A Confederação Nacional do Comércio informou no início do mês que, com a a alta média de 13,6% nos preços dos produtos, a Páscoa de 2016 deve ser a mais cara dos últimos 13 anos. Entre os itens que tiveram maiores aumentos, e puxando a alta dos preços, estão os chocolates, que ficaram 13,3% mais caros. Além disso, uma pesquisa realizada pelo Procon-SP entre os dias 29 de fevereiro e 2 de março mostrou que frente a 2015, alta nos preços dos ovos de Páscoa foi de 30,75%, em média. A questão é: os consumidores não estão dispostos a pagar essa diferença.
O iG consultou o consultor financeiro e professor da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Kanter, e a coordenadora acadêmica da Academia de Varejo, Patricia Cotti, sobre quais alternativas o consumidor pode adotar para que as compras de Páscoa deste ano não pesem tanto no bolso. Veja algumas delas:
Aposte nos atacadões
Faça as compras nos grandes mercados que vendem no atacado. Eles vendem ovos de Páscoa a preços promocionais e sempre colocam produtos em oferta. "Aproveite para fazer as compras com familiares e amigos, assim vocês podem comprar caixas de ovos e dividir entre todos". Assim, todo mundo ganha ovo e todo mundo paga menos.
Abra mão da quantidade
Abrir mão da quantidade é uma das opções para gastar menos. "Você não precisa deixar de comprar o ovo que você gosta, mas pode comprar um ovo menor. Ao invés de comprar um ovo número 20, compre um ovo úmero 15", aconselha Roberto.
Faça as compras após a Páscoa
Outra dica é comprar os ovos depois da Páscoa para aproveitar a queda dos preços. "O que você pode fazer é dar um vale Páscoa para a pessoa que você quer presentear. Depois da data você compra o ovo que gostaria de dar àquela pessoa 20% mais em conta. É uma saída que pode ser adotada entre amigos e pessoas com quem você tem uma relação mais informal".
Faça você mesmo
Aproveitando a onda dos ovos artesanais que sempre são tendência, use a criatividade e produza seus próprios ovos."É possível comprar forminhas de ovos de Páscoa a preços muito baixos, encontrar dicas em barras de chocolate e pesquisar receitas na internet". Além de produzir para presentear, você pode vender parte da produção e ganhar dinheiro!
Substitua
Sempre existe a opção de substituir os ovos de Páscoa por outros produtos, como barras e caixas de chocolate, pães de mel, trufas e bombons. Pessoas com quem você tem relacionamentos mais íntimos não vão se importar em receber uma lembrança em vez do ovo.
Pesquise preços
Bater perna para descobrir onde estão as melhores ofertas é um conselho válido também durante a Páscoa. Cada varejo tem seu preço, então você pode encontrar o mesmo produto sendo vendido a preços diferentes em dois ou mais lugares. Um levantamento feito pelo Procon-SP mostrou que o preço dos ovos de Páscoa podem variar em até 125,48% de um estabelecimento para o outro. Nos preços dos bombons, a maior diferença encontrada foi de 158,43%, nos bolos de Páscoa, de 93,11%, e nas barras de chocolate, de 51,74%.
Atenção às táticas do mercado
Com o varejo em crise, as empresas estão se valendo de algumas estratégias para vender seus produtos. Uma delas está relacionada às campanhas. "Elas são lançadas com semanas de antecedência para gerar mais tempo de convencimento do consumidor e mais tempo de compra", indica Cotti.
As principais marcas também reorgnizaram seus portfólios, lançando ovinhos recheados de 95 gramas e ovos de Páscoa menores (no ano passado, a média de tamanho dos ovos de páscoa era de 400 gramas, este ano é de 250), ou concentrarando sua produção em ovos pequenos de 100 a 270 gramas. Elas também aumentaram a quantidade de produtos voltados para o p´´ublico infantil, apostaram em novos produtos licenciados, de formatos diferentes, e mais saudáveis (como os ovos com chia e colágeno) a preços acessíveis (de R$ 16,90 a R$ 29,00).
