No Brasil, 67,3% das famílias possuem alguma dívida , uma alta de 0,6% em relação ao mês anterior e de 1,1% em comparação com março de 2020, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). É o quarto mês seguido de alta no indicador, refletindo a interrupção do pagamento do auxílio emergencial no final de 2020.
“Com auxílio emergencial no ano passado e as rápidas adaptações das empresas, as famílias ainda conseguiram se equilibrar minimamente e estão controlando seu orçamento no que é possível. Mas a imunização coletiva precisa avançar logo, senão essa balança doméstica vai ficar cada vez mais insustentável, podendo aumentar a inadimplência”, disse o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
Ainda segundo a Peic, a parcela média de renda comprometida para o pagamento de dívidas (cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa) está em 30,1%, ou seja, de cada R$ 100 reais do salário, R$ 31 vai para amortização de contas em atraso. Além disso, 21,4% das famílias afirmam ter mais da metade da renda comprometida.
O principal vilão do endividamento é, de longe, o cartão de crédito , atingindo 80,3% das casas brasileiras. O maior problema dessa modalidade são os juros, que, segundo o Banco Central, têm taxa média de 326,4%.
“Apesar de estarem sendo obrigadas a restringir o consumo, as famílias mais pobres podem precisar recorrer ao crédito para situações de urgência ou iniciativas de empreendedorismo, como forma de complementação de renda. Por outro lado, a mudança de trajetória na política monetária, com aumento dos juros, fará com que as famílias adotem ainda mais rigor na contratação de dívidas”, alerta a economista da CNC responsável pelo estudo, Izis Ferreira.
Tipo de dívida das famílias brasileiras:
Embora o crédito possa funcionar como ferramenta de complemento da renda no contexto de crise econômica, a mudança de trajetória na política monetária com aumento da taxa de juros deverá fazer com que as famílias busquem outra forma de complementação de renda, como empréstimos ou atividades suplementares.
Perspectivas para o segundo trimestre
O primeiro trimestre da economia brasileira deve apresentar resultado negativo, uma vez que vivenciamos o pior momento da pandemia, somado à redução do auxílio emergencial de R$ 600 no início de 2020 para R$ 150 na retomada este ano, indicando que o endividamento familiar deve seguir crescendo .
O desemprego na casa dos 14,2% , a inflação mais elevada, atingindo 6,10% em 12 meses e o fim do auxílio emergencial a partir de janeiro obrigam as famílias de menor renda a adotarem maior rigor na organização dos orçamentos domésticos.
A despeito da proporção de endividados nas famílias mais pobres ter crescido no primeiro trimestre de 2021 (0,5%), o aumento em pontos percentuais foi menor do que no primeiro trimestre de 2020 (0,7 pp). Vale notar que o endividamento pode subir para as famílias nesta faixa, na medida em que incentiva pequenas iniciativas de empreendedorismo, no contexto de recrudescimento da pandemia e evolução lenta do mercado de trabalho formal.
Enquanto isso, a renda continua a cair. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a massa de rendimento do trabalho somou R$ 211,4 bilhões no trimestre encerrado em janeiro de 2021. O valor é quase 7% inferior comparado ao mesmo período do ano passado.
Sobre a Peic
A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic Nacional) é apurada mensalmente pela CNC desde janeiro de 2010. Os dados são coletados, em todas as capitais dos estados e no Distrito Federal, com aproximadamente 18 mil consumidores.
Com o aumento da importância do crédito na economia brasileira, sobretudo o crédito ao consumidor, o acompanhamento desses indicadores é fundamental para analisar a capacidade de endividamento e de consumo futuro deste, levando em conta o comprometimento de sua renda com dívidas e sua percepção em relação a sua capacidade de pagamento.