O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, está prestes a fazer um segundo aumento de juros atípico nesta quarta-feira (27)
enquanto tenta esfriar uma economia com inflação alta. A decisão na maior economia do mundo tem impacto em todo o planeta e, por isso, economistas e investidores especulam quão longe a autoridade monetária dos EUA está disposta a ir para domar a inflação.
Bancos centrais ao redor do globo gastaram as últimas semanas acelerando seus aumentos de juros, já que a inflação é hoje um problema que a maior parte dos países têm em comum. Na semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) elevou os juros pela primeira vez desde 2011.
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A lista ainda inclui países como Canadá, Suíça, Austrália, Inglaterra, México, África do Sul, além do Brasil, onde o Banco Central elevou para 13,25% ao ano a taxa básica de juros (Selic) em junho. Foi a 11ª alta consecutiva na tentativa de controlar a inflação, que se mantém em dois dígitos. Há analistas que preveem que os juros continuem subindo no Brasil até o fim de 2022. O mercado também tem revisado para cima sua previsão para a inflação e a Selic em 2023.
O Fed começou o ciclo de alta de juros nos EUA em março, quando elevou a taxa em 0,25 ponto percentual. Em maio, subiu 0,5 ponto e, em junho, fez a maior alta nos juros desde 1994: 0,75 ponto percentual. Especialistas avaliam que uma nova alta de 0,75 ponto deve ocorrer nesta quarta-feira, reforçando as previsões de recessão na maior economia do planeta. A decisão do Fed afeta outras economias, os mercados acionários no mundo e a cotação do dólar frente a outras moedas.
"Após os dados de atividade divulgados recentemente, a economia norte-americana mostra que começa a sentir os impactos do ciclo de aperto monetário. Neste contexto, o mercado atribui uma probabilidade menor de o Fed levar a cabo um reajuste da taxa de juros ainda mais forte do que o anterior. Cabe ressaltar que reajustes de 0,75 ponto percentual é extremamente forte para a economia norte-americana", destaca a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta.
Disposição para baixar a inflação
Os movimentos acelerados do Fed buscam mostrar a disposição para baixar a inflação americana, com a esperança de convencer empresários e famílias de que a alta dos preços de hoje não vai perdurar. No entanto, essa ação acaba por esfriar a economia americana em um momento em que os empregos são abundantes e os preços sobem rapidamente.
Após o movimento esperado nesta quarta-feira, o Fed estaria diante do que os especialistas pensam ser um cenário neutro, que não ajuda nem prejudica a economia. Com taxas altas o suficiente para não estimular ativamente o crescimento, os bancos centrais de outros países podem se sentir mais confortáveis para reduzir o ritmo se virem sinais de que a economia começa a desacelerar.
E depois, para onde vão os juros?
Jerome Powell, presidente do Fed, deve manter suas opções em aberto, mas economistas e analistas vão analisar cada palavra de sua entrevista na quarta-feira por dicas do que pode ser o caminho do BC adiante.
"Parece que a alta de 0,75 ponto percentual já está dada, o interessante é a indicação adiante", disse o economista-chefe nos EUA do J.P.Morgan, Michael Feroli , explicando que ele pensa que a questão-chave é o que virá adiante.
As projeções mais recentes do Fed, divulgadas em junho, sugerem que a taxa subiria para 3,4% até o fim do ano, do patamar atual de cerca de 1,6% agora.
Muitos economistas interpretaram isso como um sinal de que o Fed elevaria a taxa em 0,75 ponto percentual neste mês, 0,5 ponto percentual em setembro, 0,25 ponto percentual em novembro e 0,25 ponto percentual em dezembro. Em outras palavras, viram como um sinal de aumentos menores adiante.
Mas as expectativas têm sido revistas este ano com a divulgação de dados econômicos e de uma inflação que se mostra mais resistente. O dado de inflação ao consumidor em junho atingiu 9,1% no acumulado de doze meses, maior patamar desde 1981.
Após a divulgação da inflação, investidores especularam que o Fed poderia fazer um aumento de 1 ponto percentual nesta semana, apenas para moderar expectativas depois que novos dados de expectativa mostraram que um movimento menor era mais provável.
Em relatório divulgado esta semana, a equipe de Macro & Estratégia do BTG Pactual aguarda uma coletiva com tom mais hawkish, favorável à retirada de estímulos à economia, por parte de Powell.
“Embora reconheça acomodação da atividade econômica, entendemos que o combate à inflação continua como objetivo principal e não vemos espaço para mudança de tom”, destaca o relatório.
O cenário base do BTG para o restante do ano inclui duas elevações de 0,50 ponto percentual em setembro e novembro e uma alta de 0,25 ponto percentual em dezembro, o que levaria a taxa para o intervalo entre 3,50% e 3,75%.
Os analistas do banco esperam que a decisão dê suporte a um dólar mais forte globalmente e para a continuidade do fluxo para ativos de renda fixa, em especial de longa duração.
Por outro lado, ativos cíclicos, como a classe de commodities, podem sofrer perdas, com exceção daquelas ligadas ao mercado de energia, tais como petróleo, gás natural e carvão.
Sinais de alívio e virada em 2023
Mas há alguns sinais de alívio. Enquanto a inflação atingiu o maior patamar em 40 anos, ela deve provavelmente desacelerar quando o dado de julho for divulgado porque os preços da gasolina recuaram sensivelmente neste mês.
Manter as expectativas de inflação sob controle é primordial porque consumidores e empresas podem mudar seu comportamento se avaliarem que a inflação alta vai continuar.
Trabalhadores podem pedir aumentos salariais para cobrir aumento de custos, empresas podem continuar a subir preços para cobrir a conta salarial e o problema dos preços em alta poderia se perpetuar.
Os mercados estão oscilando nos últimos dias, preocupados com a possibilidade de bancos centrais ao redor do globo levarem sua guerra contra a inflação longe demais, afundando as economias no processo ao estrangular consumo e investimentos.
Com isso, os investidores estão apostando cada vez mais que o Fed vai reduzir os juros no próximo ano, esperando que a autoridade monetária comece uma virada em 2023.
"É muito provável que os bancos centrais elevem as taxas tão rápido que vão exagerar e colocar suas economias em recessão. É disso que os mercados têm medo", disse o estrategista de juros da TD Securities, Gennadiy Goldberg.
*Com The New York Times