Conhecimento especializado, certificações, inglês fluente, viagens ao exterior, podem ser importantes durante um processo seletivo .
Na avaliação do especialista em recrutamento e CEO da Trampos.co ,Tiago Yonamine, entretanto, não são as habilidades técnicas que farão os olhos de um recrutador brilharem durante uma entrevista de emprego, e sim, as características comportamentais do candidato.
"As skills (habilidades) técnicas são voláteis e não são mais determinantes em um processo seletivo. Ter curiosidade e engenhosidade - que é a capacidade de aprender - são mais importantes atualmente”, afirma Yonamine.
Para ele, essa mudança nos recursos humanos aconteceu em função das novas tecnologias e da transformação digital pela qual a maioria das empresas está passando.
“O RH se adapta às transformações do mercado de trabalho. Hoje mesmo as empresas dos setores mais conservadores estão adotando novos processos tecnológicos que mudam a dinâmica do trabalho”, explica o executivo.
30 perguntas 'inacreditáveis' feitas em entrevistas de emprego: como responder?
Ele ressalta que a automatização
está invadindo o mercado de trabalho, substituindo o trabalho repetitivo, e com isso, a criatividade ganha espaço.
“Aquele profissional com o perfil super técnico, que se especializou em uma ferramenta ou linguagem de programação única é menos procurado. A tendência é o profissional que conhece os fundamentos
mas tem curiosidade para aprender de acordo com as necessidades”, acrescenta.
Fale mais sobre você: o que dizer (ou não) durante uma entrevista de emprego
Entre as habilidades comportamentais que hoje estão sendo buscadas para atender essas mudanças no mercado de trabalho
, Tiago Yonamine aponta quatro que, na sua avaliação, são as mais valorizadas:
1. Resiliência e engenhosidade
Resiliência é o “espírito de fazer acontecer”. Candidatos com essa característica conseguem resolver problemas do dia a dia de forma mais criativa, sem focar na dificuldade.
2. Tendências colaborativas
Trabalhos em grupo são essenciais para que os candidatos encontrarem as melhores soluções . Por isso, quem não gosta ou não consegue trabalhar em grupo perde pontos em um processo seletivo.
Você viu?
3. Curiosidade
Candidatos interessados costumam, durante as entrevistas, fazer perguntas sobre a empresa, a vaga oferecida, os principais clientes, projetos, características das pessoas que fazem parte da organização. Esse perfil demonstra facilidade de aprendizado e vontade de encarar novos desafios.
4. Empatia
A inteligência emocional está em alta na lista de qualidades de um excelente profissional e profissionais empáticos, geralmente, contribuem para o ambiente corporativo. A característica pode ser observada na linguagem corporal, no entusiasmo do candidato em sua apresentação e no dia da entrevista, a forma de cumprimentar, a postura ao sentar, o contato visual e os gestos usados ao falar.
Como é na prática?
O recrutador da consultoria de e-commerce Maeztra, Marcio Cavalcante, adota nas entrevistas de emprego que conduz os mesmos fundamentos apresentados por Yonamine. “70% do nosso processo seletivo é baseado no comportamento. Buscamos conhecimentos técnicos mínimos e valorizamos os comportamentais”, afirma.
Entre as vantagens de selecionar candidatos com características como curiosidade, iniciativa e criatividade, Cavalcante cita um turnover (rotatividade de pessoal) muito baixo, um clima organizacional positivo
, e ótimos resultados dentro dos objetivos da empresa.
8 de março: mulheres relatam os desafios de conciliar trabalho e maternidade
Ele salienta, porém, que não adianta tentar simular um comportamento
irreal durante a entrevista. “Temos testes que já são feitos para levar o candidato a perguntar, tomar iniciativa, ou renegociar um prazo, e observamos como ele se comporta dentro desses desafios”, explica o recrutador.
Para o desenvolvedor de software José Augusto Gomes Macedo, o Guto, de 26 anos, que trabalha há cerca de três meses pela Maeztra, sua curiosidade foi o que garantiu sua contratação. “Um diferencial é que eu vou lá e aprendo , vou tentando até conseguir”, ensina.
Para Guto, o processo seletivo da Maeztra foi uma surpresa positiva . “Eu estava preocupado com as questões técnicas porque trabalhei muitos anos em casa, não sabia se me faltaria algum conhecimento. Quando percebi uma abordagem diferente , que levava em conta se eu gostava de esporte, se eu me interessava por leitura, me senti mais confiante”, relata.
"O Guto é uma pessoa que tem ótimos resultados com desenvolvimento de software e tem uma vivência que o tornou uma pessoa resiliente
e que exerce a empatia
”, avalia Cavalcante.
É possível treinar habilidades comportamentais?
Para Marcio Cavalcante, sim. “São características que, no fundo, todos nós temos. A curiosidade, por exemplo, existe sempre quando se trata de um tema pelo qual a pessoa tem paixão, por isso é importante buscar trabalhar com aquilo que gosta ”, explica o recrutador.
"Para desenvolver a empatia, é possível desenvolver um trabalho voluntário e para aumentar a capacidade de resolver problemas, a engenhosidade, o profissional pode buscar se expor a desafios novos , como participar de hackatons, onde novas soluções podem surgir”, aconselha.