outros benefícios sociais. 

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O valor pode ser insuficiente para manutenção dos serviços e o sistema tende a sofrer um "apagão", se não houver recomposição dos recursos. Em 2022, parlamentares aumentaram a verba do Suas durante o ano por meio de crédito orçamentário. 

"O que temos no orçamento da Assistência Social para 2023 é reflexo de uma opção de desmonte que já vinha sendo orquestrada por Bolsonaro antes da pandemia. O povo brasileiro vive um processo de empobrecimento enorme, muito segurado pelo impacto do Auxílio Brasil, no entanto, para que pudéssemos reverter a curva de empobrecimento e fome, dependíamos de políticas públicas fortes e capazes de chegar nos lugares mais vulneráveis do país", diz Paola Loureiro Carvalho , assistente social e diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica.

Mesmo com o orçamento maior, o sistema demonstrou falhas durante a gestão do Auxílio Brasil, que registrou  fila de quase 3 milhões de pessoas.

Além das pessoas na espera para receber o benefício, formou-se também a "fila da fila", integrada por brasileiros que preenchem os critérios para receber o benefício, mas não conseguem se registrar ou mesmo atualizar o cadastro no CadÚnico.

"O que vamos é um abandono da população, um caminho de desmonte e desesperança. A opção pelo não atendimento na ponta, dos benefícios eventuais como Cesta Básica, serviços como o Cadastro Único para Programas Sociais em equipes mais numerosas e adequadas às demandas, e todos os atendimentos para vítimas de violência e pessoas em situação de rua. O Brasil pede respostas. O Governo mostra seu desprezo pela dor do povo", demanda Paola Loureiro.

No site, o Suas afirma ter como objetivo "garantir a proteção social aos cidadãos, ou seja, apoio a indivíduos, famílias e à comunidade no enfrentamento de suas dificuldades, por meio de serviços, benefícios, programas e projetos. Com um modelo de gestão participativa, o Suas articula os esforços e os recursos dos municípios, estados e União para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social."

As ações do Suas são feitas por meio do:

  • Cras – Centro de Referência de Assistência Social;
  • Creas – Centro de Referência Especializado de Assistência Social;
  • Centro POP – Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua;
  • Centro-Dia de Referência para Pessoa com Deficiência e suas Famílias;
  • Unidades de Acolhimento – Casa Lar, Abrigo Institucional, República, Residência Inclusiva, Casa de Passagem

Na ação de Proteção Social Básica, que abastece os Cras, o Orçamento de 2023 prevê R$ 31,9 milhões para atender a 5.530 unidades —uma média de R$ 5,8 mil para cada centro usar no ano inteiro. 

Além disso, para os Creas, foram reservados R$ 16,4 milhões, ou R$ 5,8 mil médios para as 2.824 unidades com esse tipo de atendimento.

Hoje, há 35 milhões de famílias de baixa renda no Brasil. No início do mandato de Bolsonaro, eram 27,3 milhões. O Auxílio Brasil atende 20,3 milhões de beneficiários. 

Para a Estruturação da Rede de Serviços do Sistema Único de Assistência Social a LOA 2022 previa R$ 1.5 bilhões, montante que foi cortando para apenas R$ 50.000,00. 

Além do corte para os centros de assistência, o governo não prevê os R$ 200 adicionais no Auxílio Brasil para 2023. O Orçamento foi para o Congresso com valor mínimo de R$ 405 e com a promessa de "esforço" para elevar o valor. 

Foram reservados R$ 105,7 bilhões para o programa de transferência de renda, o suficiente apenas para bancar um benefício médio de R$ 405,21 a 21,6 milhões de famílias, segundo o Ministério da Economia.

No total, o Ministério da Cidadania tem uma previsão de R$ 4,8 bilhões em gastos discricionários, que bancam despesas de manutenção, compra de materiais e investimentos. No entanto, R$ 1,38 bilhão são emendas de relator (usadas como moeda de troca em negociações com o Congresso e que podem ter a destinação modificada pelos parlamentares), e outros R$ 2,2 bilhões vão financiar o programa Auxílio Gás.

Descontando a parte "engessada" do orçamento, a Cidadania vai ter R$ 1,1 bilhão livres, uma queda de 55,6% em relação à proposta inicial para 2022.

Veja outros cortes sofridos pela pasta: 

  • Recursos para compra de alimentos: Caiu de R$ 101,7 milhões na proposta de 2022 para R$ 2,7 milhões (queda de 97,4%) em 2023;
  • Inclusão Produtiva Rural (R$ 200 para recebedores do Auxílio que moram no campo): Caiu de R$ 25,3 milhões para R$ 1,3 milhão, o suficiente para atender a 527 famílias;
  • Criança Feliz: Caiu de R$ 451 milhões  R$ 225,5 milhões (corte de 50%);

Procurado pelo iG , o Ministério da Cidadania não respondeu como, e se, pretende recuperar a verba, nem como os cortes afetam os que necessitam dos serviços assistenciais. O espaço segue aberto.


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