A preocupação com a inflação alta, que tem levado a sucessivos aumentos de juros nos Estados Unidos, atinge não apenas os países ricos. Alguns emergentes já enfrentam o fantasma da hiperinflação . Na Turquia, por exemplo, a inflação anual atingiu 78,62% em junho, o maior nível desde 1998. Na Argentina, chegou a 64%, maior patamar desde 1992.
Segundo um relatório da IFRS Foundation republicado pela consultoria EY, a partir de dados de inflação do Fundo Monetário Internacional (FMI) publicados em abril, Turquia, Irã, Líbano, Sudão do Sul, Sudão, Suriname, Venezuela, Iêmen e Zimbábue estariam em um quadro hiperinflacionário.
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Angola, Etiópia, Haiti e Síria se aproximam dessa situação. O relatório não estabelece uma taxa de inflação absoluta na qual uma economia é considerada hiperinflacionária, como ocorre nos modelos clássicos.
Não há uma definição única sobre o conceito de hiperinflação. Segundo o ex-professor titular da FGV Fernando de Holanda Barbosa, que tem publicações sobre o assunto, os estudos clássicos definem como hiperinflação uma alta de 50% dos índices de preço para um mês e a permanência nesse estágio por um período longo de tempo:
"O fenômeno da hiperinflação ocorre quando a inflação está indo para o infinito em tempo finito. Isto é, quando ela está aumentando sempre e chega a números absurdos em pouco tempo."
O professor de macroeconomia do Insper, Fernando Ribeiro, destaca que há definições menos rígidas, como a que leva em conta uma inflação de 100% acumulada em 12 meses.
No caso da IFRS, foi considerada uma variedade de características do ambiente econômico dos países para caracterizar a hiperinflação. Entre elas, o fato de a população preferir manter sua riqueza em ativos monetários ou em moeda estrangeira estável e a taxa de inflação acumulada ao longo de três anos se aproximar ou ultrapassar os 100%.
"O mundo todo está passando por uma época inflacionária. Alguns países estão mais frágeis com relação a isso. O Líbano, por uma questão de instabilidade política, a Turquia pela relutância em adotar uma política que seria mais exitosa, que é subir os juros. A Argentina, por suas questões políticas e de controle macroeconômico", disse Ribeiro.
Em que pesem as particularidades, há elementos em comum: quadro fiscal delicado, instabilidade institucional, políticas monetárias equivocadas e, principalmente, incapacidade dos governos de ancorar as expectativas de inflação.
Uma empresa, por exemplo, sem ter previsibilidade sobre o futuro da inflação, tem mais dificuldade de estabelecer os preços de seus produtos ou serviços. E se não confiar na capacidade do governo em controlar a situação, ela tende a cobrar valores mais altos. Assim, o problema se retroalimenta.