Após quatro meses de queda consecutiva, os juros do cartão de crédito na modalidade rotativo voltaram a subir em agosto. Segundo dados do Banco Central (BC) divulgado nesta quarta-feira (26), a taxa média, formada com base nos dados de consumidores adimplentes e inadimplentes, subiu 2,6 pontos percentuais em relação a julho e chegou a 274% ao ano.
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No caso do consumidor adimplente, que paga pelo menos o valor mínimo da fatura em dia, a taxa de juros do cartão de crédito chegou a 250,3% ao ano em agosto, com redução 1,8 ponto percentual em relação a julho. Já a taxa cobrada dos consumidores que não pagaram ou atrasaram o pagamento mínimo da fatura (rotativo não regular) subiu 6,1 pontos percentuais, indo para 291,3% ao ano.
O rotativo é o crédito tomado pelo consumidor quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão. O crédito rotativo dura 30 dias. Após esse prazo, as instituições financeiras parcelam a dívida.
Em abril, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu que clientes inadimplentes no rotativo do cartão de crédito passem a pagar a mesma taxa de juros dos consumidores regulares. Essa regra entrou em vigor em junho deste ano.
Mesmo assim, a taxa final cobrada de adimplentes e inadimplentes não será igual porque os bancos podem acrescentar à cobrança os juros pelo atraso e multa.
Juros do cartão de crédito "perdem" para cheque especial
Apesar do crescimento após quatro meses de queda consecutiva, a taxa de juros do cartão de crédito continua "perdendo", ou seja, abaixo, da taxa de juros do cheque especial , esta sim, a mais alta do mercado.
Ainda que tenha ficado estável em agosto quando comparada a julho, a taxa de juros do cheque especial permanece em 303,2% ao ano. Assim, continua a ser a menor taxa desde março de 2016, quando estava em 300,8% ao ano, e mesmo assim extremamente alta considerando que a taxa básica de juros, a Taxa Selic, definida pelo Banco Central está no menor patamar histórico e foi mantida pela quarta vez consecutiva na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 6,5%.
Da mesma forma que o cheque especial, porém, as regras do cheque especial mudaram em julho. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os clientes que utilizam mais de 15% do limite do cheque durante 30 dias consecutivos passaram a receber a oferta de um parcelamento, com taxa de juros menores que a do cheque especial definida pela instituição financeira.
Dessa forma, as taxas do cheque especial e do rotativo do cartão seguem sendo as mais caras entre as modalidades oferecidas pelos bancos. A do crédito pessoal, por exemplo, é mais baixa: 121,4% ao ano em agosto, mesmo com o aumento de 2,9 pontos percentuais em relação a julho. Já a taxa do crédito consignado (com desconto em folha de pagamento) recuou 0,4 ponto percentual, indo para 24,5% ao ano em agosto.
O Banco Central informou ainda que a taxa média de juros para as famílias caiu 0,2 ponto percentual para 51,8% ao ano em agosto e a taxa média das empresas também recuou 0,2 ponto percentual, atingindo 20,4% ao ano.
Inadimplência é "desculpa" para altas taxas de juros
A inadimplência , por sua vez, usada como argumento pelas instituições financeiras para reajustar as taxas de juros, que, no caso do cartão de crédito é calculada quando os atrasos ultrapassam 90 dias, ficou estável em 5% no cado das pessoas físicas. Já para pessoas jurídidcas, houve um recuo modesto de 0,1 ponto percentual para 3,3%.
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Esses dados, porém, são do crédito livre em que os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado. No caso do crédito direcionado (empréstimos com regras definidas pelo governo, destinados, basicamente, aos setores habitacional, rural e de infraestrutura) os juros para as pessoas físicas permaneceram em 7,8% ao ano.
A taxa cobrada das empresas subiu 0,2 ponto percentual para 9,4% ao ano. Nessa modalidade, a inadimplência das pessoas físicas segue em 1,9% e das empresas subiu 0,2 ponto percentual para 1,6%.
No geral, porém, levantamentos realizados tanto pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) quanto pela Serasa Experian indicam um aumento maior na inadimplência em agosto quando considerada todas as contas.
Segundo a CNDL/SPC Brasil, o País registrou um aumento na inadimplência de 3,63% em agosto de 2018 em comparação com o mesmo mês do ano passado. Já na comparação com o mês de julho imediatamente anterior, o levantamento indicou que houve uma queda de 0,71%. Ainda assim, para essas instituições existem 62,9 milhões de consumidores endividados no Brasil atualmente, o que corresponde a 41% da população adulta.
No levantamento da Serasa Experian, por sua vez, os números não são muito diferentes. Nos cálculos da instituição a taxa de inadimplência aumentou 1,82% em agosto de 2018 em relação a agosto de 2017 e caiu 0,16% em relação ao consolidado do mês de julho imediatamente anterior. De qualquer forma, para a Serasa Experian, 61,5 milhões de consumidores estão inadimplentes no País, o que também corresponderia a cerca de 40% da população adulta brasileira.
O interessante é notar que o aumento na inadimplência em agosto acontece ao mesmo tempo que o aumento no pagamento de dívidas. Também medido pela CNDL e pelo SPC Brasil, o volume de consumidores que conseguiram realizar o pagamento de dívidas em atraso cresceu 4,93% no mês de agosto no acumulado dos últimos 12 meses, o que representa a alta na recuperação de crédito mais expressiva desde setembro de 2015, quando o crescimento observado foi de 5,8%.
Na explicação da economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o aumento da recuperação de crédito no País tem sido neutralizado pelo ingresso de novos devedores ao longo dos últimos meses, razão pela qual o contingente de consumidores inadimplentes segue elevado em todo o Brasil.
“Esse contingente [de inadimplentes] continua alto porque os efeitos da crise ainda estão presente no dia a dia das famílias, sendo o desemprego o mais crítico. À medida que a recuperação econômica ganhar força, espera-se que o total de negativados caia, com a redução de novos entrantes e o aumento da recuperação”, explicou a economista.
Dessa forma, voltando aos dados divulgados pelo Banco Central, em agosto, o estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos ficou em R$ 3,155 trilhões, com aumento de 1% no mês de agosto e de 2,1% no ano. Em 12 meses, a expansão chegou a 3,4%.
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Esse estoque do crédito corresponde a 46,7% de tudo o que o país produz – Produto Interno Bruto (PIB) - com aumento de 0,2 ponto percentual em relação a julho e também contribui para que a taxa de juros do cartão de crédito e do cheque especial continuem altas já que a demanda por crédito seguem em expansão.
*Com informações da Agência Brasil, CNDL/SPC Brasil e Serasa Experian