Werner Roger, colunista do iG
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Werner Roger, colunista do iG

Após um ano de ausência de nosso escritório, tive de fazer uma breve visita para “limpar” minha mesa de trabalho para uma pequena reforma.

Incrível, encontrei na mesa documentos relacionados as assembleias gerais ordinárias de abril de 2020 das empresas que investimos, recortes de jornais, uma infinidade de papéis e alguns blocos de anotações das visitas, reuniões e conferências com empresas.

Levei vários papéis e esses blocos para casa para rever minhas anotações passadas, um excelente exercício para lembrar o que as empresas relatavam há tempos passados e o que aconteceu.

Tenho ainda dezenas destes cadernos e blocos, interessantíssimos.

Já em casa, uma semana depois, no feriado de Páscoa, resolvi guardar, e antes disso, por curiosidade olhar tais blocos e o que continham, especialmente anotações de reuniões.

Um desses blocos era da Cristal Pigmentos (atual Tronox Pigmentos), e imaginei que continha anotações de visita a sua sede e fábrica na Bahia.

Curioso, abri o bloquinho, aqueles de tipo brinde e, surpreso, descobri que não continha as anotações da reunião, que devem ter sido feitas num caderno grande, com linhas, tipo universitário, que sempre usei e ainda uso.

O bloquinho não era pautado e era realmente pequeno.

Ao ver seu conteúdo, curiosidade aguçada, imediatamente abri um outro, da Universidade de Columbia, que também encontrei sobre a mesa no escritório.

Ganhei esse bloco quando participei de um curso de Value Invest da universidade em dezembro de 2013 (ótima época para estar em Nova Iorque), muito procurado por brasileiros.

Eu me lembro bem do fato de o professor da aula introdutória dizer as nacionalidades dos participantes, 55, uma torre de babel, tamanha diversidade, mas após os americanos com cerca de um quarto do total, nós brazucas estávamos representados por 12 indivíduos, alguns que eu já conhecia do nosso mundo de gestores e analistas de investimentos.

O programa incluía estudos de seis casos de investimentos, Nestlé, Amazon, Walmart e Magna (autopeças), Hudson General (serviços aeroportuários) e Ferrovial (concessionária de aeroportos, rodovias e construtora de infraestrutura).

Pois bem, é sobre esses achados que vou relatar a seguir após decifrar minha péssima caligrafia, que no passado, pobres secretárias copiavam meus relatórios de crédito em suas IBMs ou Remingtons, para que os aprovadores de crédito pudessem ler minhas análises e recomendações.

Isso entre 1983 e 1987, quando na época o Chase passou a usar computadores.

As secretárias substituíram suas máquinas de datilografia pelo computador mainframe do banco, que tinha um grande processador IBM e os funcionários usavam teclados e monitores, aqueles verdes monocromáticos.

Alguém se lembra disso?

Pois bem, retornando ao tema, transcrevi a seguir, meus escritos e anotações que encontrei nos dois blocos.

No primeiro, reuni alguns fragmentos de pensamentos que escrevi no avião no voo de volta para São Paulo, saindo da Boa Terra (de Salvador) e talvez inspirado pelos Orixás.

Na segunda parte, algumas anotações do bloquinho da universidade de Columbia.

Voo de Salvador para São Paulo, data desconhecida.

Curiosamente, cada página do bloco da Cristal, no topo está o nome Cristal e ao lado seu logotipo que talvez, subliminarmente influenciou a primeira frase, que irei reportar na mesma sequência do bloquinho e com as mesmas palavras, me desculpem a gramática, pois o escrito era para uso próprio e sem corretivos dos computadores:

  • Ser cristalino sobre os meus princípios e cercar-se de pessoas que compartilhem;
  • Para ser bem-sucedido na bolsa, ser um pensador independente, apostar contra o consenso e acertar;
  • Preços refletem expectativas, e estas são influenciadas por experiências recentes;
  • Tudo tem causa e efeito, e temos que entender este padrão e se antecipar;
  • Todos os investidores e métodos passam por maus momentos. A perda da confiança é um erro tão grande quanto o excesso;
  • Na maioria das pessoas, o emocional predomina sobre o racional, o que leva a tomada de decisões ruins na depressão e na euforia;
  • Comprar ações é uma combinação de arte e ciência;
  • Não confunda convicção com teimosia, paciência com paralisia;
  • Paciência é irmã da sabedoria, pressa é irmã do arrependimento;
  • Colocar privilégio acima dos princípios levará a perda de ambos;
  • Se quiser ganhar dinheiro na bolsa, fuja do consenso;
  • Quem diversifica muito, não sabe onde investir;
  • Investir em small caps é como garimpar. Procurar antes da manada chegar.

A seguir, as anotações do bloquinho da Columbia:

  • Stress de mercado. Rever suas posições. Se os fundamentos não se alteraram, reforçar as posições;
  • Compor um portfólio com até 15 empresas, 3 a 4 setores, relativamente diversificados;
  • Por que o mercado está vendendo? Busca de liquidez? Se não precisa, aproveite para comprar;
  • Escrever porque comprou e os fundamentos que embasaram a compra. Disciplina;
  • Listar os catalisadores para unlock value (destravar valor). Verificar periodicamente se foram efetivados;
  • Risco interno – valuation, externo – mercado;
  • Valor dos ativos e do fluxo de caixa devem convergir no longo prazo;
  • Qual o valor dos ativos e quando ele pode gerar de caixa no futuro?

Observação atual: esse é um dos grandes princípios ensinados no curso. A capacidade do ativo gerar valor, ou o princípio do retorno sobre ativos, em inglês a sigla ROA – return on assets, uma das pernas do EVA, faltando comparar com o custo do capital empregado.

  • Retorno dos ativos e intangíveis determinará o preço das ações;
  • O mercado olha o passado e extrapola o futuro. Crescimento e lucros superdimensionados, lucros também;
  • Cash not for market timing, but for opportunities. Tradução: o caixa não é para market timing (antecipar o mercado), mas para oportunidades;
  • Mercado competitivo estabelece preços. Empresa só pode controlar seus custos e isso determina a rentabilidade;
  • No longo prazo, inovação e tecnologia revertem para o consumidor se não houver barreiras de entrada;
  • A rentabilidade é determinada pelas barreiras de entrada.

Observação atual: essas três anotações seguem os ensinamentos de Michael Porter (professor em Harvard) sobre as cinco forças de mercado, que seguimos em nosso processo de investimentos na Trigono.

Creio que o conjunto de pensamentos e anotações do curso em Columbia possa ser interessante a todos que fazem investimentos, especialmente em bolsa de valores e, pessoalmente, ainda que o tempo tenha passado, concordo com tudo que escrevi.

A atividade de investidor e gestor de fundos cada vez mais vai reforçando o que pensava e que escrevi para mim mesmo no passado e que gostaria de compartilhar com todos os nossos leitores e eventuais investidores.

Espero que essa leitura tenha sido interessante e útil.

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