Algumas estratégias também têm sido exploradas pelos varejistas. Para estimular o consumo, eles tem adotado desde promoções no estilo "Leve 3, Pague 2" até o parcelamento em até 6x das compras feitas nos cartões das respectivas redes.
"Fazer mais com menos"
O aumento do dólar e de componentes da cadeia de produção, como açúcar, combustível e armazenagem explicam o reajuste dos preços dos ovos de Páscoa. Diante de todas essas complicações, os fabricantes optaram por "fazer mais com menos", produzir com maior produtividade e menos tempo e mais automação para ter um custo menor e lançar ovos com valores de menos reajuste possível, explica o vice-presidente da Abicab, Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados
Além disso, houve adaptação nas embalagens e mudança nos licenciamentos dos produtos. "Os fabricantes procuraram negociar licenças mais baratas e personagens mais econômicos, no caso dos ovos voltados para o público infanto-juvenil, porque isso tem um grande custo para o produtor".
Gourmetização
A contrário de quem vai procurar ovos e produtos mais baratos, há uma parcela dos consumidores que vai aderir a uma tendência que tem ganhado força nas Páscoas dos últimos anos: a gourmetização.
"Percebemos que o processo de gourmetização foi um sucesso no ano passado, apesar da crise. As vendas de produtos gourmetizados cresceram mais que as vendas de produtos tradicionais. Algumas pessoas buscam produtos premium, como ovos trufados e ovos de colher", conta Patricia Cotti.
Mas como pode haver espaço para o mercado gourmet em um momento de instabilidade econômica, alta taxa de desemprego e queda na renda média do brasileiro?
"Vivemos uma crise, em princípio, de confiança causada por insegurança política em relação ao rumo do país. O consumidor até tem dinheiro, mas deixa de comprar com medo do futuro. Entretanto, sempre há pessoas que estão dispostas a gastar um pouquinho mais, seja para presentear alguém de quem elas gostem muito ou com quem têm que marcar presença, seja para disfrutar de um momento de indulgência consigo mesma. Esse comportamento tem muito a ver com a nova geração, que não viveu grandes momentos de crise", explica Cotti.
Essa realidade de fato existe, mas nem ela, nem os esforços de fabricantes e varejistas, devem ser suficientes para impedir o recuo desse mercado. A Páscoa de 2016 deve ser menor. A Confederação Nacional do Comércio projeta uma queda de 3,4% das vendas em relação a 2015, e isso inclui a venda de ovos de Páscoa. E o comportamento dos consumidores só confirmam essa previsão.
A cozinha da autônoma Vanessa Souza Rafaelli está cheia de formas de ovo de Páscoa. Ela mesma vai produzir os ovos com os quais vai presentear cinco familiares, entre filhos e sobrinhos. E essa decisão não foi tomada apenas porque ela acha os ovos caseiros mais saborosos.
“O que você paga na barra de chocolate de um quilo que custa hoje R$ 30,00, você faz dois ovos de meio quilo cada ou quatro ovos de 250 gramas. Digamos que eu pague R$ 50 em cada ovo industrializado. Em cinco ovos, eu gastaria R$ 250. Seu eu for fazer esses ovos, eu economizo uns R$ 150,00 tranquilamente. Com R$ 100,00 faço mais que cinco ovos, todos recheados, incluindo leite condensado para rechear, e embalagem”
A secretária Gláucia Estevam Cabral também não vai comprar ovos de Páscoa esse ano, mas vai procurar alternativas no próprio varejo para presentear a mãe e mais cinco crianças.
“O valor que eu vou gastar com um ovo de Páscoa eu posso comprar barra de chocolate e fazer meus próprios bombons, ou mesmo comprar caixas de chocolate. Este ano, eu decidi substituir os ovos de Páscoa por um produto que não pese tanto no bolso, as caixas de chocolate. Uma caixa de bombom não custa nem R$ 10,00. Um ovo de Páscoa custa entre R$50 e R$60. Já é uma economia e tanto. Já foi a época que eu conseguia comprar dois ovos com R$50 e ainda sobrava uns trocadinhos”.