Na avaliação do Banco Central (BC) a inflação subiu mais do que o esperado nos últimos meses, principalmente com a alta dos alimentos , mas a instituição ainda a percebe como um "choque temporário" nos preços. Por outro lado, foi elevada a previsão para inflação em 2020, pela primeira vez em sete meses, para mais de 3% (3,02%). A informação consta na Ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que manteve a taxa básica de juros em 2% e foi divulgada nesta terça-feira (3).
Na Ata, o Banco Central lista algumas razões para o recente aumento da inflação , com a continuidade da alta de preços de alimentos e bens industriais, elevação de preços das commodities e dos programas de transferência de renda, que estimularam o consumo. Com isso, o choque deve ser temporário, mas o Copom ressalta que monitora a situação "com atenção".
"Por um lado, a normalização parcial dos preços ainda deprimidos deve continuar, em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade. Por outro lado, espera-se a reversão na elevação extraordinária dos preços de alguns produtos, afetados por redução provisória na oferta em conjunção com um aumento ocasional na demanda".
No cenário analisado pelo Copom , também há uma retomada ecônomica desigual entre os setores da economia. Os mais afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos, como o de serviços, apesar de programas como o auxílio emergencial terem estimulado o consumo.
O setor de serviços, na análise do Comitê, deve continuar apresentando ociosidade maior do que os demais setores.
"O Comitê concluiu que a natureza da crise provavelmente implica que pressões desinflacionárias provenientes da redução de demanda podem ter duração maior do que em recessões anteriores".
Retomada
O Copom ainda avaliou que o cenário econômico do país apresenta incertezas sobre o ritmo da retomada, principalmente para 2021, com o fim dos programas de ajuda do governo, como o auxílio emergencial . Esse cenário traria uma retomada "ainda mais gradual" da economia.
"Prospectivamente, a pouca previsibilidade associada à evolução da pandemia e ao necessário ajuste dos gastos públicos a partir de 2021 aumenta a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica".
Além da incerteza doméstica, há imprevisibilidade no cenário externo, na visão do Comitê. A avaliação é que a forte retomada vista em alguns setores produtivos passa a sofrer "alguma desaceleração" devido a uma volta da pandemia em certos países. Além disso, há incerteza quanto à continuidade dos estímulos governamentais.
"A recente ressurgência da pandemia e o consequente aumento do afastamento social em algumas das principais economias podem interromper a recuperação da demanda. Uma possível redução abrupta e não organizada dos estímulos governamentais também adiciona risco à retomada econômica".