Desde dezembro de 2019, quando o Banco Central ( BC ) anunciou uma queda na taxa Selic para 4,5% ao ano, a poupança rende menos e perde da inflação. Com os recentes cortes que fizeram a taxa chegar aos 2,25% ao ano, quem opta por guardar o dinheiro na caderneta de poupança pode estar perdendo mais dinheiro do que imagina.
De acordo com a economista, planejadora financeira CFP e professora de economia comportamental da ESPM
Paula Sauer, "a caderneta de poupança ainda é, de longe, o instrumento preferencial de investimentos de entrada no Brasil. Atualmente deixar suas economias na caderneta de poupança é perder dinheiro".
"Isso é especialmente cruel para a população de baixa renda, que muitas vezes iniciam uma poupança e depositam na caderneta seus planos futuros", afirma.
Caderneta antiga x Caderneta nova
"É preciso dizer que existem no país dois cálculos, um da caderneta antiga (para depósitos efetuados até maio de 2012) e outra modalidade para depósitos posteriores que são válidos até o momento", disse Sauer.
A professora explicou que "a primeira tem uma remuneração atraente, maior que a atual taxa Selic , contudo não permite depósitos. Desta forma, para qualquer novo depósito, vigora a nova regra que remunera ao investidor 70% da Selic após 30 dias sem movimentar o saldo".
"Na regra atual, a remuneração, que já não era atraente com as sequenciais quedas na taxa Selic , agora passa a ser proibitiva, já que é abaixo da taxa de inflação. Assim, deixar de consumir e guardar dinheiro na caderneta representa ter ao fim do investimento um valor que compra menos do que se comprava antes", argumentou Sauer .
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Exemplo prático
A professora inicia sua explicação dizendo: "por exemplo, se fosse feito um depósito de R$100,00 na caderneta de poupança no dia 26/07/2019 e um ano depois você retirasse, no dia 27/07/2020, seu saldo seria de R$ 103,18, uma rentabilidade de 3,18% no ano ou R$ 3,18, ao passo que a inflação neste mesmo período foi de 7,31%".
"Contudo, a conta não para por aí, se você descontar da rentabilidade da caderneta a inflação do período, ou seja, diminuir da rentabilidade a inflação, verá que deixou seu dinheiro parado e a rentabilidade líquida, descontada a inflação, foi negativa", ressaltou Sauer .
Simplificando
"De maneira simples, seu dinheiro guardado, um ano depois, compra menos do que comprava antes. De modo prático, os R$100,00 investidos em 2019, equivale a R$ 95,87 um ano depois. Esse é o grande problema da inflação. Utilizamos a inflação IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), por espelhar a inflação da cesta básica e reajuste de aluguel, despesas que impactam bastante as famílias de menor renda", explicou.
Consequências
"Isso é especialmente cruel para as populações com baixa instrução, já que muitos não tem noção de que isso acontece. Outras pessoas até desconfiam que não vale a pena “guardar” dinheiro na caderneta, mas não se sentem seguras para conversar sobre alternativas de investimentos
", afirmou a professora.
Paula Sauer finalizou a entrevista dizendo que: "Desta forma, aquela pessoa que tem vontade de guardar dinheiro e investir para a realização de um sonho, de um objetivo que precisa de um volume maior de dinheiro não se sente mais estimulada e acaba se voltando para o consumo, ou ainda, antecipa o consumo pagando parcelado e se prejudicando com uma taxa de juros muito maior".