Analista resume impacto da reabertura no comportamento do consumidor, mesmo com orçamento apertado
Reprodução: ACidade ON
Analista resume impacto da reabertura no comportamento do consumidor, mesmo com orçamento apertado

Após dois anos de economia aquartelada, o cara sai "Não tem inflação, não tem juros, impacto fiscal, depois de dois anos de uma economia aquartelada, o cara sai de casa e come uma esfiha". É assim que o analista Fernando Montero, da corretora Tullett Prebon Brasil, resume o desempenho do setor de serviços no primeiro trimestre. Para além das variáveis clássicas da economia, como preços, oferta e demanda, o que impulsionou o PIB na reabertura, de janeiro a março, foi o comportamento humano.

Depois de dois anos descobrindo como fazer pão em casa, se deslumbrando com o robô aspirador e fazendo ginástica para concatenar a rotina do trabalho em casa com os cuidados com a família e as tarefas domésticas, o brasileiro voltou às ruas. De volta aos serviços e disposto a consumir.

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Lazer, cultura, viagens, transportes e eventos tiveram um boom neste período e ganharam espaço em um orçamento que tende a ficar ainda mais apertado ao longo do ano com a alta da inflação e dos juros.

O fator comportamental, que foge aos modelos racionais de previsão, se fez presente nos números do PIB. Os serviços presenciais — hotéis, restaurantes, lugares que ficaram meses fechados no pior momento da pandemia — dispararam 12,6% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.

"O resultado colocou um viés para cima, mostrou que a abertura é mais importante do que se imaginava. O Brasil e o mundo superaram a pandemia, que foi devastadora nos últimos dois anos", avalia Montero. 

A GL Events, empresa de shows e eventos, está com a agenda lotada para as cinco arenas que tem no país, como a Jeunesse no Rio e a São Paulo Expo. Todos os sábados estão reservados até dezembro. Nos últimos quatro meses, mais de um milhão de pessoas passaram pelos espaços da empresa no país. Diretora regional, Sílvia Albuquerque explica que está sendo preciso fazer caber “dois anos em um”.

"Tem o acúmulo dos shows que eram para ter acontecido em 2021, somado aos novos eventos e às novas demandas. As pessoas querem ter a experiência de estar num show. Isso é perceptível na venda dos ingressos", afirma a diretora, lembrando que, frente a 2019, antes da pandemia, as vendas de ingressos cresceram 30% este ano.

Mas apesar do encanto com a volta às ruas, o movimento não passa incólume pelo orçamento. Segundo cálculos do Banco Inter, a taxa de poupança caiu de 20% no primeiro trimestre do ano passado para 17,5% em igual período deste ano. 

Na avaliação de Rafaela Vitória, economista-chefe do banco, a estimativa sustenta a ideia de que as famílias usaram parte das reservas para manter algum padrão de consumo diante da inflação alta. Esse movimento ainda pode se espraiar para o segundo trimestre, mas não tem fôlego para persistir até o fim do ano:

"Devemos ter crescimento no segundo trimestre, considerando a liberação do FGTS e a antecipação do 13º salário, mas não no mesmo ritmo."

Freio da inflação

Para Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, o lado B da volta ao consumo, mesmo no primeiro trimestre, foi a inflação, que funcionou como freio:

"O consumo das famílias, que é direcionado pela massa salarial, foi muito afetada pelo crescimento da inflação."

A administradora de ONGs, Juliana Vicente, de 43 anos, mora em Copacabana, com as duas filhas gêmeas, de 13 anos, e vê um cenário adiante de escolhas no orçamento.

"Vi uma melhora em relação ao comércio porque ele voltou a abrir. As pessoas estão tendo acesso a uma renda. Mas, mesmo assim, essa renda não está dando conta. A gente vai ao mercado e toda hora leva um susto. De nada adianta a gente receber o salário e não conseguir fazer mais nada além de pagar as contas."

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