Werner Roger
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Werner Roger

Nossa vida é longa, mas o curto prazo nos assedia continuamente. Preocupações quanto à agenda para a próxima semana, sobre o destino para as férias, entre tantas outras. Nesse escaninho também caem os nossos investimentos: “O que está rendendo mais neste momento – juros? Ótimo, vou aproveitar”. As versões para justificar o olhar voltado ao imediato à nossa frente são tantas que não caberiam aqui.

Quem pensa em investir em ações não raro quer ganhar muito e rápido. Chamamos isso de “colocar no bolso” o lucro assim que este se materializar. A renda fixa é o oposto disso. Ninguém vai ter ganhos extraordinários e rápidos com ela, nem vai ficar rico, se este for o
objetivo. No máximo, a pessoa vai repor a inflação, talvez veja algum ganho real – mas os dentes do leão já levam uma boa parte.

No livro “Investindo em Ações no Longo Prazo”, de Jeremy J. Siegel, o autor estuda o retorno das ações nos EUA desde 1802 em diversos índices e em vários intervalos – curtos, longos (210 anos), intercalares, enfim, todo tipo de análise possível. A conclusão a que chega é que, em média, investimentos em ações proporcionam retorno anual médio de 6,6% acima da inflação; cerca de duas vezes o crescimento do PIB; e três pontos percentuais acima dos títulos do Tesouro dos EUA, com rendimento anual médio de 3,6%.

Outro fato interessante do estudo: dividendos são a maior fonte desses retornos, quando reinvestidos nas próprias ações. Quem nos acompanha sabe que acreditamos no princípio do reinvestimento. Para que fique claro ao leitor: 6,6% de ganho anual sobre a inflação em 25 anos representam uma multiplicação do capital investido em 4,8 vezes em termos reais. Ou seja: US$ 100 mil investidos seriam transformados em US$ 483 mil, já descontada a inflação.

Ainda segundo os estudos de Siegel, entre 1871 e 2012 o retorno anual das ações acima da inflação foi de 6,48% (quase o mesmo entre 1802-2012), decomponível em: 4,4% de rendimentos dos dividendos; e 1,99% de ganho de capital – com distribuição de 61,3% dos lucros em dividendos. Ou seja: quase 68% do retorno dos investimentos em ações foi proporcionado por dividendos e 32% pela simples valorização delas.

O número é muito próximo da relação de 66%-34% obtida num estudo do Morgan Stanley para o mundo num prazo de 20 anos. Partindo da alta do mercado em 1929, logo antes do “crash”, e indo até 1940, Siegel encontrou um retorno anual de 5,69%; os dividendos contribuíram com 3,85% e o ganho de capital com 2,09% (ou 65% de contribuição via
dividendos).

Em momentos como o atual, onde a bolsa brasileira apresentou queda enquanto as empresas seguiram anunciando resultados recordes, quanto mais barato o P/L, maior tende a ser o dividend yield. Este é o maior amigo que o investidor pode ter em um cenário conturbado. Quanto mais “barata” a bolsa, maior o yield. Quando os lucros crescem, o yield (dividendos sobre o preço da ação) seguem juntos.


Chamamos a atenção para o poder dos dividendos, o motor principal dos retornos de longo prazo em bolsa. Eles minimizam o sobe e desce do mercado, garantem uma renda e crescem junto com os resultados das empresas, sendo uma verdadeira proteção contra a inflação.

Selecionar as melhores empresas, com boas perspectivas de pagamento de dividendos e retorno acima do esperado é uma tarefa que exige estudo e análise. E ainda que existam méritos na tentativa individual de investir em bolsa, a eficácia de equipes profissionais e 100% dedicadas a esse propósito apoiará o brasileiro na construção de um patrimônio que resista à temida inflação.

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