Um dos pilares nos quais as melhoras de bem-estar social estão apoiadas é o crescimento econômico. Por crescimento econômico, refiro-me aqui à capacidade de produzir bens e serviços. Seja por identidade contábil ou lógica econômica, uma maior produção está associada à uma maior geração de renda (e também à um maior dispêndio). Portanto, não é de se espantar que muitos analistas e gestores de política econômica acompanhem de perto a atividade econômica para saber como o país se sairá nessa esfera tanto no curto, quanto no longo prazo.
Cada país tem uma experiência muito particular de crescimento econômico, mas alguns padrões ajudam a entender porque existem economias com dificuldades crônicas para aumentar a produção ao longo do tempo, ao passo que existem registros de crescimento sustentadamente alto por décadas para alguns poucos. Nesses casos, há quem batize o evento de “milagre” econômico. O Brasil supostamente teve o seu, assim como Hong Kong, a Coreia do Sul, Singapura e Taiwan.
Para se ter uma ideia, com base nos dados da Penn World Table 10.01, repositório que é resultado de um grande esforço de pesquisadores em produzir estatísticas comparáveis entre países, as taxas de crescimento médio anual do PIB per capita dos países relacionados no parágrafo anterior, entre 1960 e 1990, ajustadas pelas diferenças nos custos de vida, foram: Hong Kong (6,02%), Coreia do Sul (8,62%), Singapura (8,4%) e Taiwan (7,71%). Isso durante trinta anos!
Como eles fizeram isso?
Se a resposta fosse “não sei”, teríamos a condição necessária para um milagre: ser inexplicável. Mas a experiência dos países asiáticos está muito longe disso. Aliás, em grande medida, ela é bem aderente às teorias mais “mainstream” de crescimento econômico.
Existem, fundamentalmente, duas formas de uma economia crescer (além, claro, de uma terceira que surge como uma combinação das duas primeiras): “fazer mais com mais” e “fazer mais com menos”. Qual foi o caso desses países?
Curiosamente, os mecanismos de crescimento econômico nos quatro casos são muito semelhantes, em que pesem as especificidades microeconômicas de cada país. Pensando na esfera do “fazer mais com mais”, vemos que a participação do aumento do capital físico (máquinas, equipamentos e estruturas, por exemplo) foi, em média, próxima de 38%. Ou seja, esse é o percentual do crescimento econômico médio decorrente do acúmulo de capital. Já a parte proveniente do aumento da força de trabalho foi de 32%, em média. Sendo assim, já conseguimos explicar 70% do que sustentou o crescimento econômico desses países durante aqueles trinta anos.
E o resto?
Uma parcela se dá pelo que chamamos de capital humano (afinal, o desenvolvimento econômico sempre passa pela educação ), sendo que a fatia mais significativa desses 30% restantes se dá pelos aumentos de produtividade. Obviamente, há interação entre todos esses fatores, mas esses exercícios (que chamamos de “contabilidade de crescimento”) são importantes para compreendermos os processos de desenvolvimento de longo prazo. Embora esses países tenham acumulado bastante capital e recrutado cada vez mais trabalhadores na produção, não deixaram de qualificar a mão de obrar e encontrar práticas cada vez mais eficientes para utilizar os recursos disponíveis. Ou seja, dificilmente uma economia consegue sustentar essas taxas de crescimento econômico sem adentrar na esfera do “fazer mais com menos”. E aí falamos da importância da pesquisa e desenvolvimento, da inovação.
Em suma, existem então milagres no crescimento econômico? Não. O que existe é trabalho duro, qualificado e produtivo. Portanto, qualquer desenho de política econômica, política pública, política industrial, tem que levar em conta quais vetores do crescimento econômico vai afetar e desenhar e avaliar corretamente se a estrutura de incentivos está alinhada com a alocação de recursos na direção das complexas demandas dos países no século 21. Precisamos compreender as experiências do passado para evitarmos erros antigos, dando espaço para que os novos erros sejam corrigidos tempestivamente e não sigamos insistindo no que não deu certo. Para se desenvolver, portanto, é preciso encontrar uma forma sustentável, responsável e inclusiva de crescer. Há muitas lições interessantes nessas experiências de crescimento econômico cujo vigor não caiu do céu. O Brasil ainda tem muito o que aprender nessa esfera.