A condução da política monetária é desafiadora, para dizer o mínimo. Não é à toa que a entidade monetária não baixa os juros de uma vez . Além disso, a compreensão acerca do término do ciclo de queda dos juros é impactada pela dificuldade em estabelecer qual seria o nível natural para a Selic. E não bastasse isso, temos incertezas sobre a sustentabilidade fiscal e sobre os desdobramentos (des)inflacionários do ambiente internacional.
É nesse mar turbulento que a entidade monetária tem navegado e há quem diga que o compromisso com a queda dos juros tenha se alterado. Não consigo compartilhar desse diagnóstico. Ao meu ver, a política monetária tem sido conduzida da mesma forma. Se as condições se alteram, a política econômica também se altera, isso está no básico de qualquer manual de macroeconomia. Não há uma única escolha de política econômica que sirva para todos os países a todo momento do tempo. E é isso que o Banco Central do Brasil tem deixado claro.
Questões geopolíticas e de possível reflação nos EUA, que fariam com que a taxa de juros norte-americana ficasse alta por mais tempo, atraindo capital financeiro e, com isso, depreciando moedas como o real brasileiro, poderiam alterar o nível final da taxa de juros no atual ciclo monetário ou, alternativamente, alterar a extensão do ciclo. Se nos EUA houve a estratégia de “esperar para ver”, por que o banco central brasileiro não pode fazer o mesmo?
O importante é comunicar claramente. Um diagnóstico claro associado à uma prescrição de política monetária condizente com o mesmo é muito mais importante do que compromissos cegos de manter um curso se as condições se alterarem. O banco central não vai deixar de olhar para os dados. Nem deveria.