Considerado um político liberal e um economista desenvolvimentista, Velloso participou de diversos governos
Wilson Dias/Agência Brasil
Considerado um político liberal e um economista desenvolvimentista, Velloso participou de diversos governos

O economista e ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso morreu de causas naturais, aos 87 anos, na manhã desta terça-feira (18), no Rio de Janeiro. Avesso a atividades políticas, Velloso nunca se candidatou a nenhum cargo público, mas comandou a pasta do Planejamento por dez anos, durante os governos de Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, tendo vivido o milagre econômico brasileiro (1968-1973) e a crise do petróleo (1973).

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Considerado um político liberal e um economista desenvolvimentista, Velloso participou direta e indiretamente de diversos governos. Foi assessor da presidência do Banco do Brasil nas gestões de Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, entre 1958 e 1961, e assessor do ministro da Fazenda Walter Moreira Salles durante o governo de João Goulart, em 1962. Em 1964, foi o responsável por fundar o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Antes de se tornar ministro, o economista ainda ajudou a criar a Fundação Brasileira de Inovação e Pesquisa (Finep) em 1967 e, nos dois anos seguintes, durante o governo de Artur da Costa e Silva, integrou o Conselho Federal de Educação (CFE) e o Conselho Na­cional de Pesquisas (CNPq). Em outubro de 1969, a convite de Médici e em substituição a Hélio Beltrão, Velloso assumiu o Ministério do Planejamento.

Vida de ministro

No primeiro ano de Velloso à frente do Planejamento, foi criado um fundo voltado à modernização industrial do País
Wilson Dias/Agência Brasil
No primeiro ano de Velloso à frente do Planejamento, foi criado um fundo voltado à modernização industrial do País

No primeiro ano de Velloso à frente do Planejamento, foi criado um fundo de 900 milhões de cruzeiros, oriundos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (atual BNDES), voltado à reorganização e modernização industrial do País. A pasta também ficou encarregada de coordenar a elaboração das diretrizes econômicas para os três anos seguintes – o chamado Programa de Metas e Bases para a Ação do Governo.

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O ministro seguiu no comando dos programas nacionais de desenvolvimento. Em 1972, o saldo de aplicações do Programa de Redistribuição de Terras e Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste (Proterra), por exemplo, alcançou 1,2 bilhão de cruzei­ros. Sob a gestão de Velloso, o Planejamento também organizou o primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND), que tinha como objetivo fortalecer a economia, criar empregos e reduzir a inflação .

O economista continuou no cargo após a posse de Geisel em 1974. Naquele ano, Velloso coordenou a elaboração do segundo PND, que dava ênfase à diminuição da dependência do Brasil às fontes externas de energia e priorizava o desenvolvimento das indústrias básicas. As posições defendidas por esse novo plano estimularam o debate sobre o papel dos capitais estrangeiro e estatal na economia brasileira – tema de muita polêmica até hoje.

No governo Geisel, as metas propostas pelo II PND se mostraram de difícil execução, uma vez que o padrão de crescimento econômico projetado para o período não foi alcançado. A ideia era sustentar altas taxas de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) e, ao mesmo tempo, reverter a disparada da inflação, o que não aconteceu. A crise do petróleo em 1973 acabou frustrando os planos de um País que tinha acabado de viver um milagre econômico.

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Anos depois, em seu livro "Último trem para Paris", Velloso fez uma autocrítica de sua gestão no Planejamento. No capítulo "A insustentável leveza do PND", o economista comenta o plano econômico implementado no governo Geisel, que levou o País a pisar no acelador quando o momento, em face da crise do petróleo, deveria ter sido de cautela. O ex-ministro, apesar de tudo, ainda defendia os dois governos militares dos quais participou durante a ditadura.

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