Está planejando comprar um carro? Já pensou que as opções podem ir além de escolher um modelo novo, seminovo ou usado? Segundo especialistas, há outras alternativas que podem garantir acesso ao carro, com custo até menor, como é o caso da assinatura ou do uso de aplicativos de transporte no dia a dia e aluguel eventual de veículo. Tudo vai depender do perfil de uso do automóvel.
A falta de componentes para a indústria automobilística levou os preços a avançarem cerca de 15% entre os modelos novos e, em alguns casos, mais de 30% nos usados.
Para Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive, quando se leva ainda em conta que há uma espera de até seis meses por um carro 0km, o cenário não é o mais recomendado para a compra no momento.
"Há sobrepreços nos novos e nos usados, e quem acha que poderá se beneficiar na troca está enganado, pois a diferença continua grande. É importante lembrar que IPVA, taxa de transferência, tudo isso é cobrado sobre o valor do carro. Então, também serão mais altos. Só deve comprar quem tiver necessidade e mesmo assim deve gastar sola de sapato, pesquisar antes de fechar negócio", recomenda Garbossa.
Na avaliação de Antônio Jorge Martins, especialista do setor automotivo, do Instituto de Desenvolvimento Educacional da FGV, os preços dos automóveis ainda devem demorar a se normalizar:
"A equalização do mercado de semicondutores, que levou a indústria a produzir 300 mil carros a menos este ano, só deve ocorrer no fim de 2022 para 2023. Até lá, conviveremos com distorções, como um seminovo, com 2, 3 anos de uso, valendo o mesmo preço nominal de um carro que saiu da concessionária. Isso não é natural."
Assessoria do mecânico
Quem optar por um 0km deve levar em conta que ao tirar o carro da concessionária há uma depreciação imediata de 10% a 20%.
"A grande vantagem do carro novo é a garantia, além do fato de não ter que se preocupar com o passado. Mas já há start-ups que oferecem garantia de 2 anos na compra de seminovos, o que dá mais segurança", diz Martins.
Garbossa orienta quem vai comprar modelos seminovos e usados a exigir um laudo técnico e levar mecânico e funileiro para avaliar o carro:
"É preciso verificar motor, amortecedor, chassi. Verificar se o carro foi batido e se há algum dano estrutural que possa passar despercebido pelo leigo. Às vezes parece estar tudo bem, mas o motor está prestes a fundir."
Martins, da FGV, pondera que a sociedade está mudando e valorizando mais o senso de mobilidade do que de propriedade, o que faz crescer o mercado de assinatura e atrai players para além das tradicionais locadoras, como montadoras, seguradoras e até fundos de investimento.
O universitário Vinícius Galharte de Figueiredo, de 22 anos, é da geração que não tem grande apego pelo carro próprio. O carro praticamente novo, parado na garagem por quase um ano devido à pandemia, o levou a propor para os pais a venda do veículo e a assinatura de um plano mensal de locação:
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"Na minha visão, automóvel é despesa. Há uma série de gastos, como IPVA, gasolina, estacionamento, manutenção, seguro, depreciação... Analisamos todos os gastos para ver se valeria a pena alugar ou manter o carro."
A família decidiu pela assinatura, por R$ 1.200 mensais, que inclui assistência 24 horas, manutenção, IPVA, licenciamento e seguro. A economia é de cerca de R$ 6 mil ao ano. Mas há que se ter atenção ao contrato, diz o estudante, pois há diferentes pacotes de serviços e prazos de contrato, com previsão de multa para encerramento antecipado.
"Outra questão é o limite de quilometragem mensal. Quanto menor, mais barata é a assinatura. Mas caso ultrapasse o limite no mês, há taxa pelo excedente", alerta Figueiredo, que investiu parte do valor do carro. — Coloquei o dinheiro para trabalhar para mim.
É preciso fazer contas
Graziela Fortunato, coordenadora do MBA de Finanças Corporativas do IAG da PUC-Rio, há seis anos decidiu não ter carro. Para os deslocamentos do dia a dia, optou por apps de transporte. Duas vezes por mês, aluga carro para viajar.
"A economia em relação ao gasto de manter um carro é de 40%. Quem pensa em fazer essa transição precisa colocar na conta todos os gastos. No meu caso, como uso aplicativo, entra na conta até o estacionamento. Tem custos intangíveis como o conforto de poder aproveitar o tempo no carro, além da liberdade do chope na happy hour", diz.
O engenheiro curitibano Paulo Cabral teve carro por assinatura por 4 anos. Num negócio firmado durante a pandemia, no entanto, recebeu um carro como pagamento e decidiu mantê-lo.
"O carro entrou no negócio por R$ 89 mil e está avaliado em R$ 104 mil. Como o preço dos veículos subiu, o de assinatura também subiu. O modelo que me custava R$ 1.400 por mês, agora sai por R$ 2.500. Mas para um cara que não entende nada de carro, a assinatura é boa opção, pois não há preocupação com manutenção. Sempre temia ser enganado."
Confira as dicas dos especialistas
Carro 0km
Devido a falta de peças, a espera por um carro novo pode demorar até 6 meses, dependendo do modelo. Antes de comprar verifique a depreciação do veículo. Há casos em que a perda imediata pode ser de 20%, e a desvalorização ao longo do tempo também varia de acordo com a montadora e o modelo escolhido.
Seminovos
Além da anormalidade de preços — atualmente um carro com 2 anos de uso pode custar o mesmo valor de um que saiu da concessionária — especialistas recomendam que não se abra mão do laudo técnico e de verificar se foram feitas as manutenções previstas na garantia do veículo. Não deixe de consultar a placa no Detran para verificar se há alguma pendência em relação ao automóvel. Eles lembram que há empresas oferecendo garantia por até dois anos, o que dá ao comprador tranquilidade semelhante à de um 0km.
Usados
Além do laudo técnico e da consulta ao Detran, exigências primordiais na avaliação de quem conhece o setor, uma boa olhada na documentação pode ser importante para verificar por quantos proprietários aquele veículo já passou. Se a pesquisa na internet pode ser importante para chegar até a melhor oferta, o negócio só deve ser fechado presencialmente e com uma verificação minuciosa do carro. Preferencialmente, recomenda-se que o veículo seja examinado por um mecânico e um funileiro da confiança do comprador, que possam avaliar as condições do motor, amortecedores, até se houve alguma batida que causou dano estrutural ao carro que possa passar despercebido para um leigo.
Assinatura e aluguel eventual
Para saber se vale à pena manter um carro próprio, fazer assinatura ou aluguel eventual é preciso fazer contas. Some gasto com seguro, IPVA, licenciamentos, manutenção regular e emergencial. Para comparar ao custo de uso de aplicativo no dia a dia, contabilize ainda as despesas de estacionamento e pedágio. Divida o total por 12 e compare ao valor da assinatura ou do gasto com apps somado ao valor do aluguel eventual de carro, se for fazê-lo.