Prazo final para pagamento de US$ 83,5 milhões venceria no sábado. Mas empresa tem novos vencimentos nas próximas semanas
Fernanda Capelli
Prazo final para pagamento de US$ 83,5 milhões venceria no sábado. Mas empresa tem novos vencimentos nas próximas semanas

A gigante do setor imobiliário Evergrande liberou recursos para pagar a dívida com credores internacionais que venceria no sábado, informou a mídia estatal chinesa. Com o movimento, que surpreendeu o mercado, a empresa evita um calote oficial.

De acordo com o jornal econômico Securities Times, controlado pelo governo chinês, a companhia remeteu US$ 83,5 milhões a uma conta fiduciária do Citibank na quinta-feira, permitindo-lhe pagar a todos os detentores de títulos antes do dia em que venceria o período de carência para o pagamento.

A notícia trouxe alívio para investidores e reguladores preocupados com uma repercussão mais ampla de um calote nos mercados financeiros globais.

Ainda assim, o grupo precisará fazer pagamentos em uma série de outros títulos.

"Eles parecem estar evitando o calote de curto prazo e é um alívio que tenham conseguido encontrar liquidez", disse um advogado de reestruturação de dívidas de Hong Kong que representa alguns detentores de títulos, acrescentando:

"Mas, ainda assim, Evergrande precisa reestruturar sua dívida. Este pagamento pode ser uma forma de obter algum tipo de adesão das partes interessadas antes do trabalho pesado necessário na reestruturação."

A Evergrande não respondeu ao pedido de comentário feito pela Reuters. Procurado pela reportagem, o Citibank também não quis comentar.

A remessa chega um dia depois de o provedor de informações financeiras REDD dizer que a Evergrande conseguiu alongar o prazo para pagar os juros de outro título, emitido pela Jumbo Fortune Enterprises.

"Esta é uma surpresa positiva", disse James Wong, gerente de portfólio da GaoTeng Global Asset Management, que esperava um calote.

A notícia aumentaria a confiança dos credores, disse Wong, já que "há muitos pagamentos de cupons devidos à frente.

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"Se Evergrande pagou desta vez, não vejo por que não pagará da próxima vez."

"Pode ter pago estes juros e talvez possam pagar outros juros. Basicamente a empresa tem pagamentos de juros a cada duas semanas. (...) Mas, se você olha os fundamentos da empresa, isto não mudou", disse, por sua vez, Chen Long, da consultoria Plenum.

A gigante imobiliária, controlada pelo bilionário Hui Ka Yan e que tem uma dívida de mais de US$ 300 bilhões, está no limbo há semanas e reconheceu na quarta-feira que "não há garantias de que conseguirá honrar suas obrigações financeiras".

Evergrande perdeu o prazo para o pagamento de cupons totalizando quase US$ 280 milhões em seus títulos em dólares em 23 de setembro, 29 de setembro e 11 de outubro, iniciando períodos de carência de 30 dias para cada um deles.

O não pagamento subsequente resultaria em um calote formal e acionaria provisões de inadimplência cruzada para seus outros títulos em dólares.

O próximo prazo de pagamento da Evergrande é 29 de outubro, com o vencimento do período de carência de 30 dias do título vencido em 29 de setembro.

Alívio temporário

Os preços dos títulos em dólar da Evergrande dispararam na sexta-feira, com suas notas de abril de 2022 e 2023 saltando mais de 10%, mostraram dados da Duration Finance, embora eles ainda fossem negociados em níveis de cerca de um quarto de seu valor de face.

As ações do grupo subiram até 7,8%, um dia após a retomada das negociações em bolsa de Hong Kong, após uma paralisação de mais de duas semanas, enquanto se aguardava o anúncio da venda da participação de 50,1% em sua unidade de administração de propriedades, que foi descartada esta semana.

Os infortúnios da Evergrande repercutiram no setor imobiliário chinês, que responde por um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, com uma série de anúncios de inadimplência, rebaixamentos de classificação e queda de títulos corporativos.

O governo chinês, que em 2020 adotou medidas para reduzir o grande endividamento do setor imobiliário, insiste em que os riscos associados a uma eventual falência da Evergrande podem ser controlados.

No entanto, fontes dizem que as autoridades teriam pedido aos governos locais que se preparem para uma eventual falência, e alguns já teriam assumido projetos da incorporadora imobiliária.

"De uma perspectiva macroeconômica, não é importante se a agonizante Evergrande vai sobreviver. O importante é quem assume, ou não assume, seus compromissos", declarou Leland Miller, conselheiro da empresa de análise de dados Beige Book. "De fora está bastante claro que o mais doloroso está por vir", acrescentou.

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