A redução de juros do crédito imobiliário pela Caixa Econômica Federal, que deverá ser anunciado oficialmente na quinta-feira, vai na contramão do movimento dos bancos privados, que recentemente começaram a elevar suas taxas em meio às mais recentes altas da Selic, a taxa básica de juros do país.
O movimento de queda nos juros da Caixa foi antecipado pelo presidente do banco estatal, Pedro Guimarães, durante ato no Palácio do Planalto. No setor financeiro, as declarações de Guimarães foram vistas como um aceno político a Bolsonaro.
Nos bancos privados, as taxas vêm aumentando. O Itaú, por exemplo, vai subir, a partir de hoje, os juros da modalidade tradicional do crédito imobiliário, dos atuais 7,30% ao ano mais TR (taxa referencial, zerada desde 2017) para 8,30% ao ano mais TR.
Por outro lado, o banco vai reduzir seus juros iniciais em outra modalidade, o crédito com juros da poupança, que passarão de 3,45% ao ano para a partir de 2,99% ao ano, mais o rendimento da caderneta de poupança, que varia de acordo com a Selic, que está em alta.
O Itaú afirmou, em nota, que os contratos de financiamentos já existentes não sofrem alterações.
BB não deve seguir Caixa
No Santander, o movimento também é de alta dos juros. No dia 4 de setembro, o banco subiu a taxa do crédito imobiliário tradicional, que começavam em 7,99% ao ano + TR para 8,99% ao ano mais TR. É a segunda alta recente praticada pelo banco.
“O Santander Brasil está atento ao mercado e ao cenário econômico do país. Fomos o primeiro banco a baixar as taxas quando adequado, e também entendemos a necessidade de ajustar as taxas, nesse momento de alta da Selic e da curva futura dos juros”, informou o banco em nota.
O Banco do Brasil também aplicou aumentos recentes em suas taxas. Hoje, o crédito tradicional é concedido com juros a partir de 6,85% ao ano mais TR. Em agosto, cobrava a partir de 6,39% + TR.
O BB explicou em nota que “monitora e avalia permanentemente os fundamentos do mercado e a concorrência, sempre no propósito de estabelecer sua política de preços em condições competitivas”. A tendência no banco estatal, segundo pessoas familiarizadas com o assunto, é não seguir a política de redução de juros da Caixa e, assim, manter-se alinhado à prática do mercado.
Para o especialista em crédito imobiliário Pedro Seixas, professor da FGV, o movimento de redução de juros só faria sentido em modalidades de crédito imobiliário vinculadas à poupança e ao IPCA, mas não no crédito tradicional.
"A Caixa trabalha hoje com quatro tipos de financiamento (pré-fixado, vinculado à TR, à rentabilidade da poupança e ao IPCA). Os produtos que têm indexador que acompanha a inflação carregam menos risco para o banco, como IPCA e poupança e podem comportar redução. Na taxa pré-fixada, um corte iria na contramão do mercado e poderia comprometer a margem do banco", afirma Seixas.
O financiamento tradicional, que é o mais usado, é o do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), cujos recursos são captados pelos bancos principalmente em depósitos de poupança. O modelo hoje financia compra de imóveis até R$ 1,5 milhão e custo efetivo (taxa de juros mais encargos) de no máximo 12% ao ano.
O professor de finanças Ricardo Rocha, do Insper, por outro lado, afirma que os bancos privados têm antecipado uma alta da Selic que ainda não ocorreu ao subir os juros do crédito tradicional.
"Se a Selic passar de 8,5% ao ano, a poupança atinge seu teto de remuneração, que é a TR mais 6,17% anuais. Isso ainda não ocorreu, então o custo de captação dos bancos ainda não justifica altas de juros nessa modalidade de crédito", diz Rocha.
Os bancos têm aumentado o spread (diferença entre o custo de captação do dinheiro para o banco e o do empréstimo para o cliente), provavelmente devido ao aumento da procura por crédito imobiliário, de acordo com o professor do Insper.
"O posicionamento da Caixa parece ser diferente. É preciso analisar a inadimplência da carteira para ver se há espaço para redução dos juros. No patamar atual da poupança, dá pra dizer que não faz tanto sentido aumentar o prêmio de risco do crédito imobiliário porque, apesar do prazo longo dos financiamentos, os bancos alienam o imóvel em caso de inadimplência, o que mitiga o risco", explica.