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Apesar de ter sido regulamentada pela Lei 10.101/2000, a Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) é um benefício que ainda gera muita rejeição por parte de empresas pelo fato de muitos empresários acreditarem que o repasse trará reflexos negativos em seus ganhos finais. No entanto, muitos analistas acreditam que esta forma de ganho para os trabalhadores pode trazer mais benefícios para as companhias.

Pagamento da Participação nos Lucros ou Resultados (PLR)  pode ser feito semestral ou anualmente
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Pagamento da Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) pode ser feito semestral ou anualmente

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Para o consultor em recursos humanos e diretor-executivo da Bazz Estratégia e Operação de RH, Celso Bazzola, a Participação nos Lucros ou Resultados resulta em ganhos de produtividade e de motivação no ambiente de trabalho, tornando estes pagamentos vantajosos para os empresários. Para entender melhor sobre a PLR, confira uma lista com as principais dúvidas respondidas por Bazzola:

O que é PLR?

A PLR é um modelo de remuneração que tem o objetivo de alinhar estratégias de uma empresa com os anseios dos colaboradores. O pagamento é feito após metas pré-estabelecidas serem atingidas. A ideia é fazer com que os resultados obtidos pela organização passe a ser de interesse a todos os envolvidos no processo, em uma relação de "ganha-ganha", como explica Bazzola.

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Prevista desde a Constituição de 1946, a Lei 10.101/2000 ampara este modelo de pagamento e não estabelece incidências de encargos trabalhistas. Para o especialista, este detalhe é o "que transforma essa opção atrativa, pois, além de direcionar as equipes ao resultado, seu custo tem menores impactos para empresa".

Como a PLR é calculada?

Existe uma série de metodologias usadas para calcular o benefício. Por isso, é importante que a empresa deixe claro como a divisão dos pagamentos será realizada. A definição prévia dessa informação é um direito garantido por lei, existindo até mesmo um órgão responsável por esse tipo de fiscalização (Delegacia Regional do Trabalho). A PLR pode ser paga semestral ou anualmente, sendo o último modelo o mais usado pelas empresas.

O pagamento em uma parcela costuma ser feito entre os meses de janeiro e março. Como o próprio nome diz, o calculo pode ser feito a partir dos lucros ou dos resultados da empresa. Esta definição deve seguir o que for acordado entre empregador e sindicato.

Divisão deve ser igualitária ou proporcional aos salários?

A implantação da política de Participação nos Lucros ou Resultados deve seguir alguns preceitos legais, como se desenvolver por meio da representação dos colaboradores em um comitê, estabelecer metas atingíveis e claras para todos e criar indicadores mensuráveis. Segundo o consultor, o planejamento deve atender tanto aos interesses dos colaboradores quanto da empresa.

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"A divisão deverá ser justa, porém refletir de forma clara e consistente os resultados atingidos por meio de indicadores corporativos e departamentais", explica. O PLR pode ser desenvolvido com base no salário nominal ou em um orçamento predefinido. É importante lembrar que a metodologia deve ser igualitária, mas o valor pago nem sempre será o mesmo, já que os resultados por departamentos e individuais podem variar.

Definição de metas por área ou metas individuais?

O consultor acredita ser fundamental estabelecer metas por departamentos e individuais dentro da organização e sugere um modelo de acordo com os colaboradores. Nas metas por área, a equipe deve ser avaliada e remunerada pelo resultado em equipe, valendo o resultado geral do setor.

No caso dos objetivos individuais, a avaliação e a remuneração pode ser feita de acordo com a participação do colaborador com qualidade no processo e na execução das tarefas. Bazzola também lembra que devem existir indicadores coporativos que possam esclarecer o objetivo dos gestores da empresa em relação a todos os resultados.

Quais os impactos que ele proporciona nas empresas?

Para o consultor, a PLR propicia aos colaboradores o sentimento de fazer parte dos resultados da empresa e, consequentemente, obter um aumento em seus ganhos. Bazzola lembra que outra mudanças importantes é a possibilidade da empresa elevar seus resultados e manter seus custos fixos controlados, já que o modelo é pago somente quando os objetivos são alcançados.

O modelo pode contribuir para a criação de um espírito de equipe em torno dos objetivos estabelecidos, além da melhora da qualidade do ambiente organizacional, pois, segundo o especialista, os colaboradores se sentem mais valorizados.

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Resistência  em relação a pequenas e médias empresas

Segundo Bazzola, a rejeição em organizações de pequeno e médio porte pode ser explicada por conta dois motivos principais. Um deles é o desconhecimento da lei e de metodologias que revelam o quanto este modelo pode alavancar o negócios. O outro é a sensação de insegurança presente em muitos locais por conta de dificuldades nas negociações com sindicatos, já que o PLR só tem validade com a homologação junto a orgãos representativos. "Em minhas experiências com projetos de implantação de sistemas de PLR, posso afirmar que alguns sindicatos tem sido receptivos e participativos nas negociações", explica o consultor.

Muitos empresários resistem ao repasse de lucros. Esse pensamento é errado?

"Sim, e isso ocorre por uma limitação de visão dos empresários", opina Bazzola. Segundo ele, isso acontece pois muitos entendem que esta remuneração se tornará uma despesa sem retorno, "o que é um equivoco, pois todos os pagamentos são atrelados a metas estabelecidas, que devem ter o foco no retorno econômico da empresa".

O consultor afirma ainda que uma das questões que também bloqueiam a implantação deste modelo em muitos momentos é a imposição sindical incompatível com a realidade econômica da empresa e seu mercado, embora esta visão venha mudando nos últimos anos por parte das empresas e sindicatos.

Quais os principais erros cometidos em relação à PLR?

O especialista lembra de alguns erros cometidos com frequência pelas empresas. Um deles é desenvolver metas que não sejam mensuráveis ou atingíveis. Em algumas situações, os empresários também estabelecem objetivos que não reflitam de fato no resultado final da empresa. Bazzola também lembra que a ideia de participação também deve estar presente no desenvolvimento e na aprovação do sistema, já que muitas empresas deixam os funcionários de fora desta etapa.

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O especialista também recomenda evitar projeções de resultados, com o estabelecimento de valores superiores ao possível de ser cumprido. Por fim, após chegar a um acordo com os colaboradores sobre a Participação nos Lucros e Resultados, a empresa deve se certificar que o acordo foi homologado no sindicato representativo.

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