Dólar alto, consumo maior da China, recuperação na Europa e Ásia, quebra de safra, período de entressafra. Uma conjunção de fatores ruins fez aumentar os preços dos produtos mais consumidos da cesta básica no país. Em agosto, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (9), a i nflação teve alta de 0,24% puxada justamente pelos preços dos alimentos, além dos combustíveis .
Feijão, arroz , carne, leite, óleo de soja já subiram bastante, e mais altas são esperadas, já que os preços no atacado ainda estão subindo. Café e trigo, com efeito no pão francês, massas e biscoitos devem deixar o café da manhã mais caro ainda.
Segundo André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) responsável pelos índices de preços da instituição, um dos fatores mais preponderantes nessa alta é a valorização do dólar.
Em agosto do ano passado, o dólar valia R$ 4,02. Um ano depois, R$ 5,46, uma alta de 36%. Essa desvalorização do real fez com que os preços de produtos como soja, milho, carnes, que são cotados internacionalmente em dólar, subissem mais.
Além disso, tornou o produto brasileiro mais competitivo no mercado externo, fazendo a produção ser mais dirigida para o exterior desde o início da pandemia.
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"Com o dólar mais alto, as exportações brasileiras ganham competitividade. Maior exemplo é a carne. A China tem comprado todos os tipos de carne e aumentado a demanda internacional. Os preços em dólar também estão subindo. O mesmo aconteceu com a soja, o que aumenta o custo da pecuária que usa o farelo de soja e milho para ração", explica o economista.
Feijão carioca sobe 43,7%
No atacado, a soja já subiu 61% nos últimos 12 meses, o farelo de soja, 51%, e o óleo refinado, 52,8%. Além das carnes, o leite também sobe mais. Sofre os mesmos efeitos da alta da soja, que é usada para alimentar os animais, e ainda há entressafra, com as pastagens prejudicadas pelo tempo frio, o que também diminui a produção de leite, explica Braz.
Já o feijão carioca subiu 43,7% este ano no atacado. Quebra de safra explica a alta. Fornecido basicamente por agricultura familiar, safra menor explica a alta. Mas os preços já começam a cair. O IBGE mostrou que em julho ficou 6% mais barato para o consumidor.
O arroz segue a lógica do mercado internacional: preço subiu e as exportações ficaram mais vantajosas. O produto subiu 15,69% no ano até julho, mas no atacado, a saca vem subindo sistematicamente. Em agosto, subiu 39%.
O auxílio emergencial pago a mais de 60 milhões de pessoas foi outro amortecedor de preços dos alimentos, por manter e até aumentar o consumo, inclusive no início da pandemia